A transição energética não fará com que os lubrificantes e fluidos de proteção para os automóveis deixem de existir. Porém, com a crescente aposta nos elétricos, haverá uma diferença substancial na finalidade dos fluidos entendidos como lubrificantes. Um exemplo dessa aposta é dado pela Petronas, gigante mundial da área dos lubrificantes, que se apresta a lançar uma nova geração de lubrificantes para automóveis elétricos com a sua gama Iona.

Direcionado essencialmente para a utilização por parte de construtores automóveis e fornecedores de componentes elétricos (por exemplo, cadeias de tração) para os novos veículos elétricos, a gama Iona resulta da aposta da Petronas Lubricants International (PLI) na conceção de uma gama de fluidos capaz de melhorar a eficiência e as capacidades dos elétricos. É também resultado do plano de pesquisa daquela companhia malaia para fomentar a transição energética e uma economia cada vez mais livre de emissões de carbono.

“Comprometemo-nos a duplicar os nossos investimentos e dedicar 75% do nosso orçamento de pesquisa e de desenvolvimento a projetos de redução de carbono”, refere Giuseppe D’Arrigo, Diretor Geral e CEO do grupo PLI, durante uma conferência digital de apresentação da nova geração de fluidos Iona, apontando que esta gama responde a necessidades diferentes para os automóveis elétricos, conseguindo melhorar a sua eficiência em 10%, o que beneficia também a sua longevidade e as prestações.

A impulsionar este esforço da Petronas está a transição energética que está a decorrer a um ritmo mais acelerado do que o previsto há meia década. Para D’Arrigo, a explicação para esta aceleração prende-se com “a intenção de todos os construtores de se comprometerem com os veículos elétricos, baixando a sua pegada ambiental, mas também com os reguladores e as suas metas e novos limites de emissões”, sem esquecer igualmente o papel determinante de uma cada vez maior tomada de consciência por parte dos consumidores em todo o mundo rumo a uma maior sustentabilidade.

Assim, a Petronas Lubricants International entende que deve apostar no desenvolvimento de novos produtos direcionados para esta nova tendência, com a gama Iona a permitir vantagens nos elétricos. De acordo com a companhia, permite obter uma melhor gestão térmica de todo o conjunto motriz, desde o motor elétrico à transmissão, passando ainda pela bateria de alta voltagem. A ideia é que todos estes componentes possam ver o seu rendimento melhorado ao mesmo tempo que a eficiência é também incrementada. Os dados dos engenheiros da marca apontam para uma melhoria de 10% na eficiência face a outros fluidos utilizados atualmente pelos fabricantes e parceiros, com os quais tem também colaborado de forma muito aproximada.

Este será o principal mercado a que se direciona a gama Iona, com D’Arrigo a explicar que “na próxima década, não prevemos que vá existir um mercado para clientes particulares”, até porque se tratam de líquidos utilizados para os sistemas de alta voltagem de um veículo elétrico.

No mesmo sentido, Peik Lean Yap, responsável da PLI a nível global e da área do Marketing, refere que “a eletrificação revolucionou a mobilidade”, com a cooperação com outros parceiros e fabricantes a permitir assim obter com esta gama Iona responder a quatro critérios procurados pelos clientes: maior segurança de funcionamento, maior autonomia, performance melhorada e maior velocidade de carregamento.

Segundo Lean Yap, a abordagem para os automóveis elétricos de nova geração visa corresponder à melhoria da performance de motor, transmissão e baterias, incrementar a sua fiabilidade e longevidade e garantir a segurança de utilização a partir de diversos testes feitos pela marca em diversos veículos.

“Não estamos a seguir os passos da nossa concorrência, estamos a adotar uma abordagem nova para estabelecer novas fronteiras. Aspiramos a um futuro sem emissões em todos os aspetos”, afirma a responsável da PLI.

Com essa ambição em perspetiva, nem só de automóveis se fala: a marca indica para uma redução do plástico utilizado nas embalagens na ordem dos 92%, necessitando também de menos 21% menos energia para produzir as embalagens.

Três graus a menos

Entrando em maior detalhe, Ravi Tallamraju, responsável de Pesquisa e de Tecnologia da PLI, explica que uma das vantagens de colaborar com outros fabricantes automóveis e fornecedores de soluções independentes foi o de conseguir estabelecer novos métodos de teste internos para desenvolver os fluidos de forma adequada a cada necessidade. O foco principal no processo de investigação esteve na gestão térmica, respondendo também ao respeito das propriedades elétricas e proteção do cobre.

Em comparação com fluidos atualmente em utilização nos veículos elétricos, a Petronas indica uma melhoria de até três graus na temperatura de funcionamento (aquecendo menos), logo beneficiando a eficiência e as prestações. Haverá uma abordagem ‘tailor made’, ou seja, feita à medida de cada utilização.

A ajuda da Fórmula 1

Desde a década de 1990 que a Petronas tem estado presente na Fórmula 1, assistindo diversas equipas no seu progresso tecnológico enquanto procurava fazer a transição dos ensinamentos da pista para a estrada. A marca chegou a dar o seu nome aos motores cedidos pela Ferrari à Sauber no passado, mas atualmente tem na parceria com a Mercedes-AMG, sete vezes campeã de Construtores, um grande trunfo, sobretudo porque é com essa que está a testar diversas soluções do foro elétrico. Recorde-se que a Fórmula 1 adotou uma motorização híbrida em 2014, dispondo do motor de combustão mais eficiente do mundo, mas de uma unidade elétrica simultaneamente eficaz e complexa.

O conceito de tecnologia testada na pista e levada para a estrada aplica-se ainda hoje, como explica Eric Holthusen, responsável de Desenvolvimento de Tecnologia da PLI. “A parceria com a Mercedes-AMG na Fórmula 1 ajudou bastante. Deu-nos um bom avanço na gestão térmica das baterias, porque a bateria a bordo de um Fórmula 1 tem de funcionar numa janela térmica muito restrita, pelo que nos deu logo uma boa ideia de como funcionar muito antes de os veículos elétricos ganharem a popularidade que hoje têm”, explica.