M. Francis Portela
M. Francis Portela
Investigador
O aquecimento global pode ter efeitos catastróficos para o ecossistema terrestre, mas para o comércio marítimo, poderá ser uma bênção. Isto porque, este mês, e pela primeira vez na história, um navio cargueiro comercial conseguiu atravessar a Passagem Norte do mar Ártico, junto à costa norte da Rússia, uma alternativa semelhante à Passagem Nordeste.
M. Francis Portela
M. Francis Portela
Investigador

A Passagem Norte é uma variante mais curta da Passagem Nordeste, depois do mar de Barents, começando a leste da ilha de Nova Zembla e navegando em direção ao estreito de Bering, a separação natural entre a Eurásia e a América do Norte. Em condições normais, era necessário navegar por estas águas com um quebra-gelo, tornando a viagem impraticável para as necessidades dos transportes marítimos de mercadorias de natureza comercial.

O nível de gelo no ártico está a num mínimo histórico, permitindo o surgimento de correntes marítimas de água quente. O armador Maersk Line aproveitou estas condições para enviar o Venta Maersk de Vladivostok para S. Petersburgo, através do estreito de Bering e do Mar Ártico, com a viagem a começar o mês passado e a terminar esta semana. Foi a primeira vez que um cargueiro comercial convencional completou esta viagem sem assistência. Em 2017, um petroleiro russo concebido especificamente para esta viagem, o Christophe de Margerie, também tinha completado esta rota.

Foi apenas no Século XVIII que foi possível cartografar a geografia em redor do Mar Ártico, na procura por uma Passagem Noroeste e Passagem Nordeste que reduzissem o tempo de viagem entre a Europa e o Extremo Oriente. A primeira viagem bem-sucedida pela Passagem Nordeste teve lugar entre 1878 e 1879, quando o explorador sueco Adolf Erik Nordenskiöld e o comandante Louis Palander comandaram a expedição Vega, atravessando o Artico entre o Mar do Norte e o Estreito de Bering. Um navegador português, David Melgueiro, terá navegado entre o Japão e o Porto entre 1660, através da mesma rota, mas não existem documentos que comprovem totalmente a realização desta viagem.