Lisbon Mobi Summit: Transportes públicos como ‘arma’ para livrar as cidades dos carros

14/09/2018

Estando as grandes cidades cada vez mais pressionadas em termos de espaço, os transportes públicos são vistos como a grande solução para fundamentar uma mobilidade mais sustentada e, sobretudo, mais eficiente. Esta foi uma das principais conclusões extraídas do painel relativo às cidades inteligentes do futuro, no qual Fernando Medina, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, voltou a defender uma simplificação e integração eficaz dos meios de transporte da Grande Lisboa.

No debate que decorreu no âmbito do Lisbon Mobi Summit e que contou com a presença também de Pascal Smet, ministro para a Mobilidade da cidade belga de Bruxelas, e com José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, cada um dos responsáveis colocou em cima da ‘mesa’ os problemas que cada local enfrenta, atendendo a que os problemas são sempre diferenciados entre diversos pontos do globo.

Mas, transversal ao discurso de Medina e de Smet foi a noção de que é necessário melhorar e investir na rede de transportes públicos e partilhados, bem como promover uma melhor integração entre os diversos modos.

“O grande problema que se põe às cidades hoje é de organização do espaço, como é que organizamos esses espaços. Não há nenhum solução que resolva de uma só vez os problemas de cada cidade. Tem que ver com a circulação de pessoas e bens num determinado espaço. A realidade de Lisboa coloca desafios muito pesados ao nível da mobilidade, com um fenómeno de crescimento de pessoas na área metropolitana de Lisboa, esvaziando-se o centro para as áreas limítrofes da cidade. Isso aconteceu em Lisboa e de forma mais agressiva no Porto. Significa que houve uma difusão do que são hoje os locais de acesso ao lazer, ao comércio, à saúde e de trabalho”, começou por dizer o autarca lisboeta, recordando que essa mudança de paradigma da descentralização em termos de habitantes fez-se com um apontamento.

“Em 1980, Lisboa tinha 800 mil habitantes, hoje tem 500 mil. O esvaziamento do centro da cidade deu-se a par do desenvolvimento da mobilidade pelo automóvel. Muitas das pessoas que saíram da cidade procuraram localizar-se junto a eixos viários de fácil acesso à cidade, como a A5. Foi aí que decorreu um grande aumento. Hoje há 370 mil carros a entrarem na cidade e não há lugar para eles”, acrescentou, lembrando que é preciso “fortalecer o transporte público que tem hoje quatro problemas”.

“São absurdamente caros e irracionalmente dispendiosos; são ineficientes pelo que têm de se fazer investimentos para melhorar a sua eficiência; tem de se passar o comando para os municípios de forma integrada e, por fim, concluir o concurso de transporte rodoviário integrado para a Área Metropolitana com tarifário, rede e bilhética”, enumerou, reforçando o seu esforço na simplificação e redução dos preços dos passes dos transportes públicos.

“O que propusemos foi acabar com todos os passes e transformá-los a todos num único passe que custa 40 euros por mês e diminuir o valor do passe para o interior da cidade para um máximo de 30 euros, que é o preço da cidade de Viena. O preço é hoje um obstáculo central no acesso ao transporte publico”, afiançou.

Lembrando ainda que muitas vozes críticas questionaram a questão do financiamento dos transportes com esta redução do preço dos passes, Medina demonstrou-se surpreendido por ninguém ter criticado a proposta para a redução do ISP, um esforço que, entende, dever-se-ia fazer era na redução do custo dos transportes públicos e apelou ao papel do Governo na transformação e melhoria da eficácia dos transportes com o intuito de tirar os automóveis de dentro das cidades, onde “não são sustentáveis”.

Sem marcar presença fisicamente, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, enviou uma mensagem através de vídeo, deixando a ideia de que “mobilidade deve afastar-se do transporte individual. Acreditamos que precisamos de uma evolução e abordagem mais envolvente nas áreas que foram utilizadas para a mobilidade. Devemos tornar os transportes púbicos mais sustentáveis e libertar as cidades do afogamento com o trânsito que sorve as vidas das pessoas”.

“Cidades livres de carros”

Visão semelhante tem Pascal Smet, responsável pelos transpores de Bruxelas e que é da ideia de que dentro de algumas décadas, a “Humanidade olhará para o passado e irá pensar que o carro particular foi o seu maior erro”.

Indo mais longe, mostrou a sua crença de que “dentro de 15 ou 20 anos, a mobilidade da sociedade será feita em torno unicamente dos carros partilhados” e que os construtores terão de se orientar também para essa área, porque “não irão vender carros a particulares. Serão cidades livres de carros e devemos preparar-nos para isso e preparar as pessoas para isso”.