Porsche aos 70: “O último carro a ser produzido será um desportivo… com motor boxer”

30/06/2018

A frase não é nossa, mas sim de Ferdinand Porsche. O fundador da marca germânica não conseguia prever o futuro mas tinha uma crença firme no desenvolvimento de uma linhagem de desportivos fiáveis e emocionais. A filosofia ‘boxer’ de motores – cilindros dispostos horizontalmente – mantém-se bem viva nesta nova era da indústria automóvel, não tendo a Porsche também intenções de abandonar nos tempos mais próximos essa sua aposta. Mesmo que a porta para a eletrificação esteja bem entreaberta.

O cenário alemão é bucólico para uma celebração histórica. O centro de testes de Aldenhoven é praticamente desconhecido (a cerca de uma centena de quilómetros da cidade de Düsseldorf), mas é aqui que a Porsche guarda, bem à vista de todos, uma variedade de modelos clássicos que fariam feliz qualquer aficionado dos automóveis.

À festa dos 70 anos não faltaram aqueles que são alguns dos modelos mais icónicos da marca de Estugarda, entre eles o 356 de 1949 – o primeiro da linhagem, mas não o protótipo inicial – e os 911 nas suas diversas iterações, com um Boxster à mistura. Ponto em comum? Todos eles tinham motor boxer. Tal como os 911 e 718 Boxster de nova geração que esperam por nós na pista.

A história da Porsche e do 911 é praticamente indissociável. Hoje, a marca germânica tem um cardápio alargado como nunca (com SUV e ‘shooting brakes’ à mistura), mas a imaginação orienta-se no sentido do 911 sempre que a palavra Porsche vem à tona. Esta foi, pelo menos, uma das ideias que mais se reteve da apresentação dos responsáveis da Porsche que apresentaram o evento na Alemanha.

A tradição já não é o que era, mas o futuro não parece mau…

Mas se o 911 é, talvez, o modelo com maior história da Porsche (com a milionésima unidade a sair da linha de produção a 11 de maio de 2017), a companhia faz questão de salientar que “cada Porsche é um desportivo”, pelo que cada modelo é imbuído daquela filosofia de requinte e desportividade, mesmo o Macan, o Panamera ou o Cayenne. Mas destes, apenas o Panamera foi ‘convidado de honra’ para a festa dos ‘primos’, fazendo uma espécie de ponte entre a tradição do motor de combustão interna e a eletrificação com o Panamera Turbo S e-Hybrid a servir de modelo de deslocação entre o hotel e o local do evento.

Regressar ao momento inicial da Porsche é regressar também a uma das épocas mais conturbadas da História mundial. Terminada em 1945, a Segunda Guerra Mundial continuava a fazer sentir os seus efeitos na Europa e, crucialmente na Alemanha, com Ferdinand Porsche a decidir-se que era preciso um desportivo que trouxesse de volta o gosto pela condução. Ou como explica a própria marca, um “carro que as pessoas desejavam, mesmo que não precisassem dele’. Assim, dos escritórios de Ferdinand em Gmünd, na Áustria, onde montou o seu centro de design temporário no pós-guerra, resultou a génese do 356, o modelo inicial. Oficialmente, tudo começa a 8 de junho de 1948, quando o protótipo da Porsche com o chassis número 356-001 recebeu a sua licença de homologação. Nascia uma nova marca. Mas só em 1953 aparece aquele que se torna ícone, o 911 (901).

Sentados a bordo do novo 911, na sua sétima geração, a recordação desses tempos não é imediata pelos cânones da observação do interior, mas o símbolo incrustado no volante faz com que se recorde que há uma essência que se mantém ao longo dos tempos e isso é muito mais visível do lado de fora. Aliás, de acordo com a marca, “nenhum dos componentes no 911 de hoje é idêntico aos do 911 da década de 1960”. Um estilo evolutivo mas que nunca primou por disrupções estéticas (mesmo que alguns modelos, como o 911 GT3 RS ‘grite’ demasiado por atenção, com todos os seus apêndices aerodinâmicos. Mas isso apenas se esquecermos que é um modelo pensado quase para pista…

Uma derivação como tantas outras que das linhas de produção da Porsche cativaram suspiros e olhares, como o Targa ou o Cabriolet, cada um com os seus desafios e filosofia específica. As mais radicais adotam siglas carregadas de um significado especial, como são os casos das GT, R e RS, pensadas para uma utilização em pista. Pela sua variedade e aceitação, a Porsche reconhece o estatuto fácil de rentabilidade que este desportivo trouxe para a companhia. Da mesma forma que muitas das figuras mais notáveis da Hollywood nas décadas de 1960, 1970 e 1980, que ‘abraçaram’ os 911 enquanto desportivo acessível de elevada competência para o dia-a-dia e para uma utilização mais desportiva.

Para o futuro, com os desafios bem definidos, a Porsche prepara para se concentrar na eletrificação, digitalização e conectividade, sendo o primeiro passo o Taycan, o primeiro modelo 100% elétrico da companhia, elevando-a para uma nova era. Apesar de tudo, mantendo a noção de que o fator humano continua a ser central à marca, tal como o são neste momento os motores boxer de quatro e de seis cilindros.

Na era da crescente eletrificação, a marca não quer deixar já de parte os seus motores identificativos, embora responsáveis como Markus Baumann, responsável de desenvolvimento dos motores ‘flat’ da Porsche, saiba que os desafios crescentes da indústria automóvel serão incontornáveis, nomeadamente, quanto às emissões poluentes e quanto à otimização dos processos de combustão. Questionado sobre a crescente eletrificação e a possível aplicação de sistemas de 48 V em motores como os ‘boxer’, Baumann revela que podem ser uma boa opção, mas que ainda é muito cedo para conclusões definitivas. O foco, porém, será sempre o do dinamismo.

Talvez por isso, a marca tenha aproveitado para… acrescentar um ‘ponto’ à velha máxima de Ferdinand. Ou seja, agora, a lógica é de que “o último carro de sempre a ser construído será um desportivo… com motor boxer”. O futuro o dirá…

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