Os tesouros secretos da garagem Renault

21/04/2018

A convite da Renault Portuguesa, fui a França, participar num evento de celebração dos 120 anos da marca francesa.

Depois de ensaiarmos alguns modelos antigos da Renault, chegámos à fábrica de Flins, para visitar “Le Garage”.

A entrada da fábrica, a pouco mais de 50 quilómetros noroeste de Paris, é tão banal quanto a de qualquer outro parque industrial moderno e em fervilhante actividade.

A fábrica de Flins produz atualmente os Renault Clio IV e Zoé, bem como o Nissan Micra. Desde o encerramento da antiga unidade em Billancourt, esta é a maior e a mais antiga fábrica Renault em França, tendo produzido mais de 17 milhões de veículos.

Fundada em 1952, foi rebatizada fábrica Pierre Lefaucheux em 1955, após a morte do primeiro presidente da Renault a seguir à nacionalização, em 1945.

Responsável pela construção da nova fábrica, Lefaucheux nasceu em 1898, o mesmo ano em que, oficiosamente, consideramos que a Renault foi fundada (oficialmente, foi em Fevereiro de 1899).

Foi um excelente estratega, percebendo que os automóveis populares abriam à marca um novo caminho de sucesso. Antes da Segunda Guerra Mundial, a gama da Renault era mais vocacionada para um cliente burguês. O seu primeiro automóvel popular surge apenas em 1937, com o Juvaquatre.

Pouco tempo depois começou a Guerra e atividade automóvel foi substituída pela produção de camiões e material de guerra para o invasor alemão.

Mas um grupo de resistentes planeou um automóvel para o pós-Guerra, barato de produzir, adquirir e utilizar. Foi este o projeto que Lefaucheux validou e que seria a pedra de toque para tornar a Renault um dos mais importantes construtores mundiais.

Foi também nesta fábrica que a Renault decidiu guardar uma parte muito significativa do seu acervo histórico.

O mais curioso é que não se trata de um museu. Para todos os efeitos, trata-se apenas da “Le Garage”. Esta modéstia não é de todo condizente com a imagem que temos do “Vive la France”, mas a postura que encontrámos em todos os colaboradores Renault relacionados com este acontecimento, foi de simpatia e humildade, apesar do orgulho justificado em 120 anos de história.

Quando se abrem as portas de acesso a uma nave de alguns milhares de metros quadrados, é quase como se descobríssemos uma nova Capela Sistina.

Os veículos civis estão no primeiro corredor, com destaque, numa pequena exposição, para os que têm efemérides especiais em 2018, como a própria Renault, mas também o Reinasport e os seus 85 anos e vários outros modelos famosos, até ao Clio Williams e o seu quarto de século.

Os primeiros Renault estão em lugar de destaque, junto a um Twizzy, que simboliza o presente e o futuro.

Os anos 10 com os seus personalizados gigantes, destacando-se um exemplar dos primeiros táxi, que até serviu para levar soldados à frente de batalha na Grande Guerra. Os anos 20 com os utilitários de trabalho, os anos 30 e os seus grandes estadistas e modelos dirigidos a uma burguesia com um nível de vida confortável.

Nos anos 40 surge a revolução popular, com o 4CV, seguido do Dauphine. Nos anos 60 a Renault começa à procura do volume único, com o 16 e o 4.

Depois chegou o mais famoso dos superminis, o R5, desenhado para agradar às senhoras, mas pelo caminho também fez alguns homens perder a cabeça.

Modelos de grande sucesso, como o R8, ombreiam com outros menos felizes, como o R7 ou R14, sem esquecer as estrelas de cinema, como o R11, mutilado em noma da arte, e ao serviço do James Bond.

A Espace e o Twingo, bem como o mais recente Scénic, mostraram que a Renault está em sintonia com o que as pessoas pretendem de um automóvel. Às vezes, antes mesmo de o saberem.

Depois ainda temos os automóveis dos recordes e os carros de corrida, da Fórmula 1 ao Endurance, dos ralis às corridas no gelo ou aos raids no deserto.

Cada automóvel da “Le Garage” encerra histórias que mal cabem lá e menos aqui, na tarefa ingrata de relatar uma coleção tão vasta.

Foi mesmo um acontecimento poder ver esta sala dos tesouros, que não está aberta ao público. Apenas os funcionários da fábrica e os jornalistas, em eventos muito especiais, podem fazer uma visita rápida. Demasiado rápida, diria, para revisitar 120 anos de história.

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