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Digitalização transformou o desenvolvimento dos automóveis na Volkswagen

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Um dos conceitos mais frequentemente proferidos pelas marcas automóveis é o da digitalização, havendo hoje uma série de ferramentas que permitem facilitar e acelerar os processos de desenvolvimento de um novo automóvel. Um desses exemplos está no Grupo Volkswagen, no qual o esforço de digitalização em diversas áreas permite hoje um trabalho mais eficiente e apurado entre os diversos departamentos.

A importância dos processos digitais é cada vez maior, sobretudo em áreas que anteriormente dependiam bastante de atuação por ‘tentativa e erro’, como era o caso da área do design. Foi precisamente esta que o Motor24 teve a oportunidade de descobrir com maior detalhe, numa apresentação online que teve em Klaus Bischoff, diretor de design da Volkswagen, o principal orador, com este a demonstrar a integração entre todas as fases de desenho, conceção e evolução de um automóvel, desde o conceito até à realidade apenas com ferramentas digitais – ainda que com uma exceção.

Com mais de três décadas de serviço na marca alemã, Bischoff reconhece a mais-valia trazida pela vertente digital, admitindo que “agora podemos fazer em questão de minutos aquilo que antes demorava umas horas a fazer”. É esta, essencialmente, a grande vantagem de todos os processos digitais e das plataformas de design comuns, com que praticamente todos os designers trabalham e às quais todos têm acesso em tempo real.

Para demonstrar as diferentes fases, Bischoff recorreu a um Golf GTI de nova geração. O primeiro ponto do trabalho de design é ter uma ideia, um ponto de partida imaginado, para depois, na segunda fase, conceber… um desenho, num conceito bastante semelhante ao tradicional oferecido por um papel e caneta, no qual existe um enorme elemento de colaboração numa equipa de design.

“Se olharmos para um projeto na Volkswagen, estamos sempre a pensar em múltiplos ‘players’, múltiplos designers a trabalharem em simultâneo num projeto e a comunicarem simultaneamente numa plataforma partilhada. Cada um pode ver aquilo que o outro está a fazer e dizer o que está a gostar ou não, trabalhando numa plataforma de colaboração que acelera o processo em diferentes continentes com uma ferramenta bastante moderna e util”, refere o designer da Volkswagen.

A fase seguinte é a conversão do esboço digital num modelo tridimensional, através de uma parceria com a Cloud Modelling, utilizando tecnologia de realidade aumentada que permite acesso ao detalhe de todos os elementos do design do veículo. “Esta ferramenta é utilizada pelos modeladores virtuais ou pelos próprios designers, que podem criar rapidamente representações em 3D do seu design. Também esta plataforma é partilhada com todos os elementos a nível global e podem jogar com todas as partes, sendo intuitiva e utilizada ao longo de todo o processo de desenvolvimento”.

O passo seguinte é modelar detalhes como a grelha dianteira, com ajustes paramétricos, variando os padrões da grelha. Este ferramenta “pode mudar os padrões da grelha, sendo fácil de implementar estas mudanças no carro em si, tendo em conta até os inputs técnicos. Geralmente, é feito em minutos ou segundos, quando antes eram necessários meses”, afirma.

O passo seguinte é o aprimoramento dos detalhes. “Assim que se tem o corpo principal desenhado, trabalhamos depois nos detalhes de forma mais atenta. A grande vantagem de uma base de dados a que toda a equipa de desenvolvimento e pesquisa está a aceder é que pode também ser utilizada no túnel de vento e nas instalações de produção para saber se os painéis das portas, por exemplo, podem ser produzidos e se as ferramentas estão corretas ou não. Esta base de dados acelera o processo e ajuda a desenvolver o processo de forma muito eficiente”, adianta Klaus Bischoff, apontando ainda que “tudo isto integra-se de maneira eficaz e intuitiva, com grande rapidez e avaliada por engenheiros”.

Esta atenção ao detalhe de forma digital é operada tanto no exterior, como no interior, até ao mais ínfimo pormenor. “Isto mudou tremendamente a forma como trabalhamos. Mas não para aí. Vamos mais para o campo digital, para o campo da interface Homem-Máquina (HMI) e de utilização do design. Exemplo disso foi o painel de instrumentos digital (Active Info) com designs múltiplos que iremos utilizar no novo Golf GTI”.

Concluída esta fase, a equipa de desenvolvimento centra-se na apresentação do veículo a clientes internos e externos: “Assim que um design está concluído e que todos os problemas estão resolvidos, temos de preparar os dados para a nossa apresentação interna e a clientes externos. Queremos mostrar o nosso produto o mais realista possível. Chega ao ponto de aplicarmos verniz na superfície para termos uma imagem o mais realista possível. Isto é feito parte a parte, é um trabalho que demora alguns dias ou semanas”.

Esse trabalho, aplica-se a todos os pormenores no exterior e no interior “com precisão enorme”. Sobre o interior, questionado se o grande número de ecrãs podem também servir como elementos de distração para o condutor, Bischoff reconhece que sim, pelo que há que atuar neste campo de forma equilibrada.

“O que parece ser uma contradição tem de ser resolvida pelos designers e engenheiros, há uma necessidade de ter mais informação mas tem de haver uma fronteira a respeitar. Com o nosso sistema ‘head-up display’ vamos fazer com que essas informações se mantenham à frente do condutor sem lhe tirar os olhos da estrada”.

Todo este processo dura cerca de ano e meio, com Klaus Bischoff a indicar que “a visão que tínhamos no início, um esboço, tornou-se numa realidade de forma muito rápida, mas é um trabalho que ocupa muitos trabalhadores, muita criatividade e muito poder de engenharia e colaboração para criar um produto tão complexo como um carro. O processamento digital permite-nos avançar depressa”.

Reforçando que o design dos automóveis é um esforço coletivo, “um trabalho de equipa”, Bischoff aponta ainda que o trabalho é partilhado com outras equipas de design do grupo, nomeadamente no que toca às ferramentas digitais. Interrogado se seria possível lançar um concurso ou possibilitar que um cidadão comum pudesse desenhar um carro que fosse depois produzido pela marca, como jeito de recompensa, o alemão refutou liminarmente a ideia.

“O design de um carro é feito por profissionais por um longo período de tempo, com contributos de toda a gente do grupo, sobretudo engenheiros, pelo que não pode ser feito por qualquer pessoas em casa”.

Barro é ligação ao passado; digital é sinal de eletrificação futura

A exceção a todo este processo digital continua a ser a utilização de um modelo de barro, à escala que serve para observar o desenho final num volume real, “que pode ser funcional”, e que continua a ter a sua relevância. Atua também, apesar de todos os avanços, como uma ligação ao passado e a uma receita que sempre foi muito utilizada e querida dos designers de automóveis.

Sobre o quão mais rápido se tornou o processo de desenvolvimento de um veículo através destas ferramentas digitais, Klaus Bischoff explica que “os carros tornaram-se muito dispendiosos, são milhões de euros de investimento e muitos regulamentos têm de ser cumpridos. Criar um carro tornou-se mais complicado… Os processos digitais aceleraram um pouco esse processo. Quanto mais digitais os carros se tornarem, mais facilmente se tornará alterar o design de um carro durante a sua geração”.

Tema quente do momento, a pandemia de Covid-19 não faltou na conversa, com o responsável de design a apontar que o panorama ainda não é nítido, mas a posição do automóvel na sociedade pode também mudar.

“Claro que estamos todos a viver um tempo sem precedentes e neste momento é tudo um pouco enevoado. Mas, o que estamos a ver na China é que o comportamento pode mudar e há uma grande procura por carros. Além disso, percebemos que os processos de compra tornaram-se mais digitais”.

A mesma liberdade oferecida pela digitalização é aplicada na conversão para a eletrificação, com Bischoff a explicar que “as ferramentas digitais mais mais independência para a eletrificação. Podemos mover volumes e proporções de forma mais fácil. Dá-nos uma flexibilidade muito maior no design interior”.

Por isso mesmo, considerou que seria um erro ter Golf e ID.3 a partilharem a mesma imagem: “É uma oportunidade de uma vida de criar uma nova experiência de utilização e de design. A nova tecnologia de motorização dá-nos uma oportunidade única de termos uma abordagem única. Por isso, veem que o ID.3 é totalmente diferente do Golf mas são facilmente identificáveis como Volkswagen. Uma experiência digital dentro do carro, com arquiteturas diferentes. Manter o ID.3 num formato tradicional seria um erro. Quando o motor de combustão interna sai do caminho, há mais formas para inovar com os elétricos”.