As falsas alternativas ao plástico fóssil

02/03/2019

Os ambientalistas da associação Zero consideram que os plásticos biodegradáveis e bioplásticos representam a continuidade do modelo do descartável, sendo, por isso, “falsas alternativas ao plástico fóssil”.

A associação ambientalista Zero vem alertar para o risco de perante a necessidade de reduzir o consumo de plástico de origem fóssil, “se cair muitas vezes no erro de apontar para a substituição de materiais como uma alternativa sustentável. Ou seja, em vez de usarmos plástico fóssil descartável, defende-se que se passe a usar o plástico biodegradável ou bioplásticos, também eles descartáveis”, criticam os ambientalistas.

A Zero considera que esta substituição é um erro, apresentando várias razões:

  1. Não se altera o modelo de produção e consumo, continuando a alimentar o modelo do descartável, que nos trouxe até à situação atual de pré-catástrofe ambiental;
  2. Pode ser um entrave à reciclagem através da contaminação dos materiais (plástico fóssil e plástico supostamente biodegradável não podem ser reciclados conjuntamente);
  3. Mesmo quando passar a existir recolha seletiva de resíduos orgânicos (obrigação prevista a partir de 2023), grande parte dos plásticos biodegradáveis ou bioplásticos apresentam dificuldades para se biodegradarem em condições normais de compostagem doméstica e mesmo de compostagem industrial, criando também aí dificuldades e contaminando lotes de resíduos em tratamento.
  4. É um pesadelo em termos de comunicação com os consumidores (uns plásticos são para reciclar e outros para colocar com o lixo indiferenciado), além de que pode aumentar o sentimento de desresponsabilização…afinal são “biodegradáveis”;
  5. Esta substituição é contrária ao espírito da Diretiva sobre Plásticos de Uso Único, que é aplicável tanto às soluções descartáveis de origem fóssil como às soluções descartáveis supostamente biodegradáveis.

De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), cada português usa, em média, 466 sacos de plástico por ano. Esta medida corresponderá a menos 675 toneladas de plástico no ambiente.

Do ponto de vista da Zero, a mudança necessária deverá passar pelo trabalho a montante, ou seja, no próprio desenho das soluções (sejam elas embalagens, recipientes ou utensílios), garantindo a redução da sua utilização e a sua reutilização, devendo ainda ser integrado o cuidado de garantir a reciclabilidade do produto no final da sua vida útil.

REDUZIR E REUTILIZAR SÃO AS VERDADEIRAS ALTERNATIVAS AO DESCARTÁVEL, DEFENDE A ZERO.

“Dado que se trata de uma mudança de sistema que acarretará a necessidade de se adaptarem processos e práticas (seja ao nível da produção, seja do consumo), é fundamental que o caminho seja claro para todos e que coloque todos os agentes em igualdade de circunstâncias e perante o mesmo desafio, daí que façamos a apologia da obrigatoriedade da reutilização”, apontam os ambientalistas.

Materiais sujeitos a taxa

“Nos casos em que sejam colocados no mercado utensílios e embalagens em soluções descartáveis (independentemente do material), deverão estar sempre sujeitos a uma tara, de valor superior à aplicada às soluções reutilizáveis, no sentido de passar a mensagem correta ao consumidor sobre qual é a opção mais sustentável”, defende a Zero.

“O sistema de tara parece-nos ser a melhor solução porque dá um sinal claro a todos os cidadãos que os artigos que estão a utilizar têm um valor e não devem ser abandonados, mas antes devolvidos para reutilização ou reciclagem. Desta forma, e sem prejudicar o consumidor (visto que a tara que paga inicialmente é-lhe devolvida aquando da entrega dos utensílios e embalagens), será possível promover uma utilização de recursos muito mais regrada e o completar da circularidade do sistema de produção e consumo”, sublinham os ambientalistas.
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Glossário
Bioplástico: plástico que é feito de fontes renováveis como resíduos de soja, cana-de-açúcar e amido de arroz. Nem todo o tipo de bioplástico é biodegradável. Alguns géneros de bioplástico levam praticamente o mesmo tempo para se degradar no ambiente que um plástico vulgar (cuja matéria-prima é o petróleo), ou seja, algo como 500 anos.

Plástico Oxidegradável ou oxodegradável: plástico que se fragmenta com o tempo em pequenas partículas que permanecem no ambiente por um tempo indeterminado, tornando incontrolável a sua deposição e eliminação final. A fragmentação dos plásticos oxo-degradáveis contribuem para a poluição microplástica, não resultando de um processo de biodegradação, mas é antes fruto de uma reação química. Não é, por esse motivo, considerada como uma solução viável para resolver o problema dos resíduos de plástico. Os plásticos oxodegradáveis não são compostáveis.

Plástico biodegradável: plástico que sofre um processo de compostagem até 180 dias pela ação de microrganismos, sob condições específicas de calor, humidade, luz, nutrientes orgânicos e oxigénio. É um material que deriva de fontes vegetais, como a celulose ou o amido.