Depois de termos conversado com Alexander Eriksson, engenheiro da Volvo, sobre condução autónoma, publicamos uma segunda de uma série de três entrevistas sobre as grandes tendências automóveis.
O tema agora abordado é sobre a VR e AR.
Assim, numa conversa com Timotei Florin Ghiurau, o responsável de inovação e especialista em Experiência Virtual da Volvo detalha as vantagens da Realidade Virtual e da Realidade Aumentada e do modo como o próprio gaming está a revolucionar o aperfeiçoar dos modos de condução autónoma.
Watts On (W): A Volvo pretende ser relevante no campo da eletrificação, mas está também a posicionar-se no domínio da digitalização, da Realidade Virtual e da Realidade Aumentada. O que devemos esperar da digitalização no futuro próximo da Volvo?
W: A próxima geração de modelos Volvo terá aplicações de Realidade Aumentada?
TFG: As aplicações de Realidade Aumentada são usadas internamente em pesquisa e desenvolvimento por nós, para melhorar a eficiência no processo, permitindo a colaboração entre departamentos e fronteiras. No entanto, estamos a estudar também o uso dessa tecnologia em concessionários e aplicações voltadas para o consumidor, como os configuradores de veículos.
W: De que modo é que a Realidade Virtual será adotada pela indústria automóvel no futuro? Quais são as ideias da Volvo?
TFG: A Realidade Virtual definirá o futuro dos espaços de trabalho, de colaboração remota e novas maneiras de desenvolver e experimentar produtos.
W: Como é que o gaming está a revolucionar os desenvolvimentos em veículos de condução autónoma?
TFG: A indústria de jogos está a puxar pelos limites do desenvolvimento de software em termos de Inteligência Artificial, computação gráfica e Realidade Virtual. Podemos usar algumas das ferramentas empregues no gaming para criar jogos, como o motor de jogo Unity, para adicionar os nossos modelos automóveis num cenário, criando ambientes, e programando certas funções e comportamentos, de forma muito rápida e eficiente. Também podemos tirar proveito da grande comunidade de jogos e reutilizar alguns dos ativos que essa comunidade está a criar.
APROVEITAMOS O CENÁRIO VIRTUAL PARA TESTAR SITUAÇÕES PERIGOSAS
TFG: No contexto da segurança podemos analisar cenários que são demasiado perigosos de testar na vida real. Nós nunca brincaremos com a segurança ou vida das pessoas, nem com o meio envolvente do veículo. Daí que aproveitemos o cenário virtual para podermos testar a resposta dos utilizadores se um alce atravessa a estrada, em frente de um automóvel. Também podemos analisar o modo como o próprio automóvel reagiria a isso. É um exemplo de uma situação perigosa que não iríamos testar na vida real, além de que é um cenário raro, como outros que analisamos, e para cujos testes no mundo real serem feitos teríamos de conduzir durante milhões de quilómetros para nos depararmos com ele.
TFG: Virtualmente, podemos simular isso quando quisermos e até experimentar diferentes variações, ajustando e captando tantas variáveis e parâmetros quanto possíveis. Usamos, no fundo, as capacidades de recriação virtual para treinar os nossos sensores e modelos para atuar e reagir a este género de situações e também para aprendermos como os utilizadores se estão a comportar perante os cenários, qual o seu estado emocional, o seu nível de stress e o modo como interagem com os nossos sistemas de segurança.
W: Existe algo que não seja possível de testar com os óculos de Realidade Virtual e os fatos hápticos a que a Volvo também recorre?
TFG: Há, de facto, alguns aspetos que não são substituíveis e nós, por essa razão, não confiamos apenas nos testes virtuais. Através dos ensaios virtuais, procuramos estar tão perto quanto possível da realidade e com os sistemas tecnológicos podemos conduzir um carro verdadeiro num circuito de teste para termos maior realismo de movimento captado pelos sensores e sermos capazes de interagir com o ambiente real e físico do veículo e, ao mesmo tempo, sobrepor diferentes objetos virtuais. A tecnologia está a progredir imenso, bem como o realismo e os ambientes foto realísticos. O cérebro humano pode mais depressa ser enganado do que uma máquina de Inteligência Artificial quando fazemos testes destes. Temos diferentes formas de perceção da realidade e da realidade virtual. E ao acrescentarmos sons e impressões táteis aproximamos ambas as realidades. Mas, claro, há muitos casos em que estes testes virtuais não podem ser feitos em regime de exclusividade e é por isso que ainda precisamos de confiar em testes a objetos reais. Mas, de facto, o que os ensaios virtuais nos permitem é realizar mais interações e focarmo-nos na qualidade e termos um imediato feedback. Podemos fazer alterações rápidas e ter um mais amplo número de cenários.
TFG: Tivemos no passado experiências nos nossos estúdios globais e em concessionários que possibilitavam aos seus clientes o uso de Realidade Virtual para perceber melhor as características de segurança e proceder à configuração dos seus automóveis. Agora com a Realidade Aumentada nos telemóveis temos uma colaboração com a Google em que podemos explorar, por exemplo, um XC40 e até ver se o modelo cabe na nossa garagem e aprender mais sobre o veículo e de forma interativa, funcionando como um manual do utilizador interativo. E especialmente a partir da pandemia da COVID-19, isto é ainda mais crucial. Como irão os concessionários no futuro ser é uma questão que se coloca. Penso que muitas destas tecnologias irão, cada vez mais, evoluir nestes espaços das concessões.