Tudo muito bem, já vimos as fotos, mas como resulta ao vivo? Posso dizer que ainda melhor… a postura deste Vantage promete: parece um felino pronto a atacar a presa desprevenida.
Os flancos são de dimensões muito generosas, o que lhe acentua as dimensões e albergam uns generosos Pirelli P-Zero, bastante necessários, diga-se de passagem.
O motor, um V8 de conceção AMG-Mercedes, foi extensivamente adaptado à filosofia Aston. Os coletores, tanto de admissão como os de escape, são diferentes, bem como a cartografia do motor.
O resultado é muito eloquente. Este Aston tem uma voz e um temperamento completamente identificados com a marca. Devia servir de cartilha para como deve soar um V8 atual! Grave e tranquilo a regimes baixos, deixando antever, um bocadinho…só um bocadinho, o que se vai passar a seguir. Este propulsor transfigura-se a velocidades mais elevadas, com um ruído a fazer jus à estética exterior.
O felino passou ao modo de ataque…é quase bipolar, mas no bom sentido!O facto de ser turbocomprimido confere-lhe uma elasticidade e uma veemência muito peculiar. Ao mínimo toque de acelerador, o Vantage salta para a frente, independentemente da relação, sem tempos de espera ou hesitações. Logo aqui nota-se a diferença de conceito em relação ao DB11: enquanto neste é quase impossível ver os turbocompressores, o Vantage exibe-os como um troféu, no centro do V…é o que salta logo à vista, quando se abre o capot.
A arquitetura deste V8 inverte o layout normal para este tipo de motores: a admissão está no exterior, permitindo a montagem dos compressores nesta posição, e no processo, permite a construção de um motor muito compacto. Como estão muito próximos das cabeças, os tempos de reação são minimizados ou eliminados.
O exterior é um sem-fim de curvas harmoniosas, mas que têm uma função muito definida.
O capot dianteiro engloba o topo dos guarda-lamas dianteiros o que permite não ter as normais linhas de fecho. Este facto acentua favoravelmente a perceção de largura que o Vantage transmite, parecendo mais largo do que o que realmente é.
O downforce (60Kg) é gerado exclusivamente pelo extrator, de dimensões muito generosas, na zona inferior. Funciona lindamente, diga-se! Os restantes detalhes, na zona frontal, seguem a escola do DB11, já explicado aqui (ver DB11).
Outro ponto que mereceu especial atenção dos engenheiros da Aston Martin, foi a colocação do motor. Além das modificações referidas, o cárter foi rebaixado e alargado, permitindo assim uma colocação extremamente baixa. Está também muito recuado, em posição central-dianteira, ocupando inclusive algum espaço no habitáculo, por detrás do tablier. Isto confere ao Vantage uma repartição de pesos de 49%-51% entre o eixo dianteiro e traseiro.
Com estes predicados, este novo Aston é um portento na estrada. Equilíbrio e competência, até exacerbada. A direção, com um bom grau de assistência e bom feedback, aliadas ao excelente equilíbrio do chassis, tornam as mudanças de direção num exercício de precisão que não comprometem em nada a quase fleuma deste britânico.
A inserção em curva é de uma assertividade desconcertante, reagindo como um todo muito uniforme e coeso, ao mesmo tempo deixando o condutor sentir a reação a qualquer comando ou correção. Está completamente à-vontade, tanto em autoestrada como em traçados mais sinuosos e exigentes, transmitindo segurança e tranquilidade aos ocupantes.
Embora pareça quase sacrilégio a eletrónica automóvel atingiu a maturidade. Sem ser intrusiva, nota-se o trabalho, sempre em prol da eficácia que estes sistemas fazem. Para os mais céticos fica a comparação: conseguiríamos fazer, manualmente, o que estes sistemas fazem? Claro que sim, mas nunca à velocidade e com a suavidade com que o fazem.
Em conclusão, a Aston tem um verdadeiro candidato ao melhor desportivo do ano. Envolvente, bem construído e com a dose de emoção que se pretende, o Vantage é um acérrimo concorrente da referencia do setor, o Porsche 911.
Hélio Valente de Oliveira/Jornal dos Clássicos
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