“Não foi feito para isto”. Afinal, estamos a falar do modelo de entrada na gama de SUV’s da Mercedes e quem nunca tenha andado nestas andanças do Clube Escape Livre com a marca alemã – duram há sete anos –, mal desconfia do que um GLA é capaz.
Desceu e subiu sem grande esforço, raspando com o fundo aqui e ali, e muito ajudado pela eletrónica – controlo de velocidade em descida no caminho para baixo e controlo de tração no regresso à superfície. Na descida, o DSR fixou a velocidade nos 6 km/h e foi a esse ritmo que foram cumpridos os 600 metros de rampa bastante inclinada. O GLA, acompanhado por duas pick-up Classe X e alguns GLC e GLS, demorou uns 3 ou 4 minutos a chegar lá a baixo e outros tantos a subir. Bem menos do que os 50 minutos que as gruas demoram a trazer um bloco de 25 toneladas de mármore até à superfície.
Nem todos os participantes alinharam na viagem ao centro da terra, mas quem desceu ficou com um retrato preciso do que é a exploração de mármore no triângulo “dourado” de Vila Viçosa, Borba e Estremoz. Humidade perto dos 100%, muita água por todo o lado – a lubrificação e arrefecimento das ferramentas de corte é feita com água – e o céu lá em cima, distante.
Lá abaixo, o sol só chega no pico do meio-dia e pouco mais. Para se ter uma noção de escala, ali dentro, na pedreira D’El Rey, cabia a torre Vasco da Gama (Parque das Nações, com 140 metros de altura) e o hotel Sheraton (92 metros e 30 pisos) ficaria com o restaurante panorâmico, no topo, a uns 60 metros da superfície.
Por ali arranca-se pedra mármore do chão desde o tempo dos romanos, pedra formada há 500 milhões de anos e que acaba a decorar palácios ou a servir de matéria-prima a escultores. No ano passado, a exportação de pedra natural valeu perto de 340 milhões de euros, sendo que boa parte dessa pedra, mármore, saiu da zona de Vila Viçosa, Borba e Estremoz. Foi o melhor ano de sempre na exportação de pedra.Quem passar ao largo, na autoestrada ou nas estradas nacionais, pouco mais vê do que gruas e moledos, montes de desperdício, de pedra que não tem qualidade para entrar no mercado. O que os quase 120 participantes nesta sétima edição do Mercedes-Benz 4MATIC Experience viram ao longo do fim de semana merece um desvio das estradas principais. Seja pela vertigem de olhar para o fundo de uma pedreira, seja pelo que se aprende sobre aquele negócio ao visitar uma pedreira.
A descida à pedreira, em grupos pequenos a bordo de carros da organização devido à falta de espaço lá em baixo, foi o ponto alto de dois dias de maus caminhos, horizontes abertos como só o Alentejo oferece e, não menos importante, boa mesa.
Esta foi a primeira vez que o Clube Escape Livre se aventurou tão para sul, para longe da sua zona de conforto – junto à raia e perto da sede, na Guarda. Não é que Luís Celíneo, o responsável pelo clube, não tenha já organizado passeios por quase todo o país, mas o facto é que nunca tinha escolhido o sul como destino.
No final, já na pousada de Estremoz, Luís Celíneo fazia o balanço do passeio. “Acho que descobrimos coisas muito interessantes, desde o museu do barro, no Redondo, passando pela pedreira D’El Rey, pela herdade do Esporão ou por Monsaraz. Pequenos ex-líbris desta região que permitiram um fim de semana de descoberta e de conhecimento”. O organizador confessa que o objetivo é despertar o interesse pela região. “Nós não temos a veleidade de dar a conhecer tudo em dois dias, mas a nossa obrigação é despertar os participantes a regressarem com mais calma, com mais tempo, para ficarem a conhecer bem esta região”.
Ao volante, houve pisos para todos os gostos. Estradões rolantes, zonas de pedra a pedir condução mais cuidada e trialeira, e ainda alguma lama para decorar máquinas que, por norma, limitam-se a subir um ou outro passeio de cidade durante a semana.
Algumas zonas de xisto e pedra solta foram um sério desafio à paciência de quem seguia ao volante. Se há ponto frágil nos SUV atuais é o que trazem calçado. Desenhados para ambiente mais urbano, apesar de sérias competências fora do asfalto, saem da fábrica com pneus pouco dados a aventuras e, por regra, não consta do equipamento um simples pneu sobressalente.
Resultado? É preciso todo o cuidado. Ritmos mais animados são quase proibidos e torna-se arriscado qualquer escorregadela ou atravessadela. Todos os olhos são poucos para identificar perigos, pedras à espreita. No final, a equipa da First Stop, que trazia uma carrinha carregada de pneus da Bridgestone, pouco trabalho teve. Dois furos, no sábado, e ficou resolvida a questão.
O Motor24 fez este passeio a convite da Mercedes e a bordo de um GLC 250d 4MATIC. As jantes de 20 polegadas, com pneus de perfil demasiado baixo para o todo-o-terreno e uma bagageira sem sombra de soluções para eventuais furos, obrigaram a um ritmo de… passeio.
A experiência correu tão bem que será para repetir. Luís Celíneo revela que o regresso ao sul já está nos planos do Clube Escape Livre. “Ainda não foi totalmente discutido internamente, mas posso adiantar que é nossa intenção fazer do hotel Marmoris e de Vila Viçosa a base para um outro passeio, no próximo ano, mas aberto a todos os tipos e marcas de veículos 4×4”.
Quanto à próxima edição do Mercedes-Benz 4MATIC Experience, daqui por um ano, já há um destino escolhido. A base será na Nazaré, pátria das ondas gigantes, onde a marca alemã tem uma outra parceria, com o surfista norte-americano Garrett McNamara.
Por Paulo Tavares