Numa revisão da sua presença na indústria automóvel, o Grupo Renault anunciou os pontos fundamentais da Ampere, a companhia recém-criada pelo grupo para a sua transformação numa empresa sustentável e rentável. O foco estará na produção de automóveis elétricos de software, com um plano de lançamento composto por sete automóveis, incluindo um acessível, procurando dessa forma democratizar os elétricos.

Com o plano ‘Renaulution’ a decorrer melhor do que o previsto, o Grupo Renault anunciou a entrada na próxima fase de transformação para uma companhia de nova geração, abordando as cinco cadeias de valor decorrentes da mudança do paradigma de mobilidade no setor automóvel: os veículos elétricos (VE) e software, novos serviços de mobilidade, economia circular, automóveis de ponta e veículos híbridos e de combustão interna.

A Ampere é, assim, a resposta do Grupo para a sua transformação, afirmando-se como uma companhia independente que projeta, produz e comercializa veículos elétricos de passageiros sob a marca Renault na Europa, tendo por objetivo chegar à quota de mercado de dois dígitos com uma margem operacional também nos dois dígitos na Europa, em 2031.

Esta nova companhia compreende assim um total de 11.000 funcionários, sendo que destes um total de 35% corresponde a engenheiros focados nas tecnologias de veículos elétricos e software, tirando ainda partido de todos os investimentos já feitos pelo grupo no seu ecossistema de produção em França, como a ElectriCity, em Douai, e Cléon.

Democratizar os elétricos

O grande objetivo a médio prazo é a democratização dos elétricos nas estradas europeias, com a Ampere a ter como objetivo dar continuidade à prestação do Grupo Renault em segmentos tão importantes como os B e C, que, juntos, deverão representar 75% do mercado europeu total em 2030 (espera-se que cresçam cerca de 25% entre 2023 e 2030).

Essencial para esse objetivo é a obtenção da paridade de custos entre os modelos elétricos e de combustão antes da restante competição nos segmentos em questão, definindo como vantagens o facto de dispor já de duas plataformas dedicadas para veículos elétricos e que recebem agora novos nomes. Assim, a anteriormente conhecida CMF-B EV passa a ser a AmpR Small para os automóveis de segmento B e a CMF-EV passa a ser Amp-R Medium para os modelos de segmento C.

Numa abordagem holística de produção, a Ampere pretende reduzir as variáveis de custo entre a primeira e a segunda geração dos elétricos de segmento C em cerca de 40% (em veículos equivalentes) até 2027/2028, com base em três áreas fundamentais em que se irá debruçar.

Na primeira, relativa às motorizações elétricas (incluindo a bateria) prevê-se uma redução de 50% no custo da bateria por veículo para uma autonomia idêntica, bem como uma redução de 25% no custo de cada motor elétrico por veículo. A segunda, referente aos veículos entendidos como plataforma e carroçaria, a Ampere antecipa uma redução de 25% nos custos da plataforma por veículo e uma redução de 15% nas carroçarias. O terceiro ponto é o da rentabilidade operacional, que permitirá uma redução de 50% nos custos de produção e de logística associada.

Um dos primeiros passos neste caminho foi dado com a nova Scenic E-Tech, cujo TCO (custo total de operação) já está em paridade com os híbridos. Já a paridade entre os elétricos (VE) e os modelos de combustão espera-se que seja alcançada até 2028, quando surgir a segunda geração dos novos elétricos, nomeadamente, com os sucessores dos Megane E-Tech e Scenic E-Tech.

Mais relevante é a abordagem para o segmento B, que continuará a ser fundamental no mercado europeu. A aposta começa em 2024, com o novo Renault 5 (custo esperado em torno dos 25 mil euros), seguindo-se outro regresso, no ano seguinte, do Renault 4 e, abaixo desses, um modelo elétrico ainda mais acessível, denominado apenas pela expressão de código ‘Legend’ (lenda), cujo custo deverá ficar abaixo dos 20 mil euros e que será revelado em breve. Além destes cinco modelos, espera-se ainda o lançamento de mais dois modelos.

Muitos destes benefícios que serão alcançados pela Ampere serão também partilhados em negócios adicionais (nas áreas de veículos e software) com outras marcas parceiras da Aliança, como a Alpine, Nissan e Mitsubishi Motors.

Conectividade e serviços são áreas fulcrais

Do total de 35% de engenheiros que compõem a Ampere, cerca de 1800 são das áreas de software e de engenharia informática que terão como tarefa desenvolver sistemas e tecnologias de conectividade e de interação com os veículos, tendo como base o sistema OpenR Link que já se encontra nos Megane E-Tech e Scenic E-Tech, que dispõem de infoentretenimento criado em parceria com a Google e com a Qualcomm Technologies (numa abordagem horizontal) para reduzir custos e riscos de desenvolvimento, além de oferecer soluções melhores aos seus clientes, de acordo com a companhia.

Com a integração de todas as vertentes tecnológicas, com o apoio da Google (Android Automotive) e da Qualcomm, a marca espera dar passos seguintes na abordagem à conectividade, estando esta última a desenvolver um chassis digital para que as marcas possam produzir os seus automóveis em torno das mais recentes soluções de conectividade e digitalização. Este é o caminho para os automóveis definidos pelo software (SDV).

Luca de Meo, CEO da Renault e da Ampere, garantiu que os serviços criados para os clientes europeus serão específicos, atendendo aos seus desejos e aos seus hábitos, indicando que não pretende simplesmente traduzir e implementar software proveniente da China.

Melhorar a rentabilidade

Em termos financeiros, a companhia pretende incrementar a sua rentabilidade e apostar em perfis de baixo risco financeiro, com uma estratégia de crescimento ambicionada de cerca de um milhão de veículos em 2031. A receita esperada é de 10 mil milhões de euros em 2025 com quatro veículos, alcançando os 25 mil milhões de euros em 2031 com os seus sete veículos elétricos, traduzindo-se num aumento superior a 30% entre 2023 e 2031.

A Ampere ambiciona também entrar em bolsa no primeiro semestre de 2024 assim as condições do mercado o permitam. A Nissan e a Mitsubishi Motors são os primeiros investidores na Ampere, com um total de até 0.8 mil milhões de euros, com a Qualcomm Technologies também a tornar-se num investimento na Ampere. Porém, o Grupo Renault permanecerá como acionista maioritário.