Kia XCeed 1.4 T-GDI DCT7: Exceder as expectativas

24/10/2019

“A moderação é uma coisa fatal. Nada tem mais sucesso do que o excesso”: a frase é de Oscar Wilde e poderia ser uma boa forma de apresentar o novo XCeed, modelo que vem dar mais vida ao mercado europeu de automóveis de estilo SUV e que reforça a gama com uma nova variante. A família Ceed é agora composta por quatro carroçarias e a que pode ver nas imagens tem todos os condimentos para se transformar na mais vendida de todas. Um excesso bem-sucedido.

Numa cadência implacável, a Kia não trava o seu ímpeto no mercado europeu, lançando novos modelos orientados para o Velho Continente. Primeiro, foi o caso da Proceed, uma carrinha ‘shooting brake’ estética e dinamicamente impactante. Agora, surge a carroçaria que ataca o segmento da moda, o dos SUV médios. Poderá o leitor perguntar se não havia já um modelo do género, com o Sportage e fá-lo-á bem. A marca assegura que o XCeed vem assumir-se como uma oferta complementar, visualmente mais desportiva e capaz de cativar os mais jovens com atributos de espaço, design e condução.

No caso deste modelo, o visual é ponto forte, com elementos distintivos, como a grelha dianteira de lâmina dupla e desenho diferenciado, os faróis com iluminação LED, ou os para-choques distintos, a que se juntam as jantes de 18 polegadas para uma aparência forte, envolvidas em cavas das rodas com proteções em plástico. Mas é na traseira que se apresentam as maiores diferenças face a um Ceed – farolins redesenhados, pilar C com curvatura suave e para-choques com difusor cromado (contendo dupla saída de escape que não o é… são meras aplicações em cromado, uma vez que o tubo de escape está escondido na zona inferior da carroçaria) em contraste com o plástico negro, o mesmo que envolve as cavas das rodas, passa pelas saias e chega à secção inferior dianteira, onde também se contam elementos em cromado.

Por dentro, este Xceed também é ‘pedrada’ na monotonia: painel de instrumentos digital ‘Supervision’ de 12.3 polegadas (configurável e com formato diferente quando escolhido o modo Sport de condução), posição de condução elevada, volante desportivo com base plana e maior esforço de contraste entre cores e o plástico negro do habitáculo – a qualidade é também ponto muito positivo, bem como a construção de forma geral, obedecendo aos mais objetivos critérios de rigor neste aspeto. Os bancos de recorte desportivo contavam com grafismo específico na combinação de tecido e pele. Uma evolução em todos os níveis.

Maior impacto funcional tem o ecrã central tátil de 10.25 polegadas, que tem ótima visibilidade, podendo oferecer visualização tripartida e conexão aos smartphones (como se verá em caixa neste mesmo artigo). De resto, os botões dos demais comandos – como os do ar condicionado – estão bem situados num segundo nível abaixo do ecrã tátil.

Espaço bem aproveitado

Os 4395 mm de comprimento (mais 85 mm do que o Ceed de cinco portas) e os 1826 mm de largura (mais 26 mm) traduzem uma outra presença e uma maior noção de robustez, que no interior tem repercussão no espaço oferecido para os ocupantes. A bagageira demarca-se igualmente pela boa capacidade, com 426 litros, em clara vantagem face aos 395 litros do cinco portas, beneficiando ainda de portão traseiro com abertura elétrica.

Na condução, outra enorme evolução da Kia, mesmo que seja evidente uma maior propensão para o conforto por parte do XCeed – comparativamente ao Proceed. A marca assumiu que essa foi a intenção dos engenheiros para este SUV e a realidade comprova o acerto da solução, com um modelo bastante eficaz na ‘digestão’ do mau piso, isolando os passageiros de grandes incómodos, mesmo com as jantes de 18 polegadas que, por seu turno, ajudam na obtenção de um boa dinâmica, entrando de forma segura em curva, num ótimo trabalho de suspensão proporcionado pelas suspensões específicas e pelo rolamento de carroçaria contido – apesar de ter uma altura ao solo de 184 mm (com as jantes de 18”, mas também não existirão outras no mercado nacional).

Na afinação, a Kia apostou em amortecedores de batentes hidráulicos para a dianteira, o que permite maior conforto à passagem por lombas, buracos e seus derivados. A marca garante que o desenvolvimento teve por objetivo absorver até mesmo as pancadas mais secas da suspensão, o que explica muito do seu conforto, mas também as molas mais macias ajudam neste campo. A direção, afinada para oferecer menos resistência, logo menos cansaço em viagens longas, acaba por ser o elemento do chassis que menos entusiasma, mercê de alguma falta de incisão na primeira fase da curva.

Seja como for, um ótimo compromisso dinâmico entre o lado desportivo e o de otimização do conforto a bordo.

Suavemente

O motor 1.4 T-GDI debita 140 CV e 242 Nm de binário e a primeira sensação que se obtém ao seu volante é de enorme refinamento. O bloco é suave e mal se ouve, nem as vibrações se sentem a bordo. Com um nível de potência já considerável, a sua utilização caracteriza-se por duas facetas. Em modo ‘Normal’ (por defeito), revela sobriedade nas prestações, optando pela progressividade nas subidas de regimes, auxiliado pela bem escalonada caixa automática de sete velocidades, de dupla embraiagem, que é hábil na gestão dos ritmos.

Quando se ativa o modo ‘Sport’ em botão junto à alavanca da caixa, não há transfiguração, mas é bem notória uma maior vivacidade do motor turbo por via de diferente parametrização do motor, da gestão da caixa e, também, da assistência da direção. É neste modo que se obtém maior proveito da rapidez que os 140 CV oferecem, protagonizando prestações mais condizentes com um visual que transmite emotividade e desportividade. Facilmente se coloca entre os melhores da sua classe. Os consumos pareceram-nos corretos para uma utilização quotidiana, ficando na fronteira entre os seis e os sete litros de média por cada 100 quilómetros. No nosso ensaio, obtivemos um valor de 6,9 l/100 km, que fica em linha com o que é prometido pelo ciclo WLTP.

COMO OBTEMOS AS MÉDIAS

Elemento fundamental nos automóveis modernos, o consumo pode ser decisivo na hora de optar por um modelo em detrimento de outro. No Motor24, o ensaio compreende um trajeto de 100 quilómetros, entre percursos urbanos (cerca de 60%) e vias rápidas, nacionais e autoestradas (os restantes 40%) sempre a velocidades legais.

Numa simplificação de gama, a Kia oferece o XCeed 1.4 T-GDI apenas na versão de equipamento mais recheada, a Tech, que apresenta, entre outros elementos, o painel de instrumentos digital, o ecrã tátil central de grandes dimensões, o carregador wireless para o smartphone e a chave inteligente para abertura de portas e ignição, num bom ‘value for money’. A este respeito, a marca sul-coreana ‘pede’ 31.240€ pela versão de caixa manual, a que se somam 2000€ pela caixa DCT, atingindo por isso uma quantia de 33.240€.

No entanto, o apelo torna-se maior com a adição de uma campanha de lançamento que deixa o XCeed em versão 1.4 manual por 26.490 € (a que acrescem os tais 2000€ da DCT). Simplesmente tentador, mas vale a pena pensar se o custo da caixa automática compensa aquilo que representa face à variante de caixa manual, podendo esta ser mais apetecível em termos de custos – mesmo que perca a simplicidade de método proporcionada pelo automatismo das engrenagens em utilização urbana, por exemplo.

VEREDICTO

A Kia de nova geração é um enorme passo em frente relativamente ao que era norma há cerca de uma década. Os novos modelos da marca sul-coreana representam avanços em praticamente todas as áreas e o XCeed não é exceção. Mais agressivo, mais arrojado e mais divertido, este SUV compacto proporciona condução bastante agradável, capaz de ir ao encontro de quem procura dinamismo ou conforto, tirando partido neste caso também de motorização eficiente e competente nas respostas que oferece em praticamente todos os regimes, mercê também do desempenho da caixa automática de dupla embraiagem.

Com um preço que serve de chamariz, esta pode ser a versão a escolher por aqueles que desejam maior empenho na condução, ou quem circula em percursos de relevo mais acidentado, contando por isso com maior resposta em caso de necessidade. Cereja no topo do bolo, o desenho convence… e vende!

UVO Connect para tudo
O XCeed é um dos primeiros modelos na Europa a dispor do sistema UVO Connect, que conecta o veículo ao condutor, através de informações úteis no carro e no smartphone. Recorre a serviços Kia Live em tempo real e pode ser acedido a partir do ecrã de 10.25”, com base num cartão eSIM que recolhe e atualiza informações em tempo real durante a condução – trânsito, meteorologia, pontos de interesse ou detalhes de disponibilidade de estacionamento (bem como o preço) estão disponíveis. Por outro lado, o UVO Connect pode gerir as informações do veículo e as viagens que efetua, podendo enviar as rotas para o carro antes mesmo de iniciar a viagem ou verificar a sua localização a cada momento. O sistema de conectividade com ecrã de 10.25” também permite emparelhamento de dois smartphones em simultâneo.

 

FICHA TÉCNICA

Kia XCeed 1.4 T-GDI 140 CV DCT7 Tech

Motor 1353 cc, 4 cilindros em linha, injeção direta, turbo, intercooler
Potência 140 CV às 6000 rpm
Binário 242 Nm às 1500-3200 rpm
Transmissão Caixa automática de dupla embraiagem, 7 velocidades, tração dianteira
Aceleração 0-100 km/h 9,5 seg.
Velocidade máxima 200 km/h
Consumo médio 6,8 l/100 km
Emissões CO2 134 g/km
Comprimento/largura/altura 4395/1826/1495 mm
Distância entre eixos 2650 mm
Peso 1375 kg
Bagageira 426-1378 litros
Depósito de combustível 50 litros
Suspensão dianteira Independente McPherson
Suspensão traseira Independente
Preço base 33.240€ (com campanha: 28.490€)

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