Porsche 917/20: O porco mais rápido do mundo

20/08/2018

Na edição 2018 das 24h de Le Mans, o mundo assistiu à vitória de um porco em forma de Porsche 911 (ou será o contrário?) na categoria GTE Pro, com os pilotos Michael Christansen, Kévin Estre e Laurens Vanthoor. Na verdade, à semelhança do Porsche 911 RSR nº91 que homenageou o 956 de 1982, o 911 RSR nº92 vitorioso fazia referência ao Porsche 917/20 que correu nessa mesma pista na edição de 1971, tendo sido, aliás, a sua única corrida.

Regressemos então à edição 1970. A equipa oficial da Porsche alinha os seus 917 com as cores da Gulf do Team Wyer, vencedor da edição anterior das 24h de Le Mans com o Ford GT40, enquanto que os outros 917 são alinhados por duas equipas privadas: o Team Martini e uma equipa com as cores da Porsche-Konstruktionen KG Salzburg, sob a direção de Ferdinand Piech cujo complexo de inferioridade (por ter, segundo ele, o “apelido errado”) é também uma fonte de motivação para derrotar a equipa oficial. É precisamente esta equipa “privada” que dá à Porsche a sua primeira vitória na classificação geral das 24h de Le Mans, com Hans Herrmann e Richard Attwood ao volante. Depois deste sucesso, a equipa Piech, ou melhor, a equipa Porsche-Konstruktionen KG Salzburg decide não participar na temporada de 1971 e vende os seus 917 ao Team Martin.

Com estes automóveis, o Team Martini continua o desenvolvimento do 917, nomeadamente com o S.E.R.A. (Société d’Études et Recherches Aérodynamiques). Dessa parceria nasce o 917/20, um automóvel que pretendia obter um compromisso entre a velocidade de ponta do 917 LH (“langheck”, longo) e a estabilidade do 917 K (“kurz”, curto). O resultado é um modelo mais curto que o 917 LH mas mais largo e com mais apoio aerodinâmico que o 917 K.

O automóvel está pronto para disputar as 24 h de Le Mans 1971 mas as suas dimensões invulgares impedem-no de ser transportado no camião do Team Martini, sendo necessário recorrer a um veículo militar do exército alemão (por sinal, igualmente desenvolvido pela Porsche). O aspeto “gorducho” e pouco atlético deste automóvel de competição suscitam alguns risos entre os mecânicos, valendo-lhe alcunhas pouco simpáticas, sobretudo depois de aparecer pintado de cor de rosa. Quem não achou tanta piada foi o conde Rossi, proprietário da Martini, que não queria ver as suas bebidas alcoólicas associadas a este suíno de quatro rodas, ao ponto de proibir a colocação de autocolantes Martini Racing.

Levando a provocação ainda mais longe, os designers Anatole Lapine e Dick Soderburgh aproveitam a ausência da decoração Martini para reproduzir no automóvel os esquemas representando as diferentes partes de um porco que eram, até então, apenas visíveis em talhos. Porém, a ousadia não trouxe sorte à equipa. Partindo da sétima posição na grelha, ascendendo à terceira posição na sétima hora, o “Pink Pig” como era igualmente conhecido, conhece uma série de pequenas falhas mecânicas, acabando por sair da pista violentamente, felizmente sem gravidade para o piloto Reinhold Joest. Termina assim a breve carreira desportiva do Porsche 917/20.

O palmarés do 917/20 pode parecer muito pobre e de facto até é. No entanto, importa salientar que este automóvel constituiu sobretudo um laboratório muito importante para a preparação de outras provas, como a CanAm, deixando assim um legado para outros automóveis de competição que lhe sucederam, nomeadamente o 911 RSR nº92 de 2018.

Bruno Machado/Jornal dos Clássicos

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