Com uma pista de testes tão versátil e interessante como Balocco, em Itália, a Abarth fez questão de mostrar as reais competências do novo 500e precisamente neste circuito em que dezenas de outros carros camuflados do Grupo Stellantis vêm fazer testes de desenvolvimento. As conclusões iniciais demonstraram que a Abarth fez um ótimo trabalho para manter a diversão na era da eletrificação.

A companhia italiana decidiu preparar uma comparação direta, sem receios, entre os 695 com motor a gasolina de 180 CV e caixa manual e o novo 500e, totalmente elétrico e com 155 CV de potência. Ambos com tração dianteira e uma postura muito irreverente, mesmo que não radical. A chuva ligeira que teimou em cair em Itália (pela mesma altura surgia a informação de que o GP de Fórmula 1, em Imola, tinha sido cancelado devido ao mau tempo…) não ajudou a tirar o máximo partido do asfalto, mas ajudou a clarificar a noção de que o novo Abarth faz aquilo a que se propõe – oferecer uma diversão de condução superior.

Face ao 695 (que se mantém em comercialização até 2024), o novo Abarth elétrico beneficia de um aumento de 24 mm na distância entre eixos, o que melhora a sua agilidade, enquanto na distribuição de peso, a dianteira representa 57% e a traseira 43%. A largura de vias aumentada em 60 mm tem o condão de melhorar a estabilidade.

Ao nível do chassis, a marca empregou molas específicas na suspensão, em parelha com amortecedores dedicados, enquanto o sistema de travagem foi reforçado com a presença de discos de travão traseiros de 278×12 mm com pastilhas em cobre. Nota ainda para a estreia de pneus Bridgestone desportivos para elétricos, desenvolvidos em parceria com a Abarth, procurando dessa forma fomentar ainda mais o dinamismo do conjunto.

A Abarth procedeu a algumas alterações no conjunto motor/caixa/bateria para melhorar as prestações e a capacidade de resposta: em primeiro lugar, tanto o motor elétrico, como o inversor, foram otimizados para reduzir as perdas elétricas, ao passo que na caixa alterou-se o rácio de 9.6:1 no Fiat para 10.2:1 no Abarth. Dessa forma, obtém um maior equilíbrio entre aceleração e velocidade máxima.

O motor elétrico passa assim a debitar 114 kW/155 CV de potência e 235 Nm de binário, tirando partido igualmente de um mapeamento diferente do pedal do acelerador, consoante o modo de condução selecionado.

À frente do condutor encontram-se dois grandes ecrãs: o primeiro é o painel de instrumentos digital TFT de 7” com gráficos dedicados, sobretudo atendendo ao facto de dispor de diferentes modos de condução, enquanto ao centro reside um amplo ecrã tátil de 10.25″ do sistema de infoentretenimento – o Uconnect rádio NAV – com as novas Performance Pages, menus especificamente concebidos para o novo Abarth elétrico. Os sistemas Apple CarPlay e Android Auto estão igualmente disponíveis.

Sensações de pista

A comparação direta, saindo de um carro para o outro, serviu precisamente para deixar bem à vista a forma como a entrega da potência é mais rápida na versão elétrica, mesmo que não seja uma diferença brutal. Há efetivamente uma reação mais eficaz em baixas rotações no 500e, o que no caso do motor de combustão se explica com as rotações que precisam de ganhar ânimo, enquanto no outro caso o binário elétrico está disponível de imediato.

A sonoridade Record Monza proveniente do altifalante adiciona uma camada suplementar de emoção que se julgava perdida nos elétricos, ainda que também nunca desapareça da nossa mente a constatação de que… é a fingir. Mas insere-se na categoria dos bons fingimentos…

Foto: Mauro Ujetto/LaPresse

Muito bem-vinda é a posição de condução mais baixa e com mais ajustes, que permite maior naturalidade ao volante, enquanto o aumento nas dimensões ajuda, sobremaneira, a que o 500e seja mais estável em curva e muito ágil nas mudanças de direção repentinas. O tato do pedal do travão, em modo ‘Scorpion Track’, também nos pareceu muito bom, com ótima capacidade de paragem. Aquilo que se perde um pouco mais no 500e, pelo menos em pista, é a possibilidade de usar a progressividade do acelerador para ajustar a passagem em curva durante a mesma, embora o elétrico traga, em contraponto, uma maior vivacidade à saída da curva, fruto do binário elétrico.

Por outro lado, a experiência de trocar de mudança após uma subida de regime até ao ‘redline’ em segunda, ouvir o escape a borbulhar e, novamente, colocar o pé no acelerador com um maior doseamento do mesmo para fazer o carro rodar em curva ao nosso gosto continua a ser um exclusivo do 695 com motor 1.4 T-Jet de 180 CV…

Finda a experiência em pista, conclui-se que o Abarth 500e cumpre com a sua missão de divertir e de oferecer uma experiência em linha com a ideia de um desportivo emotivo, libertando-se daquele que é um dos maiores problemas dos elétricos que se dizem desportivos, que é a inércia causada pelo peso da bateria. Aqui, isso não existe ou é praticamente impercetível.

A impressão foi depois confirmada num breve ensaio por estradas públicas, no qual demonstrou também outra credencial: a de uma vivência confortável e amistosa, com consumos energéticos moderados e suspensão perdulária o suficiente para que não se torne fastidioso, mesmo em mau piso. A estabilidade e a aderência elevada ficam também patentes em percursos mais sinuosos, merecendo por isso a ideia de que este é um digno herdeiro da linhagem Abarth.

O novo Abarth 500e chega aos concessionários entre junho e julho, com preços de entrada nos 38.030€ no caso da versão base, ao passo que o mais equipado ‘Turismo’ tem um preço base de 41.030€.

Em suma

Uma abordagem que dá esperança ao universo dos ‘petrolheads’ que sabem o que o futuro reserva – a eletrificação plena. Mas isso não tem de representar o final das emoções ao volante para todos aqueles que têm nas curvas um gosto especial. O 500e não chega a ser o desportivo extremo que talvez muitos apreciariam, sendo antes um ótimo equilibrista de fatores e de conteúdos que lhe permitem ser, acima de tudo, divertido de conduzir e de explorar, mas sem ser desconfortável ou intrusivo (até a sonoridade Record Monza artificial pode ser desligada).

FICHA TÉCNICA
Abarth 500e Turismo
Motor elétrico: Síncrono de íman permanente, único
Potência: 114 kW/155 CV
Binário: 235 Nm
Bateria: Iões de lítio, 42 kWh
Transmissão: Dianteira, caixa automática de relação única
Aceleração 0-100 km/h: 7,0 s
V. Máxima: 155 km/h (limitada)
Consumo médio (WLTP): 18.1 kWh/100 km
Autonomia elétrica (WLTP): 265 km
Carregamento (0-100%): 4h15 a 11 kW (AC trifásico); 35 min. de 10-80% a 85 kW
Dimensões: (C/L/A) 3632/1683/1527 mm
Distância entre eixos: 2322 mm
Pneus: 205/40 R18
Peso: 1375 kg
Bagageira: 185 litros
Preço: 41.030€

*Em Balocco, Itália.

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