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Volvo repensa o automóvel de luxo e acaba com estofos em pele a pensar no ambiente

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Graças à emergência climática, o luxo já não é o que era. O ‘design consciente’ é o novo paradigma. A marca sueca compromete-se a usar um quarto de materiais biológicos e recicláveis, já a partir de 2025, e inova ao banir o couro.

Muitos anos passaram sobre as impactantes manifestações de mulheres nuas nas maiores capitais da moda contra o abate de animais para decoração humana. Mas foi preciso o grito bem audível das alterações climáticas, um pouco por todo o mundo, para que a indústria começasse a desistir de associar luxo a produtos de origem animal relacionados com poluição. No setor automóvel, a Volvo mudou o chip e acaba de dar o exemplo ao anunciar na última semana que vai abandonar o uso do couro em todos os seus veículos novos 100% elétricos.

O novo paradigma da construtora sueca sob o lema do “design consciente” estreia-se aliás precisamente nos seus modelos premium, como no novíssimo Volvo C40 Recharge, que está disponível no mercado português há cerca de um mês.

Em vez dos assentos, revestimentos e volantes em pele, os designers da Volvo Cars investiram em têxteis, à base de linho e poliester reciclado, em produtos da indústria florestal sueca e filandesa e também na cortiça. Quem experimentar o novo C40 ficará surprendido ao saber que ali estão presentes materiais reciclados tão diversos como garrafas de plástico, usadas em têxteis, ou rolhas de garrafas de vinho.

“O novo design consiste mum mistura de texturas, que é ao mesmo tempo leve, luminoso, flexível e forte”, revelou há dias a designer Cecilia Stark, numa entrevista em exclusivo nacional para o Global Media Group.

A marca, que traçou objetivos ambiciosos em matéria de eletrificação (só produzirá elétricos a partir de 2030), reciclagem e redução de materiais de origem fóssil no fabrico dos automóveis (25% dos materiais terão base biológica ou reciclada até 2025), está ciente de que se trata de uma revolução. Para a indústria, mas também para os consumidores.

E como vão reagir os consumidores, desde sempre habituados a associar o toque macio do couro a qualidade, luxo e conforto?

A questão foi muito ponderada, mas não parece preocupar demasiado a marca comprometida com a Agenda do Clima. E isso porque a sociedade, à boleia do desafio climático, está também ela a repensar os seus valores e a resignificar o que entende por ‘trendy’ e por luxo. “Podemos afirmar categoricamente que a urgência climática veio redefinir o que entendemos por luxo”, considera o diretor global para a sustentabilidade da Volvo Cars.

83% dos suecos preocupados com bem-estar animal

A isso mesmo aludiu Stuart Templar, ao citar os estudos que indicam que na Suécia um valor significativamente alto da população (83%) manifesta preocupação com o bem-estar aninal, sendo que a percentagem no Reino Unido não anda muito longe. E que as pessoas que estão empenhadas na sustentabilidade se aproximam dos 70% em países como a Suécia e a Holanda.

Ora, os produtos de pele estão associados à indústria agro-pecuária, uma das maiores responsáveis pela emissão de gases com efeito de estufa.

A esse propósito, Stuart Templar citou um estudo segundo o qual um quilo de carne de vaca produz 60 kg de gases com efeito de estufa. Outras investigações referem que um quilo de bife emite tanto co2 como andar 150 km de carro.

São estes alguns dos argumentos de peso que a Volvo esgrime na altura de defender o seu novo conceito disruptivo a caminho de uma mobilidade mais limpa e circular não só no tipo de combustível usado, mas no maior número possível de componentes usados no processo de fabrico.

A substituição do couro por tecidos e cortiça, sejam naturais como o linho, ou sintéticos é um processo que ainda está em curso, em articulação com a indústria têxtil, e onde as possibilidades de inovação ainda são amplas. A Volvo anunciou também por estes dias que vai trabalhar apenas com empresas têxteis certificadas, que cumpram regras ambientais.

Os responsáveis da Volvo não foram categóricos a explicar se este abandono do couro vai traduzir-se também em menores custos de produção para a construtora. “Numa primeira fase, quando ainda estamos num processo pioneiro de criação de novos materiais, os custos até podem variar, mas depois de ser criado um mercado, também pela adesão do restante setor, os preços tenderão a estabilizar”, acredita Stuart Templar em resposta ao Global Media Group.

As estimativas parecem apoiar esse cenário, pois antevê-se que a procura global por novas fibras têxteis seja 150% maior em 2050.

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Texto: Carla Aguiar