E agora para algo completamente diferente…

Deve ter sido isso ou algo parecido que Richard Thorpe terá pensado quando se propôs a desenvolver uma bicicleta elétrica. Engenheiro automóvel na MacLaren, terá sido, em 2002, ao circular pelas ruas de Londres e ao deparar-se com as dificuldades do tráfego, que decidiu largar o emprego de sonho e dedicar-se em exclusivo ao projeto. Construir não outra mas sim uma nova bicicleta . Quando alguém tenciona revolucionar alguma coisa com pelo menos 200 anos e milhares de modelos diferentes tem de ser ousado e à Gocycle o que não falta é ousadia.

Já na 4.ª geração (a GS é o atual modelo à venda), a Gocycle está assente num quadro em liga de magnésio moldada por injeção, disponível em branco ou cinzento que pode ser combinado com as cores vermelho, preto, azul, cor de rosa ou turquesa da barra de transmissão. Vem equipada com um motor de 250 watts, que dá bem conta do recado, com um sistema de três mudanças manuais e pesa cerca 16,5 Kg. Um peso pluma na categoria das bicicletas elétricas dobráveis. É bom recordar que, ao abrigo das normas europeias, a assistência do motor deixa de ser feita aos 25km/h, o que convenhamos é uma velocidade cruzeiro bastante razoável mas a leveza do modelo permite-nos andar um pouco mais rápido.

Outra das vantagens da Gocycle ser bastante “pedalável” mesmo sem a ajuda do motor, é podermos continuar a usá-la caso se tenha ficado sem bateria. Para a carregar, existe por baixo do espigão do selim e junto do botão on/of uma entrada para o carregador, que demora cerca de 5.30 horas para uma carga completa à bateria que está escondida no interior do quadro. Igualmente escondida está a transmissão, que evita assim sujidades inconvenientes, conferindo ao conjunto uma forma compacta bastante atraente, que não deixa ninguém indiferente.

O fabricante anuncia uma autonomia até 65km no modo eco, mas durante o tempo que usámos a bicicleta, fizemos um total de 34,4km e gastámos uma carga e meia. Como atenuante diga-se que fizemos umas “boas” subidas por Lisboa e arredores e testámos os diversos níveis de ajuda.

A acompanhar o modelo vem a aplicação Gocycle Connect com a qual se define o tipo utilização que se pretende. Estão disponíveis três modos: City, Eco, On-Demand e ainda um outro que permite personalizar o comportamento do motor ao nosso gosto. Apesar disso, a harmonização entre o esforço da pedalada e a resposta do motor nem sempre é fácil de conseguir. No entanto, para colmatar alguma assincronia, temos à disposição um botão junto do manípulo esquerdo que, mantido premido, antecipa a ajuda que precisamos. A aplicação liga-se à bicicleta através do Bluetooth e é frequente ter de se restabelecer a ligação. Para lá de permitir controlar o nível de ajuda que se pretende ter, ainda disponibiliza outras informações úteis, tais como velocidade média e instantânea, quilometragem parcial e total, calorias gastas, tempo de viagem e carga restante da bateria. Em andamento, é possível fixar o smartphone à barra do guiador para aceder às configurações, no entanto, do ponto de vista da segurança, não será o mais recomendável.

A dobragem da bicicleta também não é nada convencional. As rodas saem por meio de três patilhas que uma vez abertas soltam a roda do eixo e as deixam independentes do quadro. Para dobrar a barra de transmissão é necessário soltar a cavilha do amortecedor e em seguida colapsá-lo para baixo e para frente, num movimento simples. O guiador dobra após o desaperto manual de um parafuso e fica junto do quadro como nos modelos mais tradicionais. Já para baixar o espigão do selim temos de usar uma chave sextavada que se encontra encaixada por baixo deste. A operação um pouco demorada pode ser um inconveniente para quem precise de a fazer com frequência. É certo que o representante da marca diz que a dobragem foi projetada mais para quando se quer guardar a bicicleta e menos para dobragens constantes.

No que toca à ergonomia, a distância entre eixos e a geometria do quadro em V, dão-nos uma posição de condução confortável e equilibrada, mas o facto do espigão ser curto impede que alguém com mais de 1,75m pedale numa boa posição. Apesar do banco ser um “sofá”, as pernas dobradas irão cansar-nos após alguns minutos a pedalar. O que também acompanha esta dimensão pequena/média são os punhos. Por um lado faz com as mãos fiquem perto dos comandos e das mudanças, mas por outro, se tivermos mãos grandes ficamos com pouco espaço para os dedos todos. O descanso central duplo, tem uma mola que o recolhe para junto do quadro tornando-o quase impercetível e que uma vez no chão é de uma estabilidade a toda a prova. Um descanso.

O motor colocado à frente não é uma inovação da marca mas está muito bem aplicado, pequeno e leve, permite que a bicicleta tenha tração às duas rodas. Um manifesto benefício. Os travões são de disco, acionados através de um sistema hidráulico proporcionando uma travagem suave e muito eficiente. Um luxo muito bem vindo.
Em suma, se procura uma bicicleta para pedalar ocasionalmente, sem muito esforço, fiável, leve, fora do comum, que o afaste das filas de trânsito e de fácil arrumação, esta é uma boa escolha. Porque a Gocycle pode não ser ainda “a melhor bicicleta elétrica do mundo” como o seu site anuncia mas para lá caminha.

Mais: inovação, peso
Menos: autonomia

A Gocycle é vendida em Portugal pela Gogreen (www.gogreenportugal.pt) e está disponível em 3 versões:
Base Pack
Inclui os acessórios, descanso lateral, pedais dobráveis, campainha, refletores frontal e traseiro, fixação do telemóvel no guiador, descanso central e cadeado de segurança. Preço: 2799 euros
Commuter Pack
Inclui os acessórios, descanso lateral, pedais dobráveis, descanso central, campainha, refletores frontal e traseiro, fixação do telemóvel no guiador, guarda lamas e sistema de iluminação LED.
Preço: 2999 euros
Portable Pack
Inclui os acessórios, descanso lateral, pedais dobráveis, campainha, refletores frontal e traseiro, fixação do telemóvel no guiador e saco de transporte sistema “docking station”.
Preço: 3100 euros

Por Miguel Vieira

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