Imitando aquilo que já se observou no mercado chinês com o surto de Covid-19, também o mercado automóvel português sofreu uma quebra imensa (quase 57%) em virtude da implementação do Estado de Emergência em meados do mês de março. Um resultado que se revela esperado atendendo à conjuntura atual, mas que tenderá a piorar à medida que as medidas de restrição à mobilidade e à abertura de espaços comerciais não essenciais se mantiverem em vigor.

A Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA) apelidou a situação da pandemia como a “pior crise alguma vez enfrentada pela indústria automóvel” e os resultados das medidas de contenção à propagação do vírus estão bem à vista nos principais mercados europeus (face ao período homólogo): em Itália, a quebra nas vendas em março foi de 86%, enquanto em França a quebra foi de 72%. Portugal não fugiu à regra. A quebra no nosso país foi de 56,6% em comparação com o mês de março de 2019, com a grande maioria das matrículas a serem feitas na primeira metade do mês e de encomendas feitas antes da chegada em força da pandemia.

No total, de acordo com os dados revelados pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP), foram matriculados 12.399 veículos, representando menos 56,6% face ao mesmo mês do ano passado.

A quebra das encomendas das rent-a-car também terá um forte contributos para a quebra do mercdo automóvel, ficando patente na tabela de vendas que quem depende mais desse mercado sofreu mais em março.

Segmentando o mercado, os ligeiros de passageiros caíram 57,4% no mês de março de 2020 (face ao mesmo mês de 2019), com um total de 10.596 matrículas. Nos três primeiros meses do ano as matrículas de veículos ligeiros de passageiros totalizaram 45.282 unidades, o que se traduziu numa variação negativa de 23,8% relativamente a período homólogo de 2019. Os ligeiros de mercadorias tiveram uma queda de 51,2%, situando-se em 1557 unidades matriculadas. No primeiro trimestre de 2020, a queda face ao período homólogo é de 24,0%, com 6636 unidades registadas.

Quanto ao mercado de veículos pesados, o qual engloba os tipos de passageiros e de mercadorias, bem como os tratores de mercadorias, no terceiro mês do ano de 2020 verificou-se uma queda de 46,6% em relação ao mês homólogo do ano anterior, tendo sido comercializados 246 veículos desta categoria. De janeiro a março, há registo de 1023 unidades matriculadas, numa queda do mercado de 29,5% relativamente ao período homólogo de 2019.

Em termos acumulados, no primeiro trimestre de 2020, foram colocados em circulação 52.941 novos veículos, o que representou uma diminuição homóloga de 24,0 por cento.

Marcas no vermelho

No mercado ligeiro de passageiros, praticamente todas as marcas sofreram quebras abismais, a grande maioria das quais, com decréscimos acima dos 50%. Fazendo as contas pelo inverso, começa-se pelas únicas marcas em destaque: a Tesla teve um aumento de 53,2% face ao mês de março de 2019, embora também diga respeito a muitas entregas de veículos feitas este mês, sendo a que a outra marca de volume a fazer números positivos foi a Land Rover, com um aumento de 27,3%.

As demais no vermelho. No primeiro lugar da tabela, numa tradição que quase não se altera, a Renault vendeu 1266 unidades, uma quebra de 68,0% face ao mesmo mês do ano passado (quota de mercado de 11,9%), ficando nas duas posições seguintes duas marcas Premium, cabendo à Mercedes-Benz o estatuto de vice-liderança, com uma quebra de 24,9%, correspondendo a 1192 veículos matriculados (quota de 11,2%). Em terceiro lugar, a BMW, com 857 matrículas, a que corresponde uma queda homóloga de 36,9% (quota de 8,1%).

A Peugeot ficou na quarta posição (856 matrículas), com uma quebra nas vendas de 65,7% (quota de 8,1%), logo à frente da SEAT (686), com um decréscimo de 21,6% (quota de 6,6%). Em sexto, a Toyota (654), que sofreu uma queda nas vendas de 28,6% (quota de 6,2%), na frente de Ford (menos 52,0% e quota de 5,7%) e da Tesla (544 registos e quota de mercado de 5,1%).

Quanto às marcas com maiores quebras (focando-nos nas chamadas marcas de volume e não nas de nicho como as dos superdesportivos), a smart surge em primeiro lugar, embora a marca de citadinos seja apanhada numa ‘tempestade perfeita’: não só passou a ter uma gama 100% elétrica, como também sofreu os efeitos da pandemia. Caiu 93,3%, passando das 328 unidades matriculadas em março de 2019 para 22 este ano. Também a Alfa Romeo teve uma grande descida, de 93,2%, com a Fiat a ser também afetada com um decréscimo de 88,3%.