Os filmes de competição automóvel do século XX

15/12/2023

Numa fase em que nos aproximamos da estreia de obras cinematográficas que nos deixam numa saudável expectativa, nada como embarcar na viagem sugerida pela Hagerty, e recuar ao século passado, para falar dos melhores e piores filmes, nos quais a competição automóvel é o centro das atenções – uma disciplina cheia de emoções fortes e plena de risco associado, a cena perfeita para o desenrolar de uma história.

 

Os filmes sobre as competições de automóvel iniciaram-se quase no início do século, com a comédia Barney Oldfield’s Race for a Life, de 1913, um filme de Mack Sennett e com os actores Mabel Normand e Barney Oldfield, a interpretar as próprias personagens, com o último a competir contra um comboio num automóvel descapotável, para conseguir salvar Mabel que estava acorrentada na linha.

O filme The Big Wheel, de 1949, capta a atenção de qualquer entusiasta automóvel, pois foram utilizados autênticos automóveis Kurtis Kraft de competição para o filme. Este filme só chegou a Portugal a 19 de Maio de 1952, intitulado Brincando com a Sorte e teve como actor principal Mickey Rooney, como personagem Billy Coy, juntamente com grandes pilotos da época e filmagens das próprias corridas. Vários foram os filmes que utilizaram filmagens das corridas verdadeiras para o desenrolar da história. Exemplos disso é o filme Speedway de 1929, lançado em Portugal a 16 de Julho de 1931 como O Rei do Volante, onde os produtores montaram 14 câmaras na prova Indy 500 desse ano. Outro filme que utilizou as filmagens verdadeiras da Indy 500, foi o To Please A Lady, de 1950, com os actores Clark Gable e Barbara Stanwyk. Este filme lançado a 10 de Janeiro de 1952 em Portugal, com o título Medo de Amar, utilizou mesmo as filmagens do incêndio do automóvel do três vezes campeão da Indy 500 Mauri Rose, para o filme.

Mas foi John Frankenheimer que trouxe o realismo das competições para o grande ecrã com o filme Grand Prix de 1966, com o actor James Garner. Chegou a Portugal a 25 de Setembro de 1967, com o título Grande Prémio, e revolucionou os filmes da competição automóvel por completo. Dois grandes filmes se seguiram a este, o Winning de 1969, conhecido em Portugal como A Grande Competição, que retrata as competições SCCA com o piloto e actor Paul Newman. Mas, sem dúvida que um dos mais famosos de sempre, foi o filme Le Mans, de Steve McQueen, um filme com maior reconhecimento hoje, do que na época. Este filme de 1971, era o culminar de duas paixões de McQueen, cinema e automóveis, utilizando mesmo um automóvel de competição nas 24 Horas de Le Mans para efectuar as filmagens.

Mas também não podemos esquecer outros filmes, com algum realismo, como o The Racers de 1955, um filme de Henry Hathaway, com o actor Kirk Douglas, que chegou a Portugal a 20 de Outubro de 1955, com o título Estes Homens são Perigosos. A personagem interpretada por Douglas, Gino Borgesa, era um piloto de Fórmula 1, que punha a vitória acima de qualquer prioridade. Este filme teve o conselho técnico do piloto Phil Hill e de John Fitch, utilizando a projecção da acção na traseira do automóvel, para aumentar o realismo. Por falar em projecção das filmagens na traseira, o primeiro filme a utilizar essa técnica foi o The Crowd Roars, de 1932, filme de Howard Hawks, com o actor James Cagney, que em Portugal era conhecido por Heróis da Pista, chegado a 8 de Outubro de 1934. O filme High Gear, de 1933, foi o primeiro a instalar câmaras nos automóveis protagonistas da corrida.

O realizador Claude Lelouch ficou conhecido pelo seu curto filme Rendezvous, de 1976, onde montou uma câmara num suposto Ferrari 275 GTB, mas que na realidade era um Mercedes-Benz 450SEL 6.9 com o som do motor Ferrari e percorreu as ruas de Paris a alta velocidade durante a madrugada. Mas o seu melhor filme foi o Un Homme et Une Femme de 1966, onde ganhou um Óscar, chegando a Portugal a 9 de Fevereiro de 1967 com o título Um Homem e Uma Mulher. Pelo título, parece não ter nada haver com automóveis, mas engane-se, pois, Jean-Louis Duroc era piloto de automóveis, competindo em Le Mans e no Rallye de Monte Carlo no seu Mustang. Para a produção do filme, foram utilizadas filmagens reais das provas. Outro filme que envolve romance e corridas, é o Days of Thunder ou Dias de Tempestade, de 1990, onde retrata as corridas de NASCAR e foi neste mesmo filme que Tom Cruise e Nicole Kidman se apaixonaram.

Outros filmes surpreendentes é o exemplo de Johnny Dark, de 1954, com o actor Tony Curtis, que retrata a história de um engenheiro automóvel que desenha e constrói um automóvel radical, o Wildfire, que com a ajuda da sua namorada faz a corrida Canadá-to-México. Este filme chegou a Portugal a 31 de Janeiro de 1955 como Demónios Sobre Rodas. A primeira parte do filme é desenrolada na pista de testes da Packard, em Detroit.

Um título bastante conhecido, o The Fast and The Furious, remonta também ao século passado, pois o primeiro filme com esse nome é bastante diferente dos mais conhecidos. Este filme lançado em 1954 foi o primeiro produzido pela American International Pictures. John Ireland, interpreta o personagem Frank, um camionista que é preso injustamente. Foge da cadeia num Jaguar XK120, entrando na Carrera Panamericana. A AIP lança em 1956 o filme Hot Rod Girl, que retratava a história de um detective que promovia as corridas numa drag strip, como forma mais segura do que as corridas de rua. É um filme a preto e branco, que teve pouca expressão, mas com uma banda sonora composta por grandes nomes do jazz, como Maynard Ferguson, Barney Kessel e Milt Holland.

Outro filme de competição com uma boa banda sonora é o biográfico Heart Like a Wheel, de 1983, que retrata a história do piloto de drag Shirley Muldowney, interpretado por Beau Bridges, um filme que teve críticas bastante positivas. Com músicas de James Burton, Elvis Presley, Ricky Nelson e John Denver. Beau Bridges teve ainda outro papel num filme de automóveis, também ele biográfico, o Greased Lightning, conhecido em Portugal como Um Louco ao Volante, de 1977. O filme baseia-se na história de vida do piloto Wendell Scott, o primeiro piloto afro-americano a vencer na NASCAR. O irmão de Beau, Jeff, entrou no filme The Last American Hero, de 1973, baseado no “The Last American Hero Is Junior Johnson. Yes!”, escrito por Tom Wolfe, para a revista Esquire, em 1965. Este foi também baseado em factos reais, do piloto de NASCAR Junior Johnson, que ele próprio foi o concelheiro técnico para o filme.

Com isto, pode-se constatar que o século XX teve até alguns filmes de automóveis, uns melhores que outros, bastante icónicos. Do século XXI também se pode falar de boas produções feitas até hoje, como o Le Mans 66: O Duelo ou o Rush, sem esquecer toda a saga do moderno The Fast and The Furious, apesar de cada vez mais se afastar do seu foco principal, que são os automóveis.