Num domingo de julho de 1955, mais uma jornada de corridas no circuito de La Sarthe que se engalanou para receber mais de meio milhão de visitas, entre pilotos, staff e fãs ansiosos para acompanhar ao vivo de um novo duelo histórico entre Mercedes, dominadora naquele momento, e a armada britânica da Jaguar, a oposição que contava. A estrela da equipa germana era o mítico Fangio, para muitos o melhor piloto de todos os tempos. Com as cores da Jaguar destacava-se Mike Hawthorn, um jovem de apenas 26 anos já com traços de génio, senhor de um talento incomum e de forte personalidade.
O que não passava para os jornais da época era que estava doente. Gravemente doente. Os médicos não acreditavam que chegasse a completar os 30 anos de idade. E o “Golden Boy”, como carinhosamente lhe chamavam os fãs, não pensava em muito mais do que viver da forma mais intensa possível para as suas três grandes paixões: mulheres, bebida e velocidade.
Nas pistas deixava tudo o que tinha. Inclusive sinais evidentes do estilo de vida… explosivo. E sabia-se que, em competição, poucos se sentiam confortável com a sua atitude temerária ou com a condução praticava. Os acontecimentos em pista acabariam por dar-lhes razão.
Travagem para o caos
Decorridas pouco mais de duas horas de corrida, Hawthorn comandava a luta com Juan Manuel Fangio quando na reta que antecedia a entrada das boxes recebeu sinal da Jaguar para parar e reabastecer. Sem querer dar mais uma volta, ele cortou para a direita logo após a rápida ultrapassagem ao compatriota Lance Macklin e travou… a fundo!Macklin reage, Pierre Levegh, no outro Mercedes de fábrica, acerta a toda a velocidade na traseira do Austin-Healey de Macklin, para depois levantar voo e embater com estando no muro à frente. O ‘Flecha de Prata’ desintegrou. O eixo dianteiro e o bloco do motor soltaram-se e, com a altíssima velocidade do carro, voaram por metros em direção às arquibancadas. Vários espectadores perderam a vida naquele momento. Outros foram feridos, queimados pelas chamas que se espalharam rapidamente, ateadas pelo facto de a Mercedes recorrer a componentes de magnésio, um metal mais leve, mas altamente inflamável.
Levegh foi cuspido do seu carro, morrendo na sequência do impacto.
Por todo a parte, o cenário dantesco era de um filme de terror. Porém, de forma surreal, a corrida não parou — a organização viria a justificar a sua decisão como uma tentativa de controlar o pânico entre a assistência —, ainda que a Mercedes tenha decidido, posteriormente, retirar todos os seus pilotos da competição, oferecendo a vitória à Jaguar e a Mike Hawthorn, que não se livrou de ser apontado pela imprensa europeia em peso como o responsável pela tragédia.
Hawthorn, porém, sempre negou qualquer culpa: “Na minha opinião, deixei tempo suficiente para qualquer carro que estivesse atrás de mim perceber o que eu ia fazer”. Ainda assim, o piloto chegou a ponderar retirar-se dos traçados — o que não chegou a fazer.
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