Tal como fez na Fórmula 1, a metodologia de competição turbo foi também aplicada pela Renault nos ralis, com o 5 Turbo, um modelo que viria a fazer história no Mundial de Ralis. Reconhecendo a paixão e a lealdade à marca francesa, Ragnotti nunca deixou a Renault ao longo de uma carreira na qual teve vários pontos altos, conforme explicou ao Motor24 numa breve conversa que teve lugar em Paris.
Nunca tendo deixado a Renault, Jean Ragnotti não lamenta esse facto, recordando que foi na Renault que teve acesso a um amplo leque de possibilidades de competição diferentes. Ainda assim, confessa que teve convites de outras marcas.
“Tive convites de outras equipas, como a Peugeot de Jean Todt [NDR: antigo diretor da divisão desportiva da Peugeot entre as décadas de 1980 e 1990], mas a Renault permitia-me conduzir outros carros e dava-me prazer… Fornecia-me a melhor escolha de carros de competição. Além dos ralis, também fiz [as 24 Horas] de Le Mans por sete vezes e adorei”, refere o ex-piloto, hoje com 73 anos, mas ainda com grande energia.
Sobre os carros do passado, recorda que eram máquinas mais difíceis de gerir, até pela forma como a entrega da potência era feita, com alguma brusquidão pela entrada em ação do turbo numa era em que a tecnologia de sobrealimentação estava ainda a dar os seus primeiros passos na indústria automóvel. E aponta o Renault 11 Turbo Grupo A como aquele que lhe concedeu melhor prazer de pilotagem.
“Com o 11 Turbo obtive o melhor resultado da carreira [NDR: foi vice-campeão de Ralis da FIA na categoria de 2 Rodas Motrizes]. Tinha apenas duas rodas motrizes mas a sua eficácia era extraordinária”, aponta, acrescentando ainda que “na terra, o 11 era melhor do que o 5, não era tão potente, mas era mais fácil de explorar o motor”.Mas foi com o 5 Turbo que causou sensação, ao vencer o Rali de Monte Carlo de 1981 de forma inesperada, batendo máquinas que, à partida, estariam melhor preparadas para os pisos sempre arriscados da prova monegasca. Recorda que era um motor “algo violento e que era preciso estar sempre muito concentrado na pilotagem”, mas que em 1982 se “tornou mais fácil e suave de conduzir depois de um ano de trabalho dos engenheiros da Renault”.
Elege ainda o Renault 8 Gordini “como um ótimo carro para servir de escola de aprendizagem para a pilotagem de alto nível” e recorda que uma das suas qualidades ao longo da carreira foi a facilidade de adaptação a diversos carros e pisos.
A comparação com a atualidade é sempre tema e Ragnotti não se coibiu de fazer uma apreciação do que mudou em cerca de quatro décadas: “Os ralis do meu tempo eram muito mais longos e exigentes. Quando fazíamos um rali do mundial na época eram dois ou três dos atuais. Hoje, começa-se na sexta-feira de manhã e são cerca de 300 quilómetros…”. Também os carros, diz, “parecem ser mais fáceis de conduzir, o que até alguns pilotos dizem”, fazendo também uma hierarquia de favoritos no Mundial de Ralis atual.
“Há alguns pilotos muito fortes hoje, mas diria que o Ott Tanak está um pouco mais rápido do que os outros, como o Sébastien Ogier ou o Thierry Neuville, mas são todos muito semelhantes. Também me parece que os carros têm todos uma performance muito semelhante hoje em dia”.
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