Model 3 SR+ por 50.000€. Mas a verdadeira aposta da Tesla é outra…

15/04/2019

A Tesla já permite encomendar o Model 3 Standard Range Plus na Europa. Em Portugal, o preço começa nos 48.900 euros. A este valor é necessário acrescentar despesas de entrega e documentação de 980 euros, para um total de 49.880 euros.

O Standard Range Plus foi apresentado há algumas semanas no mercado americano. É uma versão ligeiramente melhorada, em termos de equipamento e prestações do Standard Range. Este último é o Model 3 prometido a 35.000 dólares, mas o seu equipamento simplificado e a curta diferença para o SR+ não terão convencido muitos clientes. O SR e o SR+ têm apenas um motor traseiro. Neste último, a autonomia no ciclo WLTP é de 415 quilómetros. Em termos de prestações, o SR+ acelera dos 0-100 km/h em 5,6 segundos e atinge uma velocidade máxima de 225 km/h.

A introdução do SR+ no Velho Continente veio acompanhada de mais um acerto de preços na gama Model 3. Neste caso, todos os modelos tiveram um acréscimo de preço de 2000 dólares (2000 euros na Europa). Tal deveu-se à inclusão no equipamento de série do Autopilot. Como opção no momento da encomenda, o AP custava 3000 dólares (3000 euros).

Nível de equipamento elevado

Para além do Autopilot, o Tesla Model 3 SR+ tem o chamado parte premium parcial. Este inclui o interior em pele sintética, o tejadilho em vidro escurecido e o áudio melhorado, bem como uma consola mais requintada.

O preço das restantes opções mantém-se, com as cores adicionais a custarem entre 1100 e os 2200 euros. As jantes Aero 18 são de série, as 19, opcionais, por 1600 euros.

A capacidade de condução autónoma total (o famoso Full Self-Driving Capability) custa 5400 euros no momento da encomenda. Adquirido depois, representará um custo de 7500 euros. Neste momento, inclui estacionamento automático, mudança automática de faixa e condução automática na auto-estrada desde o acesso à saída. A função summon, que permite “invocar” o veículo para ir ter connosco no parque de estacionamento também já está disponível.

Ainda este ano, o construtor americano promete o reconhecimento e reação a sinais de trânsito e semáforos, bem como a condução automática nas cidades.

Leasing arrancou nos Estados Unidos

A partir desta semana, os clientes norte-americanos podem fazer leasing do Model 3. A Tesla refere que o valor de entrada pode ser baixo e os pagamentos mensais serão competitivos, de acordo com um plano de quilometragem limitada. A Tesla propõe entre entre 10 a 15 mil milhas (16 a 24 mil km).

O construtor avisou porém que os clientes que optem por esta opção não poderão adquirir o veículo no final do contrato. Estas unidades integrarão a plataforma partilhada de veículos autónomos da Tesla, assim que a utilização deste tipo de veículos seja possível.

A opinião do Watts On

Comecemos pelo novo preço de entrada do Tesla Model 3 SR+. Os clientes do mercado europeu pagam um adicional pesado pelos seus Tesla. Nos EUA, esta versão custa, na estrada, 40.700 dólares (35.956 € ao câmbio de hoje). São quase 14.000 € de diferença para os 49.880 € no nosso país. E que, diga-se, não diferem muito para os restantes países europeus.

Ainda assim, a oferta reduzida de veículos elétricos e as qualidades intrínsecas do Model 3 garantem que não há concorrência. O Hyundai Kauai chega a conta-gotas. O Nissan Leaf de 62 kWh deverá vir também em quantidade limitada. O Kia Niro, nem vê-lo. Os modelos existentes em quantidade, como o Renault Zoe e o Leaf de 40 kWh são de um segmento diferente. O Polestar 2 chega em 2020.

Quanto ao Autopilot incluído, parece-nos que faz sentido. Um Tesla sem Autopilot continua a ser um VE de qualidade, mas é um pouco como um smartphone sem dados. O construtor argumenta que o Autopilot contribui significativamente para o aumento da segurança, tendo uma função preventiva relativamente aos acidentes. Não é difícil acreditar, mas há outra questão fundamental para que este bloco de construção passe a fazer parte do equipamento de série. O que nos leva outro aspeto da nossa análise…

A Tesla joga noutro tabuleiro

Vemos pouco ênfase dado à vertente de negócio a que a Tesla sempre deu importância: a condução autónoma. O seu sistema de câmaras, reconhecimento visual e machine learningé distinto e bastante eficiente, mesmo para além do que é, atualmente, permitido por lei.

A Tesla nunca escondeu que, para além da eletrificação, existe uma outra revolução muito mais disruptiva à espreita. Aceitando que a condução autónoma é inevitável, então estamos apenas no “quando”. Quando a hora chegar, os construtores com produtos mais capazes terão uma posição vantajosa.

Ora, o Autopilot na Tesla tem uma função fundamental a desempenhar para este objetivo. Para além das vantagens em termos de segurança e para o utilizador, permite recolher informação essencial para desenvolver a tecnologia. Quanto mais Tesla equipados com o AP, maior a recolha de dados e a consequente evolução dos próximos produtos.

Claro que há que ter em conta que a Tesla sempre utilizou o seu espírito de missão para se diferenciar dos restantes construtores. E, entre defensores e detratores, é necessário o ponto de equilíbrio para perceber que, apontar para o futuro é uma forma eficiente de desviar atenções do presente.

A questão do leasing também aponta nesse sentido, porque as condições não parecem muito vantajosas para os clientes. Mas a Tesla argumenta que, daqui a alguns anos, quer ter frota própria de veículos aptos a serem atualizados para a condução autónoma. Pode inclusive, numa fase de transição, estabelecer-se como concorrente da Uber, com um “motorista” que não passará de um assistente da condução autónoma. Se chegarmos a esse ponto, então este conceito a seguir poderá tornar-se realidade…

O veículo de rendimento

Há décadas que sabemos todos a verdade. Com raríssimas exceções, comprar um automóvel novo é o pior investimento que existe. Começa a desvalorizar no momento em que o recebemos e nunca mais pára. Entre impostos, seguros, combustível, manutenção e peças de substituição, o seu custo efetivo é desproporcionado face à utilização que, em média, lhe damos.

O conceito da Tesla é o de oferecer continuamente melhorias ao veículo já adquirido. Por software, liberta-se mais capacidade à bateria, prestações melhores, novas funcionalidades. Deste modo, em teoria, ficamos com um automóvel que vai ganhando qualidades em vez de as perder.

Mas quando Elon Musk se refere à possível valorização dos veículos Tesla, está à pensar mais à frente. E se qualquer proprietário pudesse ganhar dinheiro com o seu automóvel? Com a condução autónoma será possível ter um automóvel, utilizá-lo quando dele precisa e tê-lo a trabalhar para si o resto do tempo.

Como é que isso pode ser feito? Utilizando uma plataforma de mobilidade partilhada, provavelmente do próprio construtor. O automóvel deixava de ser um passivo e tornar-se-ia um ativo. Este conceito pode ser adaptado para uma organização de condomínio, por exemplo, bem como, naturalmente, para empresas e outras associações.

Muito depende, naturalmente, da evolução da condução autónoma nos próximos tempos. Mas também será fundamental que mude a nossa relação com o automóvel, que passará então a ser visto puramente como um dispositivo utilitário e rentabilizável. Somos capazes de precisar de uma mudança geracional para podermos aproveitar esta possibilidade. Mas ela aí está, no horizonte já não muito distante.

Adelino Dinis / Watts On