Amnistia Internacional alerta para exploração infantil e poluição associadas às baterias

23/03/2019

A Amnistia Internacional (AI) alertou os principais fabricantes automóveis e os produtores de baterias elétricas para a necessidade de pensar nas questões adjacentes às da mobilidade elétrica, apontando que as baterias de iões de lítio atualmente utilizadas nos veículos elétricos vêm associadas a trabalho infantil e a riscos ambientais que podem ser também severos.

Numa longa nota publicada no seu site e que também foi ecoada na Conferência Nórdica para os Veículos Elétricos, em Oslo, na Noruega, aquela entidade aponta que as baterias de iões de lítio “que dão energia aos carros elétricos e aparelhos eletrónicos estão ligadas a abusos dos direitos humanos, incluindo trabalho infantil na República Democrática do Congo, e a riscos ambientais que podem trair o seu potencial verde”.

O alerta, misturado com o desafio para a criação de uma primeira bateria “completamente ética num prazo de cinco anos”, é dado pela voz de Kumi Naidoo, Secretária-Geral daquela organização não-governamental, referindo que “encontrar soluções eficazes para a crise climática é imperativo e os carros elétricos têm um papel importante neste aspeto. Mas sem mudanças radicais, as baterias que dão energia aos veículos ‘verdes’ vão continuar manchadas pelos abusos dos direitos humanos”.

De acordo com a AI, se os elétricos são chave para afastar a indústria automóvel dos combustíveis fósseis, “não são atualmente tão éticos como alguns comerciantes gostam que pensemos. Anos de práticas de indústria sem regulação levaram à menorização dos direitos humanos e a impactos ambientais, para os quais os governos e a indústria não estão a fazer o suficiente para resolver”.

Recorde-se que são já muitas as marcas e países que apostam numa transição para os modelos 100% elétricos ou eletrificados na próxima década. Neste cenário, a Amnistia Internacional aponta casos de violação dos direitos humanos em países onde é realizada a extração de metais para a produção de baterias de iões de lítio, sobretudo afetando crianças num cenário que é necessário reverter.

Aponta, como causa, o facto de nenhum país exigir, legalmente, que “as companhias publiquem a sua cadeia de fornecimento de cobalto”, que, ainda de acordo com a mesma fonte, sendo “mais de metade do cobalto mundial proveniente do Sul da RDC, a probabilidade de que as baterias que dão energia aos veículos elétricos estejam manchadas pelo trabalho infantil e outros abusos é altamente inaceitável”.

Por outro lado, aponta os progressos de algumas empresas que já divulgam a cadeia de fornecimento de matéria-prima, como a Apple, BMW, Daimler, Renault e a Samsung SDI.

A AI dá ainda conta do elevado impacto ambiental da produção das baterias. “A maior parte da produção das atuais baterias de iões de lítio está concentrada na China, Coreia do Sul e Japão, onde a eletricidade gerada continua dependente do carvão e doutras fontes poluidoras de energia”, lê-se no relatório publicado por aquela organização, deixando a mensagem que à redução das emissões de gases de estufa decorrentes do trânsito tem de se juntar a redução da pegada de carbono na fase de produção.

Junta, ainda, um alerta para o facto de a “procura elevada de minerais como cobalto, manganésio e lítio ter levado a um aumento de interesse na mineração no mar profundo, com estudos que preveem impactos sérios e irreversíveis na biodiversidade” e uma nota para a necessidade de uma ação de reciclagem das baterias eficaz, mencionando casos de poluição causada pela incorreta reciclagem de baterias em fim de vida.