Ao cruzar em primeiro lugar a linha de meta do Grande Prémio de França de 1979, Jean-Pierre Jabouille fazia história na modalidade e fazia com que todo o público da Fórmula 1 – incluindo as equipas rivais – passassem a olhar para a Renault como uma nova ameaça no pequeno ecossistema do panorama desportivo. Mas, no grande esquema da indústria automóvel, o feito da Renault a 1 de julho de 1979 acabou por ser decisivo para aquela que viria a ser uma tendência não só do desporto, mas também dos próprios automóveis de estrada desde então.
O arranque da ‘aventura’ turbo na Fórmula 1 não foi fácil. Um solitário monolugar amarelo surgiu em Silverstone em 1977 para o Grande Prémio da Grã-Bretanha, mas, apesar de surgir com uma tecnologia inovadora no desporto, os franceses foram olhados com relativo descrédito por parte dos outros construtores automóveis, como a Ferrari, Lotus ou McLaren. E a realidade viria a confirmar essa suspeição: atolado de problemas, o Renault de Jean-Pierre Jabouille durou apenas 16 voltas na corrida de domingo.
Perante aquele cenário, não tardou muito até que alguns dos rivais começassem a encontrar adjetivos menos simpáticos para o Renault RS01 – o primeiro carro turbo a competir no Mundial -, dentre os quais ganhou popularidade aquele proferido por Ken Tyrrell, fundador da equipa Tyrrell: ‘chaleiras amarelas’, pelo barulho dos turbos e… pelo fumo das quebras mecânicas.
Mais atrás, uma ligeira desilusão compensada, no entanto, pela espetacularidade. René Arnoux falha o segundo lugar depois de um acirrado duelo com o canadiano Gilles Villeneuve, da Ferrari, ficando para a história, muito possivelmente, como a luta de Fórmula 1 mais emocionante e combativa entre dois pilotos.
Após sucessivos toques e ultrapassagens – com o respeito mútuo a imperar e numa era em que os comissários eram menos interventivos do que hoje – Villeneuve cruzou a meta em segundo à frente de Arnoux. Mas todos estavam satisfeitos. De forma irónica, a luta final pela posição intermédia do pódio ofuscou, em certa medida, o triunfo de Jabouille, mas na Renault respirava-se satisfação pela validação de um projeto que colocava a sobrealimentação na órbita dos outros construtores.
Adoção generalizada
Pouco a pouco, nos anos seguintes, muitos outros grandes construtores foram ‘chamados’ para a Fórmula 1 pela possibilidade de desenvolverem uma nova tecnologia que poderia, como aplicação posterior, ser oferecida nos carros de produção em série, melhorando as prestações e oferecendo aquilo que nos seus primórdios era de comum associação ao simples logótipo Turbo na carroçaria: emoções desportivas. Entre as marcas que passaram logo a trabalhar em sistemas turbo estiveram a BMW, Honda, Ferrari, ou a TAG-Porsche.
Em virtude do seu sucesso nas pistas e como jogada de marketing bastante potenciadora, os Turbo passaram a fazer parte do conceito de estrada da Renault, numa tecnologia aplicada, até aos dias de hoje, em diferentes automóveis, dos mais pequenos aos maiores.
Aquilo que mudou, porém, foi o propósito. A aplicação do sistema de turbocompressor já não é hoje apenas um garante de mais fôlego desportivo, mas também uma possibilidade de concretização da filosofia do ‘downsizing’, aplicando aquela técnica a blocos mais pequenos, numa tentativa de obter o equilíbrio perfeito entre economia e agradabilidade de condução. Tecnicamente, a solução é relativamente simples para a obtenção de potência suplementar em todos os tipos de motores. Aliás, o seu desenvolvimento acabou também por ser determinante para a ascensão dos motores Diesel, que ganharam nos turbocompressores um inseparável aliado.
Ao celebrar os 40 anos desse feito, a Renault recordou muitos dos elementos que fizeram parte de uma história de sucesso, a qual hoje é prolongada pelo ‘malabarista’ Renault Mégane R.S., entre outros, mas que passou por números que se tornaram míticos na sua história e na do próprio automóvel, como os 5 GT Turbo, 19 Turbo ou 21 Turbo, além de outros como o Safrane ou o Fuego, que ajudaram a calcar o sucesso da tecnologia na marca e no próprio mercado automóvel.
Contudo, às pouco mais de quatro décadas desta saga assoma agora uma ‘nuvem’ de incógnita quanto a outros possíveis 40 anos de sobrevivência à medida que a eletrificação toma de assalto a indústria automóvel, obrigada a cortar nas emissões poluentes para se manter em linha com as apertadas normas anti-emissões de CO2, entre outros agentes que compõem os gases de escape.
No entanto, indelével na história do próprio desenvolvimento automóvel está a evolução tecnológica que nasceu da persistência da marca francesa.
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