“O homem mais rico do mundo põe satélites em órbita e usa o sol para captar energia; conduz veículos elétricos que criou, os quais quase não precisam de um um humano para os comandar. Com um movimento dos seus dedos, o mercado de ações dispara ou desmaia. Um exército de devotos paira sobre cada uma das suas declarações. Ele sonha com Marte enquanto cavalga sobre a Terra”. Estas são algumas das frases com que a revista norte-americana Time descreve Elon Musk, o patrão da Tesla, considerado a personalidade do ano 2021 para esta conhecida publicação.
“A ‘Personalidade do Ano’ reconhece a influência, e poucas pessoas foram mais influentes que Elon Musk na vida na Terra, e potencialmente fora dela também”, justifica o editor-chefe da Time, Edward Felsenthal.
O empresário, de origem sul-africana, CEO da Tesla e fundador da SpaceX, agora com 50 anos de idade, é reconhecido pela Time pela sua capacidade visionária e pelos seus investimentos na mobilidade elétrica e autónoma, nas viagens espaciais e em todo uma panóplia de inovações tecnológicas.
Neste ano 2021, Musk superou Jeff Bezos, líder da Amazon, tornando-se o homem mais rico do globo, graças à subida das ações da empresa em bolsa, consequência da crescente aceitação dos seus produtos e da crença que os investidores depositam nos seus desenvolvimentos, entre os quais se encontram todo o trabalhos realizado na Tesla, desde os veículos à construção de giga fábricas, passando pela rede de carregadores SuC.
“POUCAS PESSOAS TÊM TANTA INFLUÊNCIA COMO MUSK SOBRE A VIDA NA TERRA E POTENCIALMENTE TAMBÉM SOBRE A VIDA FORA DA TERRA”, ESCREVE O EDITOR-CHEFE DA TIME, EDWARD FELSENTHAL.
“Este é o homem que aspira salvar o nosso planeta e a dar-nos um novo planeta para habitar: palhaço, génio, provocador, visionário, industrial, exibicionista; um híbrido louco de Thomas Edison, P.T. Barnum, Andrew Carnegie e do Doutor Manhattan dos Watchmen, o taciturno homem-deus de pele azul que inventa carros elétricos e se muda para Marte”, aponta a Time sobre Musk, o genial empresário que revelou este ano ter síndroma de Asperger, uma doença do espetro do autismo.
A revista recorda que a sua empresa de foguetes, que ainda está no princípio, a SpaceX, ultrapassou a Boeing e outras empresas “para ser dona do futuro das viagens espaciais da América”.
Tesla, exemplo para a indústria automóvel
A Time declara ainda que “o seu construtor automóvel, a Tesla, controla dois terços do mercado multibilionário de veículos elétricos em que foi pioneira e está avaliada em um bilião de dólares, cerca de 885 mil milhões de euros”.
“O nosso objetivo com a Tesla sempre foi servir de exemplo à indústria automóvel, esperando que os outros construtores também fabriquem veículos elétricos para acelerar a transição para tecnologias sustentáveis”, lembra Musk sobre a fundação da sua marca de automóveis elétricos.
“Isso fez de Musk, com um património líquido de mais de 250 mil milhões de dólares [221 mil milhões de euros, n.d.r.], o cidadão particular mais rico da história, pelo menos no papel. Ele aposta em robots e no fotovoltaico, em criptomoeda e na defesa do clima, em implantes cerebrais para afastar a ameaça da Inteligência Artificial e em túneis subterrâneos para fazer transportar pessoas e cargas a velocidades super elevadas”, escreve a Time.
Elon Musk e o mundo da finança
Outra das características de Musk salientadas pela publicação americana é o facto dele dominar Wall Street: “A maneira como as finanças funcionam agora é que as coisas são valiosas não com base nos seus fluxos de caixa, mas na sua proximidade com Elon Musk”, escreveu o colunista da Bloomberg Matt Levine em fevereiro.
“Muitas pessoas são descritas como maiores do que a própria vida, mas poucos o merecem. Quantos de nós realmente excedemos a nossa expectativa de vida? Quantas farão parte dos livros digitais que os nossos descendentes viajantes do espaço estudarão? Como Shakespeare observou em Júlio César, é muito mais fácil ser lembrado por fazer o mal do que por fazer o bem. Quantos deixarão uma marca no mundo – muito menos no universo – pelas suas contribuições e não pelos seus crimes? Há poucos anos, Musk foi amplamente ridicularizado como um vigarista louco à beira de falir. Agora, este tímido sul-africano com síndrome de Asperger, que escapou de uma infância brutal e superou a tragédia pessoal, inclina os governos e a indústria à força de sua ambição”, escreve a Time.
“PARA MUSK, A SUA VASTA FORTUNA É UM MERO EFEITO COLATERAL DA SUA CAPACIDADE NÃO APENAS DE VER, MAS DE FAZER COISAS QUE OS OUTROS NÃO PODEM, EM ARENAS ONDE AS APOSTAS SÃO EXISTENCIAIS”, DIZ AINDA A PUBLICAÇÃO.
“Ele foi criado num ambiente difícil e nasceu com um cérebro muito especial”, diz Antonio Gracias, amigo próximo de Musk há duas décadas, que ocupou cargos nos conselhos de administração da Tesla e da SpaceX. “99,9% das pessoas nessa situação não saem disso. Uma pequena porcentagem sai disso com a habilidade que ele tem de tomar grandes decisões sob pressão extraordinária e o impulso sem fim para mudar o curso da humanidade”, declara Gracias, à Time.
“Essa ambição cósmica raramente vem sem consequências, e Musk ainda deve responder às autoridades terrenas. As suas empresas enfrentaram acusações de assédio sexual e más condições de trabalho; em outubro, um júri federal ordenou que a Tesla pagasse 137 milhões de dólares a um funcionário negro que acusou a empresa de ignorar o abuso racial. As empresas também foram multadas por inúmeras violações regulatórias, com as autoridades federais a investigarem o software Autopilot da Tesla, que esteve envolvido num número alarmante de acidentes com veículos de emergência estacionados, de que resultaram ferimentos e morte”, diz ainda a revista que lembra que o “impacto do seu estilo de chefiar duro sobre as equipas é lendário. Antigos associados descreveram Musk como mesquinho, cruel e petulante, especialmente quando frustrado ou desafiado. Recentemente, ele separou-se da cantora Grimes, mãe do seu sétimo filho”.
A Time enfatiza que se a Tesla cumprir as suas promessas, “terá o potencial de desferir um rude golpe contra o aquecimento global” e chama Elon Musk de “o homem do futuro”.
“Ele é um humanista – não no sentido de ser uma pessoa simpática, porque ele não é”, diz Robert Zubrin, fundador da Mars Society, que conheceu Musk em 2001, quando o jovem milionário enviou um chorudo cheque não solicitado para a organização. “Ele deseja a glória eterna por realizar grandes ações e é um trunfo para a raça humana porque define uma grande ação como algo que é ótimo para a humanidade. Ele está ávido por glória. O dinheiro para ele é um meio, não um fim”, diz Zubrin à Time.