Na mais recente geração do Octavia, a versão RS é um exemplo de subtileza e de carácter desportivo, mas sem esquecer todos os atributos que fazem deste modelo da Skoda uma deliciosa companhia para todas as ocasiões: prático para as viagens do dia-a-dia, cómodo para as grandes tiradas e confiante para os percursos de montanha. Ser multifacetado é uma mais-valia e o Skoda Octavia RS não falha em nada.

Poder-se-á pensar que um modelo de cariz desportivo com a sigla RS é uma antítese do pragmatismo familiar, mas o Octavia RS é um exemplo de uma receita em que todos os ingredientes estão dispostos na medida certa para que tanto o condutor como o resto da família usufruam de um automóvel muito composto e simples de utilizar em todas as ocasiões.

O visual é suficientemente apelativo para agradar a quem gosta de uma aparência chamativa e agressiva, mas sem se transformar num foco de atenções imediato, primando pelo requinte e pelo bom gosto proporcionado pelos para-choques desportivos, pela grelha de grandes dimensões com a sigla ‘RS’, pelo spoiler traseiro ligeiro na tampa da bagageira e pelas jantes opcionais de 19 polegadas de design ‘Altair’ por 630 € (as jantes de série são de 18″). A pintura ‘Azul Race’ adensa o seu visual eletrizante por um custo de 165€.

O interior aplica mais alguns ‘truques’ retirados diretamente do manual dos desportivos, com detalhes tão relevantes como os bancos desportivos com ótimo suporte do corpo (com encostos de cabeça integrados), o volante desportivo com patilhas integradas e os diversos acabamentos específicos da versão, como os pespontos em vermelho e revestimentos em Alcantara nalguns pontos.

Elementos que complementam um interior muito bem construído e com excelente aparência, não faltando também a devida habitabilidade de alto nível, com imenso espaço atrás, tanto para as pernas, como em altura do assento ao tejadilho. Por outro lado, o túnel central atrás é volumoso e pouco convidativo para um terceiro ocupante no lugar do meio.

Entre os apontamentos funcionais mais interessantes, nota para as duas portas USB atrás e uma tomada de 230 V. Abrindo a tampa da bagageira, o Octavia oferece uma imensidão de espaço e uma abertura ampla que está entre as melhores opções no que a berlinas diz respeito. Com 600 litros de capacidade, consegue rivalizar com muitas das carrinhas no mercado, o que atesta bem da sua competência familiar, apesar das dimensões exteriores relativamente compactas (4689 mm de comprimento). Neste aspeto, a Skoda continua a fazer autênticos ‘milagres’ no aproveitamento do espaço.

Na vertente tecnológica, nota para o sistema de infoentretenimento avançado com recurso a ecrã tátil de 10 polegadas, que não dispensa – bem – algumas teclas de atalho físicas logo abaixo para ‘chamar’ menus como o do ar condicionado ou o dos modos de condução, ainda que a operação tenha depois de continuar no ecrã tátil. De grandes dimensões e rápido no funcionamento, dispõe ainda de Android Auto e Apple CarPlay sem fios. O painel de instrumentos é também digital de 10.25 polegadas, sendo personalizável nas informações que apresenta e também alterável consoante o gosto do condutor.

Depressa e bem

A gama RS da Skoda é, paradoxalmente, ampla para o que é usual. Além da variante a gasolina de 245 CV, a marca checa aposta ainda numa cada vez mais rara versão 2.0 TDI de 200 CV e num híbrido Plug-in também de 245 CV de potência combinada. Haja procura que a oferta está garantida.

Porém, mantendo a tradicional filosofia das versões desportivas a gasolina, temos a ensaio a versão com motor 2.0 TSI de 245 CV de potência e 370 Nm de binário, números que já servem para impor algum respeito.

Variando os modos de condução, o Octavia RS mostra-nos facetas distintas. Começando pelo modo mais desportivo ‘Sport’, a resposta do motor é mais apurada, assim como a atuação da caixa (que passa também para ‘Sport), direção, sonoridade (demasiado artificial no habitáculo) e outros elementos que procuram salientar as prestações. É aqui que este modelo evidencia a sua total eficácia, mesmo dispondo apenas de tração dianteira.

Com respostas decididas e progressivas, o binómio motor/caixa dá-nos uma excelente sensação de condução, progredindo sem esforço tanto em autoestrada, como em traçados mais sinuosos, aqui valendo-se de notável estabilidade e direção com peso certo.

Esta mecânica demonstra excelente fulgor e uma sensação latente de energia, mesmo quando em ritmos mais comedidos, valendo-se da excelente atuação da caixa automática de sete velocidades de dupla embraiagem (DSG), com passagens praticamente impercetíveis que não quebram a subida de regimes. A sua disponibilidade e agradabilidade são reflexo de alguns progressos ao nível do motor, por exemplo na circulação dos gases de escape e no incremento da pressão de injeção da gasolina, tornando-o assim mais ‘redondo’ e, simultaneamente, intenso nas prestações que oferece.

Já no modo de condução ‘Eco’ (que visa uma economia maior), ao pressionar-se o pedal do acelerador a fundo para exigir uma recuperação de velocidade rápida, por exemplo para uma ultrapassagem, há um claro momento de espera enquanto é ‘interpretado’ esse mesmo sinal, algo que não acontece no modo ‘Sport’. No entanto, também vale a pena notar que o modo ‘Eco’, pela suavidade e elasticidade de funcionamento do motor, pode ser convenientemente usado no quotidiano, garantindo já prestações de alto gabarito sem penalizar em demasia os consumos.

Aliás, também aqui, um dado positivo: no nosso ensaio, o Octavia RS ficou-se pelos 7,8 l/100 km, perfeitamente em linha com a média homologada (WLTP) de 7,5 l/100 km. Naturalmente, o peso do pé direito pode incrementar o valor de gasolina gasto, chegando facilmente nesse caso aos 9,0 l/100 km, mas quando utilizado no modo mais desportivo sem qualquer pretensão de poupança.

O trabalho do chassis, com diferencial autoblocante eletrónico e suspensão mais firme (15 mm mais baixa), elevam a confiança do condutor, mesmo que, em boa verdade, o Octavia RS não seja um ‘acrobata’ para ser atirado de curva para curva. Mas, o seu comportamento é tão satisfatório que facilmente se torna evidente que este Skoda está entre as melhores soluções de índole desportiva sem ser extremista.

Isto porque, se o fosse, iria trair a sua outra natureza, a de um familiar muitíssimo competente, com um rolamento extremamente refinado, balançando com mestria entre o conforto e o dinamismo, mas sem defraudar qualquer um dos lados. Acima de tudo, é a forma como a suspensão trabalha no contacto com o asfalto que faz deste Octavia RS um mestre da versatilidade.

Esta versão tem um preço base de 46.050€, o que é perfeitamente adequado para uma berlina de tais competências, embora alguns equipamentos estejam estranhamente posicionados entre os opcionais, como o sistema Driver Alert (sistema de reconhecimento
de fadiga do condutor), os espelhos retrovisores exteriores elétricos retráteis antiencadeamento (465€), os bancos dianteiros ajustáveis eletricamente com memória (975€), o cruise control adaptativo (400€) e o sistema de navegação Columbus de 10″ com serviços conectados. No total, a unidade ensaiada superava por pouco os 50.000€.

VEREDICTO

Esta versão Octavia RS com motor 2.0 TSI de 245 CV é o resultado de uma prodigiosa fórmula de equilibrismo entre prestações e comportamento desportivos e a sobriedade e refinamento qualitativo de uma berlina familiar.

Graças ao motor de alta performance, é capaz de registos dinâmicos bastante interessantes, valendo-se do funcionamento da caixa de velocidades DSG para altas ambições, sem comprometer parâmetros funcionais como os trajetos do dia-a-dia ou a eficiência. Um consumo realista na fronteira entre os 7 e os 8 l/100 km é exequível e o conforto agradável até enquanto automóvel familiar.

Junte-se a esta equação a excelente habitabilidade e o imenso espaço da bagageira e o Octavia RS tem um lugar muito especial no imaginário dos desportivos. Se é o mais rápido e o mais recompensador na condução? Com alguma frontalidade, não. Mas, é um dos que melhor conjuga todas as facetas do dia-a-dia e isso, em si, é um trunfo arrebatador.


MAIS
Solidez de condução irrepreensível
Qualidade de construção de alto nível
Detalhes desportivos da versão RS
Prestações
Economia
Habitabilidade/bagageira

MENOS
Alguns opcionais deveriam ser de série
Artificialidade do ruído do motor
Quem espera um modelo mais extremo pode ficar defraudado

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.

AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9
Dinâmica
8.5
Espaço
9
Segurança
9
Prestações
8.5
Consumos
8.5
Preço/equipamento
8