Os sete anos de mandato americano na Lamborghini

21/05/2019

Há 32 anos, uma operação multimilionária entre o gigante automóvel Chrysler e os irmãos Mimran acabaria por dar aso a um dos capítulos mais representativos da história da Lamborghini, com sete anos de mandato americano em Sant’Agata Bolognese.

Os irmãos Mimran, multimilionários suíços que fizeram a sua fortuna na produção de açúcar e no mundo da banca, venderam a 23 de Abril de 1987 o famoso fabricante italiano à Chrysler por 25,3 milhões de dólares, sendo que após a compra se evidenciou uma injecção de capital de valor correspondente ao dobro do valor de compra, com o grande objectivo de modernizar as instalações da fábrica da Lamborghini e possibilitar os fundos necessários ao fabrico de um novo superdesportivo.

Contextualizando, após a tomada de posse da Chrysler em 1987, a Lamborghini já trabalhava no desenvolvimento do seu novo superdesportivo desde 1985. Marcello Gandini era o homem à frente do design do Diablo (auxiliado numa fase final por Tom Gale, designer do Dodge Viper), mas os novos executivos da firma de Sant’Agata Bolognese não estavam satisfeitos com os protótipos, pelo que Detroit ordenou que se atrasasse o projecto, algo que não caiu bem a Gandini, que aplicaria o seu desenho original a um veículo de performance também soberba, o Cizeta-Moroder V16T.

Por esta altura, a Lamborghini fabricava três modelos: o Countach, o Jalpa, e o mítico LM002. Este poderoso todo-o-terreno italiano, precursor do Lamborghini Urus, surgia equipado com um motor V12 de 5.2 litros. O Jalpa apresentava-se como uma entrada para o mundo dos superdesportivos. O Countach, há altura o porta-estandarte da marca, estava no activo desde 1974 e começava a acusar o efeito dos anos, mais que não fosse pelo seu desenho em cunha, clássico pelos finais da década de 60-inícios da década de 70, mas cada vez mais exposto à obsolescência, particularmente pelos esforços da Ferrari.

Apesar do peso da longevidade, o Countach era (e continua a ser) uma lenda na Lamborghini, pelo que a sua ausência apenas seria comportável se o substituto fosse um automóvel à altura, e pelo atraso no novo projecto, as medidas teriam que ser paliativas. Com a pressão da Chrysler, que via o seu investimento em dúvidas de retorno, optou-se por uma via tão reconhecida dos tempos modernos, o restyling, não o sendo, todavia, tão puro e simples como em tempos actuais.

No Grande Prémio de Monza de 1988 é apresentado o Countach 25th Anniversary, que rapidamente se converteu num êxito comercial com 667 unidades fabricadas entre 1988 e 1991, tendo este sido um dos últimos folgos na viagem de 17 anos do modelo. Partindo do Countach 5000 QV, os engenheiros da Lamborghini aplicaram cerca de 500 subtis alterações e actualizações com vista a aumentar o conforto e melhorar o estilo do modelo, mas com a limitação de não ter que ser necessária uma nova homologação. Neste processo surge o nome de Horacio Pagani (sim, o mesmo Horacio Pagani cuja empresa nos deslumbra com modelos como o Zonda ou o Huayra), que seria responsável pelas alterações de carroçaria. Pagani elevou ligeiramente a frente e redesenhou as entradas de ar para uma melhor canalização do fluxo para os travões dianteiros. Ao mesmo tempo, o pára-choques traseiro também recebeu ligeiras alterações, assim como as entradas de ar laterais, que se tornavam maiores. As novas jantes surgiam envoltas por Pirelli PZero, garantindo a máxima aderência, e para a melhor afinação possível das suspensões a Lamborghini recorreu a Sandro Munari, campeão do mundo de rally em 1977 (há altura designado campeão da taça FIA para pilotos de rally) com o lendário Lancia Stratos.

Ao nível de interiores, o Lamborghini Countach 25th Anniversary contava com vidros eléctricos, bancos equipados com ajuste eléctrico, novo volante, e sistema de ar condicionado imensamente melhorado.

Estava alcançado o tão desejado balão de oxigénio, e a 21 de Janeiro de 1990, em Monte Carlo, o Lamborghini Diablo surgiu como versão final do protótipo Projecto 132.

A Chrysler desenhou o interior do Diablo para que se adaptasse ao standard de comodidade moderna, com assentos e volante ajustáveis, direcção assistida e tracção integral no Diablo VT de 1993. O seu motor V12 de 5,7 litros com 492 cavalos de potência era capaz de suplantar superdesportivos da época, sendo que quando foi apresentado era considerado o automóvel de produção mais rápido do mundo, com uma capacidade de percorrer o sprint dos 0-100 em 4,6 segundos e de acelerar até aos 325 quilómetros por hora.

Sem a ajuda, particularmente económica, da Chrysler, a Lamborghini jamais teria conseguido desenvolver o Diablo, tendo também a firma americana possibilitado a entrada da Lamborghini na Formula 1, primeiro como fornecedor de motores entre 1989 e 1993 para equipas como a Lola, Lotus, Ligier, Lambo, Venturi, Minardi e Larrousse, e depois para participação em nome próprio numa temporada completa.

Porém, em 1992, as vendas da Lamborghini estagnaram, e a empresa começou a extrair dinheiro da Chrysler, tendo tal processo terminado na decisão de venda da marca à MegaTech, uma empresa com registo comercial nas Bermudas e propriedade de empresários indonésios também donos da Vector.

Uma série de edições especiais e um esforço titânico a nível económico não impediram que a firma fundada por Ferruccio Lamborghini estivesse à beira do abismo em 1998 (tendo já estado na bancarrota entre 1977 e 1980). Felizmente, o Grupo Volkswagen adquiriu a empresa e, sob a alçada da Audi, logrou convertê-la num dos fabricantes mais avançados e referentes no segmento dos superdesportivos, tal qual o conhecemos hoje.

Por José Brito/Jornal dos Clássicos

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