O “bichinho” dos clássicos nasce connosco

10/01/2019

Hoje não venho falar-vos sobre nenhum automóvel, evento ou modalidade em particular. Venho apenas falar da paixão que nos move. Se está a ler estas linhas, muito provavelmente saberá ao que me refiro.

Sempre soube que gostava de automóveis e que a paixão por estes me iria acompanhar ao longo da vida. São sensações difíceis de explicar, mas por diversas ocasiões dei por mim a contemplar certos automóveis (que por vezes até nem eram grande “espingarda”), e a projectar sonhos ao volante dos mesmos. Perdi a conta às miniaturas e automobilia que coleccionei (e ainda colecciono).

Enquanto criança, pensava para mim mesmo que o tempo não passava, que não chegava a hora de tirar a carta de condução e poder arrancar em direcção ao horizonte a bordo do meu automóvel.

Sou daquelas pessoas que, dando o devido valor e compreensão pelo normal desenvolvimento tecnológico e social, sempre me fascinaram os automóveis simples, genuínos e mecânicos, nos quais o prazer de condução e a pureza das suas linhas se sobrepõe a qualquer ajuda electrónica ou gadget. Felizmente, tenho tido oportunidade de conduzir várias máquinas dessa “espécie”, o que só me fez gostar ainda mais de clássicos e perceber que não estive errado durante toda a infância, que afinal a magia destes existe mesmo!

Os pequenos truques, os cuidados especiais e as “manhas” dos automóveis clássicos são, para o condutor normal, uma perda de tempo e até uma arrelia, enquanto para nós petrolheads fazem parte do ritual e são situações através das quais retiramos prazer. Chegam mesmo a ser um modo de vida.

 

Quem está de fora julga que somos tontos, que só compramos sucata, que gastamos dinheiro sem fim em algo que só dá problemas. Mas a satisfação que retiramos destes pedaços de metal desgastado, é a gasolina que nos faz mover. Passamos meses à procura daquela peça, fazemos centenas de quilómetros para ir àquele passeio, dedicamos horas a fio àquele restauro, mas sabem que mais? Não o consideramos perda de tempo, mas sim desfrutar de tempo de qualidade.

Observo com alguma apreensão o futuro do mundo automóvel clássico, quer pelas futuras restrições que poderão ser impostas, quer pela falta de interesse das novas gerações por esta temática. E é este mesmo o nosso desafio, não deixar cair no esquecimento os automóveis que tanta história já escreveram e que desejamos que continuem a escrever.

Sempre soube que gostava de automóveis. Só quem sente o mesmo compreenderá…

Pedro Cegonho/Jornal dos Clássicos