Califórnia só faz negócio com fabricantes comprometidos com o ambiente

10/01/2020

A partir de Janeiro de 2020, a Califórnia só comprará automóveis aos fabricantes que reconheçam a autoridade das instituições californianas e que se comprometam com a redução de emissões poluentes.

Podemos considerar evidente o facto de que uma percentagem significativa da poluição atmosférica, comprovada nos dias de hoje, é resultante do grande número de carros a circular nas estradas deste mundo. Continua-se também a registar níveis preocupantes referentes à emissão de gases de efeito de estufa através dos canos de escape dos mais variados veículos, mas Donald Trump não se mostra muito preocupado com esta realidade.

Trump contra medidas sérias

O presidente dos Estados Unidos da América (EUA) faz questão de mostrar o quão empenhado está em impedir que a Califórnia e outros estados implementem medidas mais severas em prol da preservação do meio ambiente. O que estes estados, assumidamente preocupados com a qualidade do ar, têm vindo a propor é que seja imposto um limite dos níveis de emissões poluentes dos veículos em circulação.

O presidente dos Estados Unidos da América considera este tipo de restrições desnecessárias e por isso, em setembro deste ano, decidiu aprovar uma lei federal que vem impedir que os diversos estados da América incentivem à utilização de automóveis menos poluentes ou até livres de quaisquer emissões.

A Califórnia, apoiada por outros 22 estados americanos, não se deixou intimidar e já respondeu em tribunal a esta afronta de Trump. O juiz considerou ser legitimo que este grupo de estados tenha autonomia para implementar as suas próprias regras de preservação do meio ambiente. A medida de forças entre a Califórnia e Trump não se ficou por aqui uma vez que o presidente recorreu ao tribunal de apelo numa tentativa de fazer valer as suas vontades.

Em agosto de 2018, o governo de Trump propôs o congelamento dos requisitos de eficiência de combustível nos níveis de 2020 até 2026, revertendo os aumentos anuais previstos de 5%. Os requisitos finais do governo dos Estados Unidos são esperados nos próximos meses, contudo, prevê-se que devem aumentar modestamente a eficiência de combustível em relação à proposta inicial, com vários fabricantes de automóveis a antecipar aumentos anuais de cerca de 1,5%. Estes valores assumem-se significativamente menos rigorosos do que as medidas decretadas por Barack Obama.

Vários fabricantes apoiam Trump

Ainda que absurdo o desinteresse de Donald Trump pela preservação ambiental e pelo futuro do planeta, ainda há empresas a partilharem da mesma posição. É o caso da National Automobile Dealers Association (Associação de concessionários americana), Toyota, Hyundai, General Motors, Fiat Chrysler Automobiles, Mazda, Nissan, Kia e Subaru. O paradoxo no meio desta “parceria” concretiza-se no facto de estes fabricantes serem particularmente ativos no que toca a questões ambientais, em especial na Europa, China e Japão onde a legislação assim exige.

Perante este “ataque” a Califórnia tomou a decisão de terminar com todas as negociações estabelecidas com estes fabricantes no âmbito da aquisição de uma nova frota de automóveis. “As marcas que escolheram o lado errado da história vão deixar de contar com o poder de compra da Califórnia”, frisou em comunicado Gavin Newson, governador da Califórnia.

Ford, Honda, VW e BMW do lado da Califórnia

A partir de Janeiro de 2020, a Califórnia só vai comprar automóveis aos fabricantes que “reconheçam a autoridade do Conselho de Recursos Aéreos da Califórnia (CARB) para implementar medidas de prevenção ambiental, que respeitem os limites estabelecidos face às emissões poluentes e que se comprometam a continuar com metas rigorosas em prol da redução das emissões dos gases de efeito de estufa dos seus carros”.

Isto significa que a Califórnia vai continuar a comprar veículos na Ford, Honda, BMW AG e Volkswagen AG, marcas que assinaram um acordo com este estado em julho deste ano. Nesse acordo comprometiam-se a continuar a respeitar os padrões exigidos no que toca às emissões poluentes.

Importa ainda referir que o governo californiano investiu nos últimos três anos 69.2 milhões de dólares em veículos da Ford e 565 mil dólares nos da Honda. Não se registou, no entanto, nenhum investimento nas marcas alemãs.

A Califórnia não se ficou por aqui e avisou também que não permitirá que as agências do estado comprem automóveis com motores de combustão interna, sendo que abriu algumas exceções para determinados veículos de segurança pública. É de frisar que estas medidas referentes aos veículos foram adotadas por outros 13 estados.

Apesar de todas as reivindicações avançadas pelo governo de Donald Trump, o aviso ficou feito: “a Califórnia não recuará quando se trata de proteger a população, a saúde e o meio ambiente da poluição que é possível evitar-se”.

Foto de Ann Kathrin Bopp