A ideia que temos do progresso já não é sustentável, diz o designer finlandês, que quer equipas criativas e multidisciplinares a pensar nas soluções alinhadas com as necessidades dos habitantes.

De cada vez que precisamos encontrar soluções para problemas, somos lentos e pouco eficazes: “Duas décadas para proibir o tabaco em espaços públicos fechados ou três anos para mudar o nome de uma estação de metro em Helsínquia”, exemplifica Marco Steinberg, o designer finlandês e consultor internacional que, logo pela manhã, pôs a plateia do Portugal Mobi Summit a repensar a mobilidade.

Mais do que rapidez nas respostas, do que precisamos, nesta era de pandemia, é de uma “agenda transformadora” capaz de redefinir os “nossos velhos conceitos”, sem, contudo, os destruir. A começar pela própria ideia que temos do progresso que já não é sustentável nem cria as mesmas oportunidades sociais e económicas para todos: “Vai ser preciso dar um passo atrás e olhar para todos os ângulos”, adverte o CEO da Snowcone & Haystack.

Essa é a visão que o especialista finlandês propõe para encontrar “perspetivas criativas” mais abrangentes do que o desenho das ruas e dos automóveis a circular nas cidades. A lógica das instituições está afunilada e não consegue ver para lá dos seus próprios muros. “É comportamento típico de quem trabalha fechado num contexto muito específico e acaba por desenvolver uma visão enviesada.” Está na hora, por isso, de abrir as portas e deixar entrar outros especialistas que vão trazer para cima da mesa abordagens sociais, ambientais e económicas: “Precisamos de equipas pequenas, mas interdisciplinares, a trabalhar de forma criativa.”

A mobilidade – adverte Steinberg – não se resume a carros, praças e edifícios, mas estende-se também pela restauração, pelo comércio, pelo digital ou pelos “lugares de encontros” que juntam os seus habitantes. A Covid -19 obrigou agora a repensar a forma como vemos as cidades para proteger as comunidades dos riscos de infeção: “Este é um bom pretexto para encontrar novas políticas de transporte e outras dinâmicas urbanas para servir as pessoas.”

É também a oportunidade para mudar a lógica das instituições: “Antes da pandemia era preciso debater os problemas e convencer as pessoas a alterar os comportamentos.” O que mudou com a Covid-19 é que as instituições tiveram de criar soluções para garantir a segurança sanitária. Ciclovias, passeios mais amplos ou estacionamento interdito entraram praticamente da noite para o dia nas dinâmicas urbanas: “As pessoas experimentaram novas mobilidades e mudaram os comportamentos.” E esta é uma “nova abordagem” que poderá “estar agora a nascer”, conclui o fundador da Snowcone & Haystack.