Portugal quer ter cluster do lítio: Quercus contesta exploração de minério

22/06/2019

O Governo prepara um concurso público para que as empresas que façam a exploração mineira de lítio no nosso país tenham que construir uma refinaria ou estar associado a uma refinaria de lítio em Portugal. Os ambientalistas da Quercus alegam, contudo, que a exploração provocará danos severos no ambiente. O tema vai aquecer nos próximos tempos a discussão em Portugal.

Portugal quer criar um “cluster” do lítio como forma de aproveitar o potencial de minério aqui existente e estar na vanguarda da transição energética, de uma sociedade assente no carbono para uma economia mais livre de carbono.

Nesse sentido, o Executivo prepara um concurso que irá obrigar a que cada um dos concorrentes à exploração mineira de lítio no nosso país tenha que construir uma refinaria ou estar associado a uma refinaria de lítio em Portugal.

O lítio é essencial para a construção de baterias quer de veículos elétricos, quer de outro tipo de equipamentos, designadamente smartphones.

Para o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, “não podemos deixar de explorar o potencial que temos. O que estamos a fazer é a criar um cluster industrial que inclua desde a extração da matéria-prima até a sua transformação”. Para o ministro do Ambiente e da Transição Energética “vai ser um projeto exemplar do ponto de vista do controlo dos impactos ambientais”.

Segundo o Executivo, tinham sido identificados doze locais de elevado potencial de lítio num primeiro documento e numa fase inicial. Destes, três já foram excluídos precisamente porque tinham uma grande sensibilidade ambiental.

Agora, “a ideia é termos aqui um projeto de ‘green mining’, com uma enorme eficiência material, isto é, aproveitando ao máximo todos os resíduos, com enorme eficiência hídrica, isto é, garantindo que a água que circula pode ter mesmo mais que uma utilização, e um rigoroso cumprimento de todas as regras ambientais”, diz este governante que deixa a garantia de que a exploração de minas de lítio em Portugal será feita “com todo o rigor ambiental” e de uma forma “exemplar do ponto de vista do controlo dos impactos ambientais”.

O tema da exploração do lítio promete, contudo, aquecer a temperatura nos próximos tempos, já que a Quercus já fez saber que estará na primeira linha da contestação.

Forum decorre este sábado na Covilhã

Este sábado, 22 de Junho, no Auditório da ARPAZ, Barco, Covilhã, a Quercus organiza o “1º Fórum Nacional de Ambiente e Lítio – A Problemática do Lítio no Contexto Nacional”, onde serão discutidos os impactos da mineração no meio natural e nos ecossistemas.

A Quercus considera “completamente inaceitável a ameaça atual que as explorações mineiras a céu-aberto preconizam” para o ambiente, tendo organizado este forum para desmistificar aquilo que diz ser “o papel do lítio na descarbonização e na mobilidade sustentável”.

A Quercus entende que, sob a ameaça de exploração de lítio pelos projectos mineiros de Ampliação da Mina do Barroso e Exploração Mineira de Sepeda – Montalegre, “é imperioso um esclarecimento por parte da UNESCO, relativo à manutenção da designação de Património Agrícola Mundial do Sistema Agro-Silvo-Pastoril da Região do Barroso, caso se verifique a instalação das explorações mineiras referidas”.

Para os responsáveis da Quercus este movimento é “em tudo semelhante a uma onda de ‘garimpagem’, que em séculos passados caracterizou movimentos de mineração em outras regiões do globo”.

A associação ambientalista apresentou, por isso, já uma denúncia à UNESCO relativa à ameaça que representa a intenção de instalação de duas minas de lítio a céu-aberto em Boticas e Montalegre.

Para a Quercus, há uma “ameaça severa à integridade do sistema agro-silvo-pastoril da Região do Barrosos”, designado Património Agrícola Mundial por parte da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO).

Principais ocorrências de lítio em Portugal

Em Portugal, as seis principais ocorrências de lítio localizam-se na Serra de Arga (concelhos de Caminha, Ponte de Lima e Viana do Castelo), Covas do Barroso (Boticas), Barca d’Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), Guarda, Mangualde e Segura (Idanha-a-Nova).