No debate que decorreu no âmbito do Lisbon Mobi Summit e que contou com a presença também de Pascal Smet, ministro para a Mobilidade da cidade belga de Bruxelas, e com José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, cada um dos responsáveis colocou em cima da ‘mesa’ os problemas que cada local enfrenta, atendendo a que os problemas são sempre diferenciados entre diversos pontos do globo.
Mas, transversal ao discurso de Medina e de Smet foi a noção de que é necessário melhorar e investir na rede de transportes públicos e partilhados, bem como promover uma melhor integração entre os diversos modos.
“O grande problema que se põe às cidades hoje é de organização do espaço, como é que organizamos esses espaços. Não há nenhum solução que resolva de uma só vez os problemas de cada cidade. Tem que ver com a circulação de pessoas e bens num determinado espaço. A realidade de Lisboa coloca desafios muito pesados ao nível da mobilidade, com um fenómeno de crescimento de pessoas na área metropolitana de Lisboa, esvaziando-se o centro para as áreas limítrofes da cidade. Isso aconteceu em Lisboa e de forma mais agressiva no Porto. Significa que houve uma difusão do que são hoje os locais de acesso ao lazer, ao comércio, à saúde e de trabalho”, começou por dizer o autarca lisboeta, recordando que essa mudança de paradigma da descentralização em termos de habitantes fez-se com um apontamento.
“Em 1980, Lisboa tinha 800 mil habitantes, hoje tem 500 mil. O esvaziamento do centro da cidade deu-se a par do desenvolvimento da mobilidade pelo automóvel. Muitas das pessoas que saíram da cidade procuraram localizar-se junto a eixos viários de fácil acesso à cidade, como a A5. Foi aí que decorreu um grande aumento. Hoje há 370 mil carros a entrarem na cidade e não há lugar para eles”, acrescentou, lembrando que é preciso “fortalecer o transporte público que tem hoje quatro problemas”.
“São absurdamente caros e irracionalmente dispendiosos; são ineficientes pelo que têm de se fazer investimentos para melhorar a sua eficiência; tem de se passar o comando para os municípios de forma integrada e, por fim, concluir o concurso de transporte rodoviário integrado para a Área Metropolitana com tarifário, rede e bilhética”, enumerou, reforçando o seu esforço na simplificação e redução dos preços dos passes dos transportes públicos.“O que propusemos foi acabar com todos os passes e transformá-los a todos num único passe que custa 40 euros por mês e diminuir o valor do passe para o interior da cidade para um máximo de 30 euros, que é o preço da cidade de Viena. O preço é hoje um obstáculo central no acesso ao transporte publico”, afiançou.
Lembrando ainda que muitas vozes críticas questionaram a questão do financiamento dos transportes com esta redução do preço dos passes, Medina demonstrou-se surpreendido por ninguém ter criticado a proposta para a redução do ISP, um esforço que, entende, dever-se-ia fazer era na redução do custo dos transportes públicos e apelou ao papel do Governo na transformação e melhoria da eficácia dos transportes com o intuito de tirar os automóveis de dentro das cidades, onde “não são sustentáveis”.
Sem marcar presença fisicamente, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, enviou uma mensagem através de vídeo, deixando a ideia de que “mobilidade deve afastar-se do transporte individual. Acreditamos que precisamos de uma evolução e abordagem mais envolvente nas áreas que foram utilizadas para a mobilidade. Devemos tornar os transportes púbicos mais sustentáveis e libertar as cidades do afogamento com o trânsito que sorve as vidas das pessoas”.
“Cidades livres de carros”
Indo mais longe, mostrou a sua crença de que “dentro de 15 ou 20 anos, a mobilidade da sociedade será feita em torno unicamente dos carros partilhados” e que os construtores terão de se orientar também para essa área, porque “não irão vender carros a particulares. Serão cidades livres de carros e devemos preparar-nos para isso e preparar as pessoas para isso”.