Oliveira Martins: Mobilidade traz “oportunidades” mas é preciso acautelar “riscos e ameaças”

13/09/2018

Se a transformação na área da mobilidade pode trazer consigo “muitas oportunidades”, o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme de Oliveira Martins, aponta que essa situação também traz consigo “riscos e ameaças que é necessário perceber e acautelar”. Mesmo assim, garante, a aposta na mobilidade está a ser feita e vai ser reforçada.

Na sessão de abertura da Conferência da Mobilidade Lisbon Mobi Summit, que teve lugar em Lisboa, Oliveira Martins recordou que se assiste atualmente a uma transformação enorme da mobilidade e que os governos têm de estar atentos a essas mesmas mudanças, para que os riscos e ameaças não se sobreponham aos benefícios, dando exemplos.

“Olhe-se, por exemplo, para a condução autónoma que, se por um lado, pode ser uma fonte facilitadora de mobilidade partilhada, poderá trazer ganhos de eficiência e de segurança, reduzindo os tempos improdutivos, mas, também poderá ter consequências negativos, como a perda de postos de trabalho, aumento de circulação por utilização de pessoas sem carta ou não licenciadas ou pelas chamadas deslocações em vazio”, começou por indicar, apontando também uma ambivalência na mobilidade partilhada.

“Na mobilidade partilhada, reconhecida promotora de eficiência, podemos também encontrar efeitos contraditórios e traçar cenários de evolução divergentes. Se por um lado introduz forte racionalização nas escolhas individuais, pode também afastar ainda mais as pessoas dos transportes coletivos, comprometendo a sustentabilidade dos transportes públicos”, acrescentou, antes de se debruçar também sobre os riscos da eletrificação.

“Até mesmo a difusão da mobilidade elétrica pode trazer questões paradoxais. Se por um lado, a tração elétrica está a generalizar-se e pretende-se que atinja mais modos de transporte, também sabemos que é verdade que pode induzir a uma redução de custos variáveis e induzir uma maior utilização do automóvel e se assim for irão subsistir os problemas associados aos engarrafamentos, escassez de espaço urbano e salvaguarda da tranquilidade. Basta notar que um carro elétrico ocupa o mesmo espaço que um carro a gasolina”, salientou, acrescentando que continuará a fazer sentido “uma política do favorecimento no transporte coletivo conjugada com uma flexibilidade que as novas soluções de transporte possibilitam na distribuição capilar”.

Guilherme de Oliveira Martins apresentou ainda a sua convicção de que não existirá uma “solução única para resolver os problemas da mobilidade. As novas soluções, em conjunto, terão de existir como complementares em alternativa às já existentes, para que cada pessoa adote a forma de mobilidade mais adequada aos fins que desejam”. Destaca, por isso, que os meios pesados devem continuar a ser favorecidos, mas integrados com as novas tecnologias, respondendo ao “desafio do planeamento” para aprender a “conviver com várias tecnologias”, sem esquecer, por exemplo, uma integração modal a vários níveis e com ‘players’ privados e públicos.

Ponto ainda abordado por Guilherme de Oliveira Martins foi o do Programa Nacional de Investimentos, em consulta pública e que será apresentado à Assembleia da República em outubro, lembrando ainda que o programa em vigor até 2030 traduz uma forte aposta na mobilidade e nos transportes, sem esquecer as vertentes do ambiente e da energia, considerando que estas são áreas interligadas.