Clássico ou não clássico? Eis a questão!

05/08/2020

O tema de hoje é sensível entre a comunidade dos clássicos. O mesmo que nos apaixona a todos pode ser mais volátil do que se pensa, e a ideia de definir o significado de clássico pode ser perigosa e limitadora.

Tal como a mente é livre de amar e de cuidar, também a definição de clássico não deve ser castradora nem limitar sentimentos tão nobres como o amor pelos clássicos. Apesar destes estarem na moda, e aparentemente toda a gente gostar deles, é o esforço de uma minoria que carrega a árdua responsabilidade de proteger e fazer perdurar essas máquina pelo mundo fora. É também quando se gosta demasiado de algo, que invariavelmente se debate mais fervorosamente uma ideia, e por vezes com resultados inglórios.

Este artigo não pretende de modo algum responder à pergunta nem tão pouco definir o conceito de clássico. Espero, no entanto, contribuir para uma reflexão cuidada do assunto de hoje. Elevar o conceito de clássico não passa por excluir os menos cotados. Elevar passa por promover a preservação do automóvel e pela dignificação da sua história. Se um carro está na família há 30 anos, é clássico? É uma pergunta válida. Uma outra pergunta se coloca de forma tímida: que histórias aquele carro podia contar se pudesse falar? O que representou para aquela família o carro, que ditasse a conservação do mesmo. Que valor sentimental se somou para preservar aquela viatura. Sem dúvida que quem dá valor preserva e cuida. E como todos sabemos, os clássicos necessitam de muito cuidado e atenção. É neste espírito que convido todos a pensar sobre o que significa clássico automóvel para vós.

Refletir sobre o próprio termo clássico pode ajudar ao debate. Clássico remete-nos para uma época passada. Uma espécie de antiguidade grega automobilística, onde os conceitos de estética, luxo e performance divergiam dos atuais. O termo clássico parece, segundo algumas fontes, ter ganho peso aquando do lançamento da revista inglesa “Thoroughbred & Classic Cars”, em 1973.

Perante a lei portuguesa, a terminologia correta é Veículos de interesse histórico. Em suma, têm de preencher três requisitos, nomeadamente terem sido fabricados ou matriculados há pelo menos 30 anos; não serem actualmente produzidos e, por fim, deveram ser preservados no seu estado original, mantendo as características principais e sem alterações significativas.

Os clássicos representam sempre uma visão perdida no tempo com pequenos reencontros pontuais. Um pequeno momento de história com rodas. Decerto que há marcas que maiores contributos deram à causa dos clássicos, e clássicos que detêm um valor de quantificação inestimável. Várias características de um dado automóvel clássico poderão acrescentar valor. Entre elas, a sua raridade, a sua procura e a sua marca. Claro que todas estas variáveis estão intimamente interligadas, e que existem mais outras dezenas que influenciam o seu valor. Já pararam para pensar, o que vêem nos vossos clássicos? O que para vós significa aquele automóvel? Mais do que amealhar clássicos na garagem, desfrutem das qualidades únicas que cada um desses automóveis de interesse histórico têm.

Muitos clássicos há por este mundo fora, e a lista é interminável. No sentido de dar um cunho ainda mais pessoal a este exercício reflexivo, deixo-vos com uma pequena sugestão de resposta ao paragrafo anterior. Para mim, clássicos apelam a uma característica exclusiva, assim sendo, o que dizer do carisma do Ferrari 250 GT Berlinetta Lusso, da pujança de um Duesenberg SJ, do refinamento de um Rolls Royce Corniche ou da imponência de Cadillac Brougham d’elegance. Conduzir qualquer um destes fantásticos clássicos é um luxo que poucos têm acesso. Mais do que andar ou circular, estes clássicos desfilam ostensivamente, libertando o suave perfume do seu charme, que só de intensidade cresce com os anos.

A elegância e a exclusividade serão sempre um argumento de peso na minha definição de clássico. E para si, já pensou o que poderá ser?