Opel Corsa 1.2 T 100 CV Elegance: Identidade própria

Quase que se poderia dizer que o Corsa é mais do que um simples modelo da centenária Opel. O utilitário da marca alemã representa um pedaço do próprio código genético da companhia de Rüsselsheim, não só porque foi um autêntico sucesso de vendas desde o momento em que o primeiro modelo foi lançado, mas também porque é fácil encontrar quem tenha tido, ao longo da sua vida, um relacionamento com qualquer uma das diferentes gerações do Corsa.

Com mais de 600 mil unidades vendidas em Portugal ao longo dos anos, cerca de metade continua em circulação, sendo esta uma óbvia franja de potenciais clientes, algo que a própria marca reconhece.

Mas, este novo Corsa é, muito potencialmente, o portador da maior renovação que sofreu ao longo da sua história, dispondo de nova plataforma, novas motorizações, nova tecnologia e novos predicados de funcionalidade. Algo, porém, permanece tão imutável quanto incontornável: a identidade alemã é para manter e está refletida um pouco por todo o lado.

Tire-se o elefante de dentro da sala, porque é disso que todos estão à espera: a base deste Corsa é a mesma dos Peugeot 208 e Citroën DS3 Crossback, ou seja, a CMP, que define aquilo que é entendido hoje como uma plataforma multienergia, na medida em que permite a produção de automóveis a gasolina, Diesel ou elétricos. Primeiro e óbvio resultado dessa circunstância – a redução de custos de desenvolvimento. Mas, apesar disso, o Corsa não perde a sua própria identidade, seja em termos de design, seja na condução, algo a que voltaremos mais em diante.

Facilidade de condução é argumento do novo Corsa, que denota também bons predicados dinâmicos.

No caso do estilo, a equipa liderada por Mark Addams acabou por ter um ótimo trabalho na aplicação dos conceitos identitários da Opel neste modelo, não havendo forma de o confundir visualmente com qualquer um dos seus congéneres PSA. A aerodinâmica evoluída a pensar na crucial redução de emissões e consumos permite que o novo Corsa sobressaia no trânsito, com destaque para a integração entre grelha dianteira e faróis mais amplos com assinatura diurna LED marcante que não abandona a temática da ‘asa’. A iluminação LED pode também ser requisitada para o sistema principal de faróis, melhorando substancialmente a visibilidade noturna. Na traseira, os farolins horizontais são traço marcante de um formato esguio.

No interior prosseguem as diferenças. A Opel não tem no seu catálogo uma configuração i-Cockpit como a Peugeot (com o seu volante de diâmetro muito compacto), o que pode agradar a uns e desiludir outros, mas, por outro lado, oferece ótima posição de condução, com perfeita visibilidade da instrumentação. Tem, no entanto, outras ofertas de instrumentação digital, mas no caso da versão ensaiada, a intermédia Elegance, dispúnhamos de combinação analógico/digital na forma do ecrã central para as informações principais. Na consola central, o ecrã tátil está ligeiramente inclinado para o tejadilho – o que nem sempre ajuda na eliminação dos reflexos – mas tem atuação muito positiva. O sistema em si acaba por ser familiar, uma vez que se trata, com algumas alterações, do mesmo que equipa as restantes marcas do Grupo PSA. O ambiente a bordo exibe boa qualidade geral e construção de bom nível, com espaços de arrumação funcionais, materiais macios na parte superior do tablier, pele em parte das portas e, naturalmente, plásticos duros na parte inferior do habitáculo – mas também na zona superior das portas. Regra geral, um ambiente bem conseguido, que denota cuidado para com os ocupantes.

Ainda assim, para esses, nem tudo é positivo. O espaço atrás é ligeiramente mais acanhado face à geração precedente, sendo a sua melhor apreciação ao nível da habitabilidade a altura do banco ao tejadilho (o comprimento disponível para as pernas nos lugares posteriores fica algo aquém do desejável), mas não deixa de ser fundamentalmente apreciável por quatro adultos de estatura média – até ao 1,75 m. Também o acesso e saída desses lugares poderia ser mais fácil, uma vez que o espaço para passar os pés não é muito amplo). Conhecendo-se o ‘background’ de desenvolvimento do novo Corsa, seria difícil que não existisse um ou outro constrangimento…

Melhor a bagageira, com uma ampliação de 24 litros para mais proveitosos 309 litros. A insonorização está bem conseguida, apenas prejudicada por ruídos aerodinâmicos em velocidades de autoestrada, embora não seja nada de maior.

Motor é ponto forte

A versão que deverá trazer mais clientes para a Opel será a 1.2 Turbo a gasolina de 100 CV e 205 Nm de binário, uma unidade sobrealimentada de baixa cilindrada e tricilíndrica que se pauta por dotar o Corsa de uma versatilidade bem interessante na sua utilização. Não pretende ser um ‘sprinter’, mas é uma motorização que se destaca pela elasticidade de funcionamento, traduzindo-se em acelerações fortes e recuperações apressadas sem recurso frequente à bem escalonada caixa de seis velocidades, também com bom manuseamento.

Ambiente de autoestrada? O Corsa responde com veemência à pressão no acelerador. Vida em cidade? Boa elasticidade, ajudado pela suavidade de funcionamento e pelo sistema stop-start, que lhe contém os consumos. Ultrapassagem? Acelere com decisão se tiver muito espaço de manobra ou reduza uma mudança caso o espaço para a mesma não seja muito amplo.

Para uma utilização quotidiana e já bem eficaz, não é necessário passar das 4000 rpm, sendo aliás, pouco proveitoso, uma vez que acima dessa fasquia, a entrega da potência reduz-se, apenas prejudicando os consumos. Sim, o conta-rotações marca quase 8000 rpm, mas não vale a pena chegar, sequer, perto.

O consumo centra-se facilmente na fronteira entre os cinco e os seis litros por cada 100 quilómetros, mesmo que uma utilização mais agressiva possa aproximar esses valores para perto dos sete litros. Uma utilização mais sensata trará consumo moderado. No nosso caso, obtivemos 5,9 l/100 km, com 50 quilómetros de cidade e os restantes por vias rápidas sempre a velocidades legais. O que é um bom indicador tendo em conta os 5,5 l/100 km de média anunciada em ciclo WLTP.

Dinâmica dedicada

Ao nível do acerto do chassis – suspensão e direção –, a Opel tratou de efetuar o seu próprio trabalho, dando ao novo Corsa uma agilidade mais vincada, sem com isso prejudicar o conforto, que se mantém como a tónica preferida para esta versão. A direção reage com fidelidade aos intentos do condutor, notando-se pouco rolamento da carroçaria em curva, dando pois uma boa sensação de segurança. Já o controlo de estabilidade é interventivo quando se passa por alguma irregularidade mais perturbadora em curva, sendo até… excessivo.

Acima de tudo, ao volante, o novo Opel Corsa sente-se ágil e leve, deixando à vista o trabalho feito na redução do peso geral (que redorneste m modelo dos 1000 kg).

Versão intermédia

Esta versão Elegance afigura-se como a variante de equipamento intermédia, posicionada abaixo da mais desportiva GS Line, mas acima da de base. Assim, conta com elementos como o sistema de infoentretenimento com ecrã de 7” e navegação incluída (com sistema Apple CarPlay e Android Auto), volante e bancos dianteiros aquecidos, quatro vidros elétricos (os traseiros escurecidos) e cuise control adaptativo, entre outros elementos que justificam um preço de 18.860€, perfeitamente aceitável para a unidade em questão.

VEREDICTO

O Corsa mudou e não foi pouco. A figura de proa do catálogo da Opel tem outras raízes, mas não deixou cair a sua identidade, o que é bastante importante para uma marca com o peso desta. Ganhou em aprumo técnico com novas soluções, está mais tecnológico e regista uma melhoria na dinâmica de condução, mantendo o preço controlado e o desenho alemão, a par da ergonomia muito racional.

O motor 1.2 a gasolina, turbo e de injeção direta com arquitetura de três cilindros, mostra disponibilidade e entrega muito convidativas. Pelo lado menos positivo, a habitabilidade traseira é ligeiramente inferior à do seu antecessor, pese embora a diferença não seja avolumada. Enfim, uma boa evolução em quase todos os aspetos, para um Corsa mais adulto nos novos tempos da indústria automóvel.