Além de revolucionar a forma como os automóveis se movimentam, a eletrificação também veio alterar de forma significativa a tecnologia de tração integral, com a interação entre motores elétricos a permitir as mesmas características de controlo e dinamismo que os sistemas tradicionais popularizados nos motores de combustão. Um dos exemplos é o da tecnologia e-4ORCE da Nissan, aplicada agora aos modelos Ariya e X-Trail, cujas capacidades estão agora reforçadas em condições de aderência difíceis.

A faceta do meio automóvel está a mudar, mas as necessidades são, em muitos casos, as mesmas, sobretudo em países em que o clima é mais frio e proporciona situações complicadas pela presença de neve e gelo. Para fazer face a essa circunstância, os construtores rapidamente perceberam que era importante aplicar um esquema de motores elétricos duplos (ou múltiplos, nalguns casos) para obterem um sistema de tração integral, sendo precisamente esse o caminho seguido pela Nissan para os seus novos automóveis eletrificados, os Ariya e X-Trail e-Power.

Embora com esquemas técnicos distintos, cada modelo recorre a um sistema motriz elétrico, sendo que apenas o Ariya se pode assumir como veículo totalmente sem emissões, ao passo que o X-Trail revela um conceito híbrido em que o motor térmico serve de ‘gerador’ para o motor elétrico que, efetivamente, transmite a potência às rodas. As equipas de engenheiros da Nissan combinaram a sua experiência abrangente na gestão de motores elétricos, sistemas de tração integral e tecnologias de controlo de chassis para compor uma tecnologia que responde a um elevado número de cenários para o dia-a-dia e a uma maior tranquilidade dinâmica.

Sendo um sistema de dois motores elétricos, elimina a necessidade de acomodar o eixo de transmissão que um sistema mecânico tradicional requer, ao mesmo tempo que oferece mais espaço a bordo.

Duas formas de estar

No caso do X-Trail e-Power e-4ORCE, o sistema duplo de motor elétrico tem uma potência total de 157 kW/213 CV com um motor dianteiro de 150 kW/204 CV de potência e 330 Nm de binário e um motor traseiro de 100 kW/136 CV de potência e 195 Nm de binário, o que permite assim obter um sistema de tração integral com controlo eletrónico entre os dois eixos, com uma aceleração dos zero aos 100 km/h em 7,0 segundos.

Outra das vantagens deste sistema, aponta a marca nipónica, é a resposta de controlo do binário 10.000 vezes mais rápida do que um sistema mecânico 4WD.

Por seu turno, o Ariya e-4ORCE tem uma potência total de 225 kW/306 CV e 600 Nm de binário (dois motores de 160 kW de potência e 300 Nm de binário), com uma aceleração dos zero aos 100km/h em apenas 5,7 segundos. Dispõe ainda de uma bateria de 87 kWh montada em posição central sob o piso, ajudando a reduzir o centro de gravidade na plataforma CMF-EV desenvolvida pela Aliança Renault-Nissan.

Cada eixo conta com um motor elétrico para controlo independente das rodas, com a Nissan a garantir que este sistema melhora não só o controlo fora do asfalto e em condições de motricidade mais débeis, mas também a confiança dinâmica em estrada, não só com uma maior linearidade em curva, mas também com um maior controlo da carroçaria nos arranques e travagens, situações em que a inércia ora afunda a frente, ora afunda a traseira. Dessa forma, visa também proporcionar maior conforto aos ocupantes, evitando as oscilações fortes nas acelerações ou travagens. Em desaceleração, a sensação de inclinação para a frente é reduzida graças à gestão da travagem regenerativa, com um equilíbrio regenerativo entre os eixos dianteiro e traseiro.

O sistema recorre a uma supervisão contínua do chassis, controlando a trajetória e a precisão da direção, melhorando a segurança e o dinamismo, com o binário a ser distribuído para a frente e para trás para maximizar a aderência dos pneus de acordo com as condições da superfície da estrada e a situação do automóvel, enquanto a travagem é controlada individualmente em cada uma das quatro rodas. Graças a este controlo preciso do sistema de dois motores e das capacidades de vetorização de binário do travão, o automóvel mantém o rumo certo mesmo com a estrada molhada, escorregadia com folhas molhadas, ou coberta de neve ou gelo.

Provas de fogo… no gelo

A Nissan quis demonstrar as potencialidades deste seu novo sistema (que apenas estará disponível no Ariya neste verão) com uma ação levada a cabo em estradas desafiantes dos Pirinéus e de Andorra, não faltando também uma passagem pelo circuito de neve situado precisamente nesta última, a uma altitude de 2400 metros.

Como tal, pudemos experimentar os X-Trail e-Power e-4ORCE e Ariya e-4ORCE em trajetos de cidade, aqui com claro enfoque na suavidade de rolamento e nas potencialidades de condução sem emissões, mas também em zonas de gelo e neve, com a sensação predominante a ser de grande confiança no comportamento.

Um dos aspetos que podemos salientar é o da seguranças nas trajetórias, com ambos os SUV a demonstrarem muita qualidade na forma como abordam as curvas, quer as mais lentas, quer as mais rápidas. O X-Trail é mais ágil, ainda assim, saindo-se melhor nas curvas mais lentas, enquanto o Ariya, com uma grande distância entre eixos e distribuição de peso perfeita entre a frente e a traseira (50/50) sobressai nas curvas mais rápidas, revelando grande sobriedade.

Os pneus de inverno ajudam bastante quando a neve o gelo começam a surgir não só nas bermas, mas também na própria estrada, mostrando-se assim uma combinação muito boa para evitar deslizes em piso de pouca motricidade.

As respostas eletrificadas são também muito boas, mais no caso do Ariya, que tem maior potência e que, em modo ‘Sport’, revela maior impulso quando o acelerador é pressionado com mais força. Apesar de mais pesado, o Ariya e-4ORCE ganha velocidade com grande eficácia, oferecendo também uma sonoridade fictícia a bordo que remete, de certa forma, para o universo dos motores de combustão. Nos outros modos, como o ‘Standard’ e o ‘Snow’ (neve), o silêncio impera num grande esforço de insonorização.

No X-Trail, o motor de combustão faz-se ouvir com frequência, mesmo que não seja propriamente incómodo para quem vai a bordo.

Mas foi no circuito de Andorra, a 2400 metros de altitude, que pudemos realmente sentir as mais-valias deste tipo de sistema de tração integral eletrificada. Com o piso já muito polido pela utilização constante de veículos, a motricidade era muito mais complicada, mesmo com os pneus com pregos que os veículos de teste contavam. A baixa velocidade era fácil controlar as trajetórias, mas quando se aumentava o ritmo havia que confiar muito mais na capacidade de interpretação do sistema e-4OUR.

Jogando com o peso de cada veículo – uma vez mais, o X-Trail revela maior agilidade –, a direção acaba por ter o tato suficiente para oferecer um controlo muito apurado, basicamente utilizando apenas o acelerador para controlar as operações. O sistema encarrega-se de distribuir a potência de forma ajustada entre cada roda para permitir um maior controlo, ainda que, no caso do Ariya, tenhamos percebido que nalguns casos o sistema ‘corta’ a entrega da potência quando entende que a situação é demasiado perigosa – interessante na estrada, menos quando temos um circuito à mercê. Nalgumas vezes, mesmo com o pedal do acelerador a fundo, a potência apenas era transmitida de forma muito suave às rodas, limitando sobremaneira o efeito de patinamento. Não há cá espaço para manobra à Rali da Suécia… e bem.

Noutros exercícios, pudemos também comprovar as capacidades de motricidade em aceleração, travagem e arranque em subida, com ambos os SUV a registarem desempenhos bastante competentes, numa clara verificação de que esta tecnologia funciona. Aplicando a tração às quatro rodas, o sistema vai ‘buscar’ aquelas que têm mais motricidade para fazer avançar, enquanto na travagem procura manter também uma neutralidade de reações, tanto em termos de balanceamento longitudinal da carroçaria, quer lateral.

O novo Ariya com tecnologia e-4ORCE chega ao mercado nacional no verão, com preços em redor dos 62 mil euros (50.407€ + IVA). Já o X-Trail e-Power e-4ORCE já se encontra à venda com um preço a partir dos 51.250€ no nível de equipamento N-Connecta de cinco lugares, tendo ainda como particularidade ser Classe 1 nas portagens por ter tração integral eletrificada.

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