HKS Zero-R, o mais exclusivo dos Skyline GT-R R32

25/04/2020

A Nissan relançou o Skyline GT-R em 1989, com a geração R32 do Skyline, após este modelo ter sido cancelado, em 1973, durante a crise do petróleo. Assim, de maneira a homologar o modelo de competição para os automóveis de turismo de Grupo A, a lenda estava de volta. A Nissan conjugou o motor RB26DETT, construído em específico para este modelo, com o sistema de tracção integral ATTESA E-TS, de maneira a tirar as melhores prestações na pista.

O motor de seis cilindros em linha, 2.569cc de cilindrada e dois turbos, debita 280cv às 6.800rpm e 353Nm às 4.400rpm, claro está, números divulgados pela marca dentro do “acordo de cavalheiros” japoneses, onde a potência não deveria ultrapassar os 280cv no papel. Existem várias versões do Skyline GT-R R32, todas elas melhorando aspectos menos positivos, mas a mais rara não foi produzida pela Nissan, nem pela Nismo, o seu departamento de competição, mas sim pelo preparador HKS.

No início dos anos 90, a HKS decidiu seguir o caminho que, por exemplo, a RUF faz com a Porsche, ou a Alpina com a BMW, criando a melhor versão do Skyline GT-R, designando-a de Zero-R, sem qualquer referência à Nissan e até com o número de chassis próprio. No entanto, apesar da ideia parecer boa na teoria, na prática não correu da melhor maneira. Após a construção dos primeiros exemplares, a ideia seria regista-los como protótipos, sem os emblemas da Nissan e foi aí que começaram os problemas, pois, segundo as regras do Japão, era necessário submeter o automóvel a uma série de testes, incluindo de embate. Assim, a HKS decidiu abandonar o projecto, pois ficaria demasiado caro a sua produção, mesmo com um preço pedido na ordem dos 110.000 euros, nos valores de hoje. A HKS ficou com vários exemplares já construídos, guardando-os no exterior da sua fábrica, em Shizuoka, enquanto que um deles, terminado na cor branca, juntou-se à imensa colecção do Sultão de Brunei, no Extremo Oriente.

Foi então que, em 2006, a HKS descobriu que se os voltasse a tentar registar, seria muito mais fácil do que no passado, retirando os automóveis de um estado de abandono completo. A ideia seria reconstrui-los por completo, aplicando o que de melhor a HKS tinha, em 2006, melhorando assim a sua potência, que no caso da conversão original se situava nos 450cv. No entanto, o exterior específico seria mantido, tal como os Zero-R foram produzidos na época.

Os Zero-R originais foram equipados com um dos primeiros kits de conversão para um único turbo, adicionando um turbo de fabrico próprio, o TA45S, mas este já não estava em produção e decidiram equipar os renascidos Zero-R com dois turbos GT2530. O motor que foi utilizado nos originais ficou conhecido como RB27, pois a HKS aumentou a sua cilindrada para os 2.688cc. Este seria retirado e recebia o raro bloco Nismo GT, utilizado pelos Skyline GT500 no JGTC, sendo alargados para a cilindrada de 2,8L, com o aumento da taxa de compressão para os 8,7:1. A HKS adicionou o seu sistema de variação de fase das cames, o V-Cam. O motor passa então a debitar cerca de 600cv e 646Nm. Acoplado ao motor, está a caixa do Skyline GT-R R34, a Getrag de seis velocidades, com uma embraiagem Nismo Copper e uma relação final de 3,9.

A suspensão foi toda reconstruída e foi instalado um kit específico para o Zero-R de coilovers, o HKS Hyper Max II. Os travões tiveram de ser melhorados, devido ao incremento de potência, com pinças de seis pintões da AP Racing.

No interior, os Zero-R recebiam backets da Recaro, um volante específico em alcântara e um velocímetro com limite nos 360km/h. Os bancos traseiros foram removidos, pois a HKS teve de remover o depósito de combustível, que se situava debaixo do automóvel, e montou-o no interior, devidamente protegido. Com a reconstrução, foram ainda adicionados novos mostradores Defi no porta luvas. O controlador de pressão do turbo é um HKS EVC “Black Limited”, de produção limitada.

Ao todo consta que foram produzidos mesmo os dez exemplares, mas só quatro ficaram prontos, no entanto, a HKS nunca confirmou tal informação, mas existem fotos de todos os exemplares nas instalações da HKS. O exemplar cinzento foi o primeiro a ser terminado e foi entregue a um médico de Osaka. Este, decidiu manter as jantes em magnésio originais do Zero-R, produzidas pela italiana Tecnomagnesio, de propósito para esta série de automóveis. No interior, o proprietário pediu para o banco Recaro ser substituído por um do R34. Em Janeiro de 2019, foi levado a leilão pela BH Auction, no Tokyo Auto Salon, vendido por quase 138.000€ para a Austrália.

O exemplar branco foi vendido também, com a HKS a ficar com um exemplar terminado, mantido na forma original como foi produzido em 1993. Os restantes seis, estarão num descampado nas instalações da HKS, existindo mesmo, fotografias que mostram exemplares num avançado estado de degradação, juntamente com outras pérolas da HKS. Pelo Google Maps é possível ver os tais automóveis ainda mantidos no descampado, com um futuro pouco risonho.

Como curiosidade, durante o desenvolvimento do HKS Zero-R, este passou pela Autobahn e pelo circuito de Nurburgring, na Alemanha, em 1991. Nessa viagem, passou ainda por França e Espanha, mais concretamente, em Barcelona.

Tiago Nova/Jornal dos Clássicos

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