Presidente da Toyota e membro da família que fundou e deu os primeiros passos da marca como a conhecemos hoje, Akio Toyoda colocou-se à mercê de diversos responsáveis globais da companhia e de outros convidados, sendo confrontado com 40 questões em que ‘abriu o coração’. Numa ocasião bastante rara, Toyoda admitiu que um dos seus maiores medos em relação ao futuro da marca é que a mesma volte a ser uma “empresa banal”.

Akio Toyoda esteve presente no Salão de Mobilidade de Tóquio, no Japão, para dar a conhecer as novidades da marca japonesa, mas também para se sujeitar a 40 questões levantadas por representantes globais da marca e por outros convidados, falando a título particular dos mais diversos temas – da sua responsabilidade na liderança, dos momentos menos bons, do medo de falhar, do passado de ‘bullying’ e da vontade de sorrir todos os dias. E do seu medo principal: o de ver a Toyota tornar-se numa “empresa banal”.

“Não estou aqui hoje para refletir sobre o trabalho acrescido que resulta do título de ‘Presidente da Toyota’. Permitam-me que fale por mim mesmo enquanto indivíduo”, assim começou Akio Toyoda a sua participação na sessão de perguntas e respostas, entretanto revelada pelo site ToyotaTimes.

Falando sobre os últimos 14 anos de liderança na Toyota, o responsável explicou como foi preciso mudar algumas mentalidades dentro da marca em defesa daquele que se tornou num dos seus lemas: ‘Fazer Sempre Automóveis Melhores’.

“A minha determinação para fazer automóveis sempre melhores começou no dia em 2011 em que revelámos o Lexus GS em Pebble Beach, na Costa Oeste da América, apenas para me dizerem que a ‘Lexus é aborrecida’. Nessa época, estávamos a fazer testes no [circuito de] Nürburgring, na Alemanha, onde a Toyota era a única marca a utilizar um carro antigo. Os fabricantes europeus estavam a utilizar os seus mais recentes modelos de desenvolvimento e olhavam para nós e diziam ‘A Toyota não consegue fazê-lo’. Isso apenas alimentou o meu fogo. Mas durou verdadeiramente muito tempo”, afirmou Toyoda.

“Quando me aproximei da ‘torre de marfim’ da equipa de engenharia para lhes contar sobre as minhas impressões dos nossos carros, eles acabavam com a conversa dizendo que ‘não obtivemos esses dados ou quaisquer queixas’. Mesmo quando mudei o ‘bico ao prego’ e lhes pedi para conduzirem algo que eu pensava que era melhor para fazerem uma comparação, eles respondiam que ‘são iguais no papel’. Foi realmente difícil. Sem aliados e sem ninguém capaz de me entender, sem um ‘background’ de engenharia, tudo o que eu podia fazer era sentar-me atrás do volante e continuar a conduzir, dominar a técnica e aperfeiçoar os meus sentidos. Assim, pude suportar as minhas perceções com dados e mais engenheiros ficaram abertos a ouvir as minhas sugestões. Também me começaram a trazer veículos de desenvolvimento para ensaiar. Às vezes, tinha pilotos profissionais comigo e falava diretamente com o Engenheiro Chefe para trocarmos de impressões”; recordou Toyoda, que enfatizou a mudança operada.

“Atualmente, incorporam diretamente o meu feedback e devolvem-me [o carro] passado uma semana”, disse.

Nesse mesmo sentido, respondendo a outra pergunta sobre a mensagem que gostaria de deixar aos líderes do futuro, Akio recordou o papel que o seu avô, Kiichiro Toyoda, teve para desenvolver a mobilidade, criando a Toyota, afirmando que “os carros não são produzidos por uma única pessoa e Kiichiro também não estava sozinho. Recompensamos aqueles que nos acompanham. A Toyota não é uma empresa de um único homem, mas uma empresa de todos. Penso que é importante criar uma atmosfera que evite esses erros de compreensão. Tenho o medo constante de que a Toyota volte a ser uma empresa banal. Quando esse medo se espalhar a muita gente, será já demasiado tarde. Mesmo com o título de Presidente, levei 14 anos a mudar a Toyota, mas as coisas podem reverter num instante”.

O peso de representar a família Toyoda fica também patente na resposta a uma outra questão, sobre os sonhos que ainda pretende concretizar. Akio explicou que “cresci a ser ensinado a não sonhar. Disseram-me para viver para os outros, por isso não tenho muitos sonhos, mas enfrento inúmeros obstáculos e desafios. Arrogância, conflito, criticismo, insultos e inatividade. Na Toyota, havia tanta racionalização sobre o porquê de as coisas não serem feitas. Como se não fazer nada fosse a melhor opção. Este já não é o caso para todos. Ainda assim, mesmo que não mintam, não contam toda a verdade, apenas a que favorece a sua situação. Em posições em que é preciso tomar decisões com responsabilidade e dedicação, temos de olhar para os factos, mas nem todos levam isso em conta”.

O passado de Toyoda volta a ser chamado quando é desafiado a mandar uma mensagem hipotética a si próprio no passado, a um Akio Toyoda ainda a crescer. “‘Ainda a implicarem contigo? Sabes que também tens muita gente do teu lado?’. Isto é porque fui vítima de ‘bullying’ toda a minha vida. Quero dizer ao meu eu mais jovem ‘Não desistas. Tens amigos’”, revelou Toyoda, para quem o sorriso passou a fazer parte da sua própria rotina, mesmo quando se esconde debaixo do capacete como ‘Morizo’, o piloto de competição.