Cápsulas do Tempo: A evolução da publicidade na F1

30/10/2018

Por ocasião da “Estoril Classic Week 2018” tive oportunidade de assistir à corrida de F1 clássicos. Da grelha de partida constavam dez veículos, todos equipados pelo mais longevo motor da história da F1 – o quase eterno motor Cosworth presente nas suas mais diversas configurações – que, com o seu característico trovar nos remeteu de imediato para outros tempos em que as corridas eram pura emoção e adrenalina.

Mais do que o barulho, o cheiro e a adrenalina que o “trabalhar” destes veículos clássicos de competição evoca, o que mais chamou a minha atenção e que é o tema deste artigo, é a publicidade exibida em cada uma das carroçarias que “embrulhavam” os diversos conteúdos mecânicos presentes.

Rapidamente se destacou das demais a publicidade presente no conjunto da equipa “RAM Penthouse Rizla Racing”. O amarelo e preto que adornava o Williams FW07B ganha ainda maior destaque quando percebemos que as duas principais marcas que à época sustentavam aquela equipa eram tão só uma revista masculina de conteúdo erótico e uma marca de mortalhas para cigarro. De sorriso no rosto e recordando outros tempos, percorri as restantes boxes, pude apreciar modelos de relevo histórico como o McLaren em que James Hunt ganhou o campeonato mundial de 1976, bem como o Hesketh no qual o mesmo James Hunt deu os primeiros passos na modalidade, no entanto, nenhum outro me suscitou tanto interesse como aquele.

Recuando a essa época, em que o próprio Hunt tinha cosido no seu macacão de competição a etiqueta com a seguinte frase – sexo, o pequeno-almoço dos campeões – rapidamente percebemos que o ambiente das corridas mudou de forma radical. Hoje estamos perante uma indústria que gera biliões de dólares anuais, onde o espaço ao improviso, à descontracção e até à loucura é cada vez menor.

Quem, como eu, teve o privilégio de começar a acompanhar a modalidade em finais da década de 1980, recorda certamente os protagonistas principais – à época Senna e Prost – nos seus McLaren em tons vermelho e branco patrocinados pela Marlboro. Lembrar-se-ão também dos Williams patrocinados pela Camel e posteriormente pela Rothmans, em tons de azul e branco, que, à época ligavam lindamente com o desenho dos capacetes dos também britânicos Hill e Coulthard.

É bem sabido que as imposições legais puseram termo a estas parcerias que alimentaram ambas as indústrias durante décadas, reconhecemos, obviamente, que com a informação que hoje dispomos, tiveram de ser tomadas medidas que controlassem a visibilidade à indústria do tabaco que causa milhões de mortos todos os anos e representa um peso enorme nas contas dos sistemas de saúde dos países.

Não podemos, no entanto, esquecer o contributo estético que as diversas marcas conferiram à imagem das equipas de F1 desde 1968, primeiro ano em que os patrocínios começaram a constar das carroçarias, e cujo primeiro grande exemplo é a Gold Leaf team Lotus do visionário Colin Chapman.

À Chapman e à Lotus devemos, na minha opinião, alguns dos mais belos binómios, patrocinador/equipa, basta recordar o Lotus 97T amarelo e dourado patrocinado pela John Player Special, cujo momento alto de visibilidade aconteceu também aqui no Autódromo do Estoril em 1985 aquando da primeira vitória em grandes prémios do falecido Ayrton Senna. A beleza do referido F1 ganhava ainda maior visibilidade com o amarelo fosforescente do capacete do malgrado piloto. Igualmente impactante o Lotus 99T de 1987 patrocinado por outra tabaqueira, que conferia ao Lotus o “look” amarelo total.

São inúmeros os exemplos de F1 que ficaram na nossa memória e cuja galeria anexa a este artigo pretende recordar, para além da indústria tabaqueira também a indústria das bebidas espirituosas sempre se quis associar, e cujo regresso mais recente e notório se vê plasmado no regresso à competição da Martini, em 2014 pelas mãos da Williams.

O impacto que estas parcerias terão causado nos ávidos consumidores da modalidade um pouco por todo o mundo nunca poderão ser devidamente alcançados, sabemos sim que terão certamente contribuído largamente para que jovens e menos jovens na busca de uma entrada no glamouroso mundo das corridas e dos seus ídolos o tivessem feito da única forma à qual podiam aceder – puxando por mais um cigarro e bebendo mais um copo.

Sem querer fazer juízos de valor, cumpre-me apenas deixar esta reflexão, dando conta das alterações que a modalidade e o mundo dos negócios que a sustenta atravessaram ao longo dos tempos. Uma coisa é certa, ainda que reconheçamos o mérito que certas restrições vieram trazer ao mundo da alta competição e aos seus patrocinadores, podemos, no entanto, reconhecer que as mais belas e entusiasmantes paletas cromáticas do referido desporto resultaram destas parcerias tão impróprias quanto apelativas.

Aos caros leitores deixo o repto, para que, na parte de comentários nos digam quais os mais belos F1 de todos os tempos ou que identifiquem os patrocinadores menos convencionais que recordam das várias temporadas de F1.

Pedro Pais Cardoso/Jornal dos Clássicos

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