São Cristovão da SEAT pode reduzir acidentes em 40 por cento

17/11/2017

A Smart City Expo em Barcelona foi o palco escolhido para a SEAT apresentar a sua visão para o futuro da mobilidade e um concept que promete salvar vidas

O padroeiro das viagens, viajantes e automobilistas, São Cristovão, é o nome escolhido para o protótipo apresentando pela SEAT no Smart City Expo World Congress 2017, que terminou hoje em Barcelona.

O construtor espanhol do grupo Volkswagen aproveitou o maior encontro mundial de cidades inteligentes para apresentar uma série de novidades e partilhar a sua visão sobre o futuro da mobilidade. Entre essas novidades, destaque para o SEAT Leon Cristobal (Cristovão em espanhol), que Luca de Meo, presidente da marca qualifica como “o carro mais seguro da história da SEAT”.

A segurança rodoviária é um dos pilares, muitas vezes subalternizado ou pouco discutido, de uma nova cultura e era de mobilidade humana. Os avanços nos sistemas de segurança ativa e passiva dos automóveis têm tido um impacto positivo quer nos números da sinistralidade rodoviária, quer nos seus efeitos. A transformação digital e conectividade, que são áreas em acelerado desenvolvimento na indústria automóvel, permitem soluções tecnológicas orientadas para a segurança do automóvel.

É precisamente esse o exercício do Seat Leon Cristobal. Identificar as maiores causas de acidentes com origem em erro humano e intervir sobre elas. De acordo com estatísticas internacionais as causas de cerca de 80 por cento dos acidentes rodoviários devem-se a distrações (com uso de telemóvel no topo da lista), excesso de velocidade, fadiga ao volante e excesso de álcool.

Para minimizar os riscos e atuar preventivamente sobre estas causas, o Cristobal tem uma série de dispositivos, que segundo os responsáveis da SEAT, “poderiam reduzir em 40 por cento o número de acidentes de viação, se metade dos veículos em circulação integrasse todos os sistemas que estão incluídos no Cristobal.”

Seria possível Reduzir em 40 por cento o número de acidentes, se metade dos veículos em circulação integrasse todos os sistemas que estão incluÍdos no Cristobal.

Vejamos então quais as “asas” do anjo da guarda da SEAT:

  1. Drive-lock: Dispositivo já prototipado por outros fabricantes que exige que o carro só possa ser desbloqueado depois de um teste de alcoolímetro ligado ao mecanismo da ignição e que bloqueia a viatura caso o teste seja positivo.
  2. Drive-Coach – Imagine que a Siri ou outro assistente de voz passa a ter como função avisos de condução personalizáveis ligados a funções do carro (como travagem de emergência, detector do ângulo morto) e que em vez de um alerta sonoro, tem uma voz a dizer – trava, trava, trava, ou – cuidado olha a moto.
  3. Guardian angel mode: Um modo de condução que aciona a totalidade dos 15 sistema de segurança ativa e passiva do automóvel
  4. Display-mirror: Um retrovisor de maiores dimensões que passa a ser também um ecrã ligado às câmaras traseiras, eliminando os ângulos mortos
  5. Black box: Aplicação que funciona como autêntica caixa negra do automóvel, armazenando o perfil de condução, registando dados e imagens durante a condução e enviando esses dados e um alerta para um smartphone escolhido em caso de acidente
  6. Mentor: Outro dispositivo já testado por outras marcas que permite controlar a velocidade máxima e a localização geográfica do carro quando ele é emprestado a outras pessoas (por exemplo, aos filhos).

A mobilidade na palma da mão

O Smart City Expo World Congress 2017 foi o palco escolhido para a SEAT apresentar outros projetos de mobilidade que está a desenvolver com universidades e com a própria cidade de Barcelona, que é atualmente uma referência internacional como cidade inteligente e líder em inovação para uma nova cultura de mobilidade.

Há seis meses a SEAT lançou as sementes do Metropolis Lab, um centro de estudos para soluções digitais de mobilidade inteligente, liderado pelo brasileiro José Nascimento. A abertura oficial desta incubadora de plataformas digitais onde trabalham mais de 50 engenheiros e técnicos ocorreu ontem e contou com a presença de Luca de Meo, presidente da SEAT, que sublinhou a importância deste projeto no contexto do esforço que o Grupo VW está a fazer no sentido de promover o conhecimento para uma mobilidade sustentável, através de uma rede de centros de inteligência digital: “Há já labs do Grupo VW na China, Alemanha e EUA. Este que hoje abrimos aqui em Barcelona é o primeiro da SEAT. E Barcelona é a escolha natural, não só por ser a cidade berço da nossa marca, mas sobretudo por ser uma cidade que está no pelotão da frente no que respeita a políticas de mobilidade inteligente.”

O presidente da SEAT considera que as políticas de limitação do trânsito nas cidades são uma inevitabilidade e que marcas como a SEAT devem integrar esse esforço de forma responsável e ativa como fornecedores de serviços de mobilidade integrada: “Em Barcelona, 40 por cento do trânsito é feito por carros, 30 por cento em transportes públicos e os restantes com formas de mobilidade suave, ou seja, a pé ou de bicicleta. Um dos desafios à nossa indústria é fazer com que as pessoas continuem a amar o seu automóvel, mas que o possam usar num ecossistema mais livre, eficiente e ecológico.” Essa é a missão do Metropolitan Lab. Desenvolver soluções que melhorem a mobilidade das pessoas e dos clientes da marca.

“Um dos desafios à nossa indústria é fazer com que as pessoas continuem a amar o seu automóvel, mas que o possam usar num ecossistema mais livre, eficiente e ecológico.”

José Nascimento explica que o trabalho desenvolvido pelo Metropolis Lab e colaboração com o Universidade Politécnica de Barcelona e com as autoridades municipais é conseguir transformar os dados e a informação disponível em ferramentas capazes de promover uma mobilidade mais eficiente: “Toda a gente está conectada, numa rede vasta de mobilidade. A gestão dessa informação pode dizer-nos, por exemplo a que velocidade deve circular o carro para o trânsito fluir melhor. A tecnologia permite-nos pensar no futuro e desenhar as soluções com previsibilidade. Imagine um parque de estacionamento conectado, que informa o automóvel que tem lugares disponíveis e no que isso pode melhorar a fluidez do trânsito nas cidades.”

Entre os projetos desenvolvidos pelo Metropolis Lab, destaca-se o “About it”, uma aplicação que identifica as zonas em obras que podem afetar o trânsito ou os pontos negros da sinistralidade automóvel em Barcelona.

Outro trabalho em fase de desenvolvimento é uma aplicação de ride sharing, que permita “facilitar a mobilidade dos cidadãos com a criação de comunidades que partilhem trajetos interurbanos”.

Os trabalhadores da fábrica da SEAT em Martorell são um exemplo avançado por José Nascimento, do tipo de utilizadores que podiam beneficiar desta ferramenta: “Milhares de pessoas deslocam-se todos os dias de Barcelona para a fábrica, muitas delas em transporte privado. Se pudessem calendarizar essas viagens em partilha com colegas, seria possível reduzir o trânsito, as emissões e dar uma vantagem económica óbvia aos utilizadores.”

Finalmente, o Metropolis Lab tem também em fase de desenvolvimento o projeto “on demand bus” que pretende “otimizar o uso das linhas de autocarros existentes proporcionando rotas flexíveis que se adaptam à procura em tempo real.” A aplicação já se encontra em fase beta na cidade de Wolfsburgo na Alemanha, para mais tarde ser adaptada a Barcelona.

Consciente que a digitalização e os serviços são centrais no futuro da mobilidade nas grandes cidades, a SEAT quer estar preparada para ser uma agente de mobilidade inteligente e não um obstáculo: “Este laboratório combina tecnologia móvel e Big Data para otimizar a relação entre cidadãos, a cidade inteligente e os serviços de mobilidade. O objetivo que perseguimos está na melhoria da mobilidade, tornando a vida dos cidadãos mais segura, mais sustentável e mais eficientes nas cidades inteligentes em que vivemos.”

Elétricos, autónomos e ligados à cidade

Cidades inteligentes e mobilidade foram o tema central do maior evento mundial do género que decorreu durante três dias em Barcelona: 700 cidades, mais de 600 expositores e 420 oradores estiveram representados nesta iniciativa que levou aos pavilhões da FIRA de Barcelona mais de 8 mil visitantes.

Além da exposição, onde marcaram presença empresas do setor tecnológico, países, cidades, transportes e apenas duas marcas automóveis (SEAT e Ford), o evento foi também um palco de reflexão e partilha de experiências sobre as melhores práticas no desenvolvimento de soluções sustentáveis para vários aspetos da vida das cidades do futuro; da segurança ao urbanismo, das infraestruturas à rede de energia, da mobilidade ao tratamento de resíduos e à poluição.

Calcula-se que em 2050 cerca de 7 mil milhões de pessoas vivam em grandes metrópoles e que o trânsito rodoviário e ferroviário venha a duplicar

Calcula-se que em 2050 cerca de 7 mil milhões de pessoas vivam em grandes metrópoles e que o trânsito rodoviário e ferroviário venha a duplicar, isso aumentará fortemente a pressão sobre a rede de mobilidade com consequências óbvias nas emissões de CO2. A mobilidade elétrica e a condução autónoma são por isso dois pilares fundamentais para o transporte nas cidades do futuro.

Na área de estacionamento exterior do FIRA , uma frota de SEAT Mii elétricos está disponível para um pequeno tour por Barcelona. O primeiro veículo elétrico da marca espanhola vai integrar uma experiência piloto de car sharing na Universidade Politécnica de Barcelona e nesta pequena volta a Barcelona o utilizador pode experimentar a ligação entre o smartphone e o Mii elétrico.

É através do smartphone que é possível monitorizar muitas das funções e dados do Mii. “O smartphone é hoje um centro de dados que por acaso também serve para telefonar. A mobilidade como serviço passará a estar totalmente integrada naquilo que se chama a internet das coisas. O smartphone é o meio de nos ligarmos com essa rede de mobilidade e também o meio dessa rede de mobilidade usar os nossos dados para nos prestar um melhor serviço através da criação de algoritmos que analisem os nossos padrões de mobilidade e sirvam para criar respostas eficazes às nossas necessidades”, explica José Nascimento.

Quanto à condução autónoma, que ainda se encontra numa fase embrionária de desenvolvimento, será inevitavelmente uma consequência da transformação digital que as cidades e os seus sistemas de transportes vão sofrer nos próximos anos: “A cidade e a infraestrutura de mobilidade estará conectada aos veículos autónomos e a gestão do tráfego e da informação será feita de forma que esses veículos autónomos sejam controlados num ecossistema mais vasto, como uma cidade”, completou o responsável pelo Metropolis Lab.

Um incidente entre autocarros autónomos

Na área contígua ao stand da SEAT no Smart City Expo World Congress 2017, uma pista desenhada no chão, com obstáculos e curvas, serve de palco para uma corrida muito especial. Equipas formadas por estudantes com formação técnica em robótica colocam no asfalto, ou melhor, na alcatifa, os seus protótipos de condução autónoma.

Parecem carrinhos telecomandados, mas na verdade são robôs criados para poderem mover-se numa pista com obstáculos através de sensores e de um processador de inteligência artificial. A Autonomous Driving Challenge, foi uma competição organizada pelo CARNET (um centro de estudo em excelência na mobilidade) em conjunto com a SEAT que visa criar “Um desenvolvimento aplicável e escalável para algoritmos de condução autónoma na vida real e proporcionar aos estudantes a capacidade de participar na criação deste conceito de mobilidade do futuro.”

À escala e na vida real está já um bom exemplo da aplicação dos princípios de condução autónoma, o pequeno autocarro modular da Navya que dispensa o motorista.

A startup francesa tem já alguns destes modelos a operar, por exemplo em Lyon, já que a empresa de transportes daquela cidade é subsidiária da Navya. No exterior dos pavilhões da exposição uma pista de duas linhas serve para os visitantes poderem experimentar os autocarros autónomos das duas empresas concorrentes.

Por pouco não estive envolvido no primeiro acidente registado entre dois autocarros autónomos. Seria um momento pioneiro, não dos mais agradáveis é certo, mas pioneiro

Entro a bordo do Navya para ter uma visão do futuro dos transportes coletivos. A uma velocidade baixa o pequeno autocarro vai circulando enquanto o responsável da empresa me vai explicando como funciona e onde já está em operação. A bordo vai também um motorista, de mãos nos bolsos: “É obrigatório por lei estes veículos terem um motorista qualificado a bordo”, explica-me. Depois de descrever uma curva certinha e geométrica o Navya encaminha-se para a reta onde o seu rival anda em manobras: “Se detetar algum obstáculo, ele para automaticamente”, diz confiante o francês, mas a verdade é que os dois autocarros rivais se vão aproximando perigosamente um do outro. Um embate parece estar eminente, e o motorista pega rapidamente num joystick parecido com as consolas de jogos e consegue imobilizar o Navya, antes deste embater a uma velocidade de 10 km/h no seu rival. Por pouco não estive envolvido no primeiro acidente registado entre dois autocarros autónomos. Seria um momento pioneiro, não dos mais agradáveis é certo, mas pioneiro.

Mesmo que muitas destas tecnologias ainda estejam em fase embrionária, a verdade é que o futuro costuma ser muito mais rápido do que julgamos ser possível. Digitalização, conectividade, Big Data, mobilidade elétrica, car sharing, internet das coisas, condução autónoma ou o futurista projeto Hyperloop de Elon Musk, também apresentado aqui em Barcelona, farão parte das nossas vidas e muito mais depressa do que esperamos. A SEAT sabe isso e quer marcar lugar na mobilidade do futuro.

Não sei o que São Cristovão, padroeiro dos viajantes e automobilistas acha disto tudo, mas certamente que aceitará de bom grado toda a ajuda que a tecnologia lhe possa dar no desempenho do seu trabalho.

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