As corridas de resistência envolvem uma grande quantidade de fatores inesperados, alguns dos quais envoltos em detalhes que podem evitar perdas de tempo que se revelam desastrosas para um bom resultado na classificação final. A Alpine ELF Matmut, equipa que compete no Mundial de Endurance (WEC) revela como se controlam alguns dos imponderáveis a partir das boxes.

Os pequenos detalhes podem ditar o sucesso ou a derrota ao mais alto nível, sobretudo quando se disputam corridas ao milésimo, como é o caso do Campeonato do Mundo de Endurance (WEC), que junta equipas como a Toyota Gazoo e a Alpine, mas que em breve contará com uma série de novos nomes, como a Audi, Peugeot, Porsche e Ferrari, entre outros.

É a partir do muro e do interior das boxes que se decide muito do que se passa no asfalto da pista. E é também aí que se controlam todos os pormenores, recorrendo a uma equipa especializada de engenheiros e à telemetria de última geração, conforme nos explicou Christophe Deville, diretor de comunicação para a área da competição da Alpine, durante uma visita às boxes do circuito de Portimão, no Algarve, onde se disputou a segunda ronda do campeonato.

“Temos de ter tudo sob controlo. Aqui podemos aceder a todos os dados em tempo real do carro em pista, podemos ver os picos de potência do motor a partir de um monitor, com um engenheiro especializado a monitorizá-lo constantemente, ou as temperaturas e pressão dos pneus a cada momento”, afirma, referindo-se ao pequeno espaço nas boxes onde se transmitem quantidades gigantescas de dados para análise do Alpine.

“É importante que, por exemplo, o motor seja constantemente monitorizado porque eventuais picos de potência podem simbolizar algum problema ou podem gerar problemas, porque a FIA [Federação Internacional do Automóvel] também tem acesso aos mesmos dados que nós e isso pode levar a uma investigação”, diz ainda Deville, dando conta da grande quantidade de sensores que cada automóvel de competição tem.

Nada fica ao acaso durante um fim de semana de competição, com todos os dados recolhidos a serem cuidadosamente analisados pela equipa de engenheiros.

Sem precisar um número para o seu protótipo Alpine A480 Gibson, aquele responsável da Alpine explica que a sua importância é fundamental. “Temos sensores que nos dizem se algo está mal, podendo ser importante quando o piloto diz que tudo lhe parece bem, ou vice-versa. Vemos os problemas em tempo real e temos de ser muito, muito rápidos na resposta, como vimos na edição do ano passado das 24 Horas de Le Mans: logo na primeira volta tivemos um tubo que se desencaixou e o sensor deu logo conta, dando-nos tempo de avaliar até ao regresso do carro à boxe as causas e a resposta a dar”, assume.

A prova rainha de resistência é também usada por Deville para corporizar o lema da equipa de ‘nunca dar nada por perdido’. “Nessa prova, caímos logo para o fundo da classificação, mas, sendo algo que nos define, nunca desistimos e conseguimos recuperar até ao oitavo lugar final e quarto da categoria [LMP2]”, refere.

Nas boxes há ainda um responsável que, a partir de uma câmara montada em posição superior, consegue ver a movimentação e o decorrer de todas as paragens nas boxes, de forma a obter melhorias nos processos de mudanças de pneus e de trocas de pilotos. “Em Le Mans, fazemos cerca de 30 paragens nas boxes. Se perdemos mais dez segundos em cada uma delas do que o necessário, no final temos uma grande quantidade de tempo importante que se perde”, refere.

O desafio maior voltará a ser a edição de 24 Horas de Le Mans deste ano, razão pela qual as provas do Mundial de Endurance até lá chegar servem também de teste geral aos procedimentos, para que tudo corra pelo melhor, este ano com a novidade de surgir na categoria principal, a Hypercar.

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