O que se passa com a rede de carregamento da Tesla?

06/04/2022

No terceiro videocast “Welectric Talks, Powered by Helexia”, uma mesa-redonda que reuniu alguns dos principais protagonistas da mobilidade elétrica nacional, Luís Barroso, Presidente da Mobi.e desvendou uma das novidades mais esperadas pelos proprietários dos Tesla em Portugal: quando é que ficarão ultrapassados os entraves legais que estão a impedir que abram os SuperChargers (SuC) de Matosinhos e Castelo Branco – já concluídos há algum tempo?

Antes de avançar com uma data, Luís Barroso explicou que a morosidade da abertura desses dois novos postos se prende com uma questão de conformidade à lei. Isto porque a legislação portuguesa obriga a que os postos situados em espaços (mesmo que sejam privados) desde que tenham acesso público, como os da Tesla, estejam ligados à rede Mobi.e.

Aquando da instalação dos seus primeiros Supercarregadores em Portugal, a Tesla beneficiou de uma exceção por parte da tutela, a qual permitiu que a ligação dos postos Tesla à Mobi.e não existisse no momento do arranque. A exceção foi aberta devido à inexistência de infraestruturas deste calibre entre nós, ainda que, desde o início, os responsáveis da Tesla soubessem que esse seria um cenário que seria revisto, a breve trecho.

O que acontece é que esse momento de colocar os postos alinhados com as condições da lei portuguesa chegou e o facto de a Tesla ainda não ter conectado os seus SuperChargers à Mobi.e impede a sua abertura – estão tecnicamente aptos, mas legalmente incapacitados.

Mobi.e não pactua com ilegalidades

“A Mobi.e, enquanto empresa pública, não pactua com situações que não estão de acordo com a lei e nem nunca pactuou com a situação da Tesla em concreto, quer no passado, quer no presente nem no futuro”, deixou claro o Presidente da Mobi.e, no Welectric Talks.

Luís Barroso afirma que “o que a Mobi.e tem de fazer – e está a fazer – é criar as condições para que todos os agentes de mercado que queiram operar no mercado em Portugal na mobilidade elétrica consigam fazê-lo”, em pé de igualdade concorrencial.

“E estamos a trabalhar com todos os agentes do mercado para o fazer. Alguns estão mais adiantados, outros estão mais atrasados”, garante o responsável da entidade gestora pela mobilidade elétrica em Portugal.

“PROCESSO DE NORMALIZAÇÃO COM A TESLA MUITO AVANÇADO”

Relativamente à Tesla, “nós estamos num processo muito avançado de normalizar a situação naquilo que diz respeito à Mobi.e, ou seja, que ocorra a integração tecnológica com a rede”.

Instado pelo moderador do debate, Adelino Dinis, a concretizar no horizonte temporal quando é que essa “integração tecnológica” dos SuperCarregadores na rede Mobi.e se irá concretizar, Luís Barroso lembrou que é algo “que não depende exclusivamente de nós, depende também da própria Tesla”, mas revelou que “garantidamente este ano esta situação vai desaparecer. Garantidamente”, repetiu.

Henrique Sánchez, presidente da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) que também participou na Welectric Talks, recebeu em primeira mão a notícia em plena mesa-redonda, saudando-a e recordando que “o facto de os SuperCarregadores Tesla não estarem ligados à rede Mobi.e faz com que toda a informação respeitante aos seus consumos e energia despendida” passe ao lado das estatísticas oficiais.

Para Henrique Sánchez, esse aspeto não é de somenos, como fez notar: “O que vai ter que acontecer no futuro, seguramente, é que as redes privadas terão que informar uma entidade gestora, neste caso em Portugal é a EGME (Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica) de quais são esses consumos, porque senão como é que um país como Portugal, ou a França ou outro qualquer, pode dizer que está a cumprir ou quanto é que falta cumprir em termos de descarbonização ou número de postos?”

“SE O ELON MUSK LIGAR, RESOLVEMOS A QUESTÃO DOS SUC EM DUAS SEMANAS”, DIZ A MIIO

Presente no painel de debate, Daniela Simões, co-fundadora e CEO da Miio, empresa portuguesa que desenvolveu uma App para carregamento e pagamento de pontos de carga para viaturas elétricas e que conta já com mais de 30 mil utilizadores, concorda que a exigência de que a Tesla cumpra os requisitos legais “é completamente expectável”.

Relativamente à questão de integração dos supercarregadores na rede portuguesa, Daniela Simões diz que tudo se pode resolver rapidamente: “Há várias empresas em Portugal, a minha é uma delas, que tem as licenças e o software. Nós estamos a trabalhar com empresas estrangeiras que querem muito chegar a Portugal e a Miio também vai levar os portugueses lá para fora. Portanto, nós temos o software e temos as licenças. Portanto, tem que haver uma preocupação das entidades em estarem legais cá em Portugal”.

Posto isto, o jornalista Adelino Dinis colocou uma questão a Daniela Simões: “O Elon Musk liga-lhe e diz assim ‘Daniela, quero isso resolvido para a semana. Era possível?”. Resposta da CEO da Miio: “Peço duas semanas”.

Com boa disposição e já no remate da conversa, Luís Barroso aproveitou a “deixa” para comentar de seguida: “Como vê, não é um problema da Mobi.e!. O sistema da Mobi.e tem capacidade para o fazer!”