Jean-Pierre Jabouille: “Antes a Fórmula 1 era mais humana”

29/08/2019

Passou, muito possivelmente, ao lado de uma carreira com maior sucesso do que aquele que teve, com apenas dois triunfos em grandes prémios numa época em que a Fórmula 1 era um desporto perigoso e muito mais variado nas lutas em pista com grandes nomes como Mario Andretti, Niki Lauda ou Alan Jones, entre muitos outros. Mas a Jean-Pierre Jabouille ninguém pode retirar o feito histórico de ter sido o primeiro piloto a triunfar ao volante de um carro com motor turbo.

Neste caso, não se tratou de um carro qualquer, nem de um grande prémio como os demais: Jabouille triunfou no Grande Prémio de França de 1979, disputado no curto circuito de Dijon-Prenois, aos comandos de um monolugar francês, da Renault, e com um fornecedor de pneus igualmente ‘tricolor’. Receita quase perfeita para um sucesso que vinha a ser preparado desde que a marca francesa surgiu no Grande Prémio da Grã-Bretanha de 1977 com os seus inovadores Renault turbo. E só não foi, então, perfeita, porque Gilles Villeneuve, ao volante de um Ferrari, negou a René Arnoux, noutro Renault, o segundo posto após uma batalha que também ficou gravado na história da competição.

Mas, como em tantos outros casos, inovação não ‘rimou’ com sucesso logo à primeira. Os primeiros tempos da Renault na Fórmula 1 foram bastante complicados, como nos explicou em entrevista, o antigo piloto, agora com 76 anos de idade e uma jovialidade de espírito que o corpo começa a já não acompanhar.

Recordando o seu passado desportivo antes de chegar à modalidade rainha do automobilismo, Jabouille explica que “tinha feito muitas coisas, desde a F2 à F3, mas o topo foi a Fórmula 1, que, para mim, era mais uma questão de desporto, havia pouco dinheiro a circular. As coisas eram mais equilibradas, porque hoje, na F1, o Hamilton ganha sempre e a Mercedes está à frente de todos e os outros construtores estão atrás deles e não os conseguem apanhar”.

Até ao primeiro triunfo, as dificuldades da equipa e dos pilotos foram sempre muito grandes, mas o conceito persistiu: “Na altura, pensei que era difícil, mas que era apenas uma questão de tempo e que iríamos conseguir atingir bons resultados”, afirmou, observando que uma grande parte do sucesso posterior se deveu “a muita pesquisa e a muito terreno para pesquisar”.

“Pouco a pouco, através disso, conseguimos fazer um carro que começasse a andar bem e que os outros se interessassem também pelo carro. Mas, fiquei pouco tempo. Ainda assim ganhei dois grandes prémios”, explicou, antes de apontar as severas sequelas de um acidente no GP do Canadá de 1980 como causadoras de um final antecipado de carreira na Fórmula 1.

“Hoje, consigo andar, mas tenho grandes dificuldades com as pernas e não consigo fazer muita coisa. Fui operado três anos seguidos, mas consigo estar aqui, convosco [NDR: em ações com a imprensa] e dá-me ânimo estar aqui e fazer isto”.

Momentos antes, Jabouille tinha regressado a um banco que conhecia bem: ao do Renault RS011 que pilotou em 1979 para algumas voltas de demonstração ao circuito de La Ferté Gaucher, ficando naturalmente aquém dos limites da máquina, mas recuperando as mesmas sensações de pilotagem que o satisfizeram no passado. Sobre a Fórmula 1 atual, aponta que a “F1 precisa de manter-se humana. Hoje, perdeu um pouco isso”.

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“Costumo dizer que tínhamos mais afinidades com outros pilotos naquele tempo. Antes conhecia todos, sabia tudo e fazia muito, muito trabalho técnico com os pilotos da época, hoje é muito diferente. Hoje, o piloto é 50% da performance do carro e o resto é política. Antes, era o inverso, 90% do piloto e 10% da política. A diferença é importante e se continuarmos assim vai ser ainda maior”, acrescentou o francês, que permanece ainda hoje como uma figura aliada ao espírito de vanguarda de um período importante da Fórmula 1.

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