A atração crescente verificada nos últimos anos no mercado das motos para os modelos trail de grande cilindrada, leva-nos a questionar o que a terá provocado. A vontade dos consumidores em ter a moto com a maior cilindrada possível ou a necessidade dos fabricantes de forçar essa tendência? Não temos a certeza, mas, talvez por um fenómeno de imitação, a verdade é que existem muitas motos “big trail”, entre os 1 000 cc e os 1 300 cc a circular por essas estradas fora.

Só que os problemas surgem quando muitos dos donos dessas trails grandes e pesadas, querem levá-las para fora de estrada na busca da última aventura prometida nas campanhas publicitárias. As marcas recorrem a pilotos profissionais para demonstrar o potencial das motos numa utilização fora de estrada, quase sempre a fazerem manobras que o comum dos condutores não consegue fazer – sobretudo por causa da dimensão e do peso.

Honda CRF 450 L tem um peso que nos faz lembrar as trail citadinas 125 dos anos 90 do século XX

É aqui que entra a Honda CRF 450 L com um peso que nos faz lembrar as trail citadinas 125 dos anos 90 do século XX. A base provém da versão R, mas, neste caso, teve de ser domesticada para uma utilização “dual-sport”. Para poder andar na estrada foi preciso dotá-la de luzes LED, instrumentação digital que conta com odómetro, trip e indicador de autonomia com luz de reserva.

O motor, admissão e escape também foram revistos para cumprirem as normas Euro4. O arranque elétrico nem sempre dá vida ao monocilíndrico logo à primeira, principalmente a frio, para isso há um manípulo para abrir o ar, tal como acontecia nos modelos com carburador.

Uma vez a trabalhar há quem possa ficar desapontado com a sonoridade do motor, bastante suavizada pela ponteira de escape, no entanto, o seu relativo silêncio será algo que podemos agradecer, tanto no dia-a-dia, como em tiradas mais longas de fora de estrada.

A experiência com a 450 L vai ser sempre a “solo”, não é possível dar boleia a ninguém, pois não há lugar para pendura. A silhueta esguia e o banco estreito querem convencer-nos que estamos numa supermoto quando circulamos na estrada, não fossem os pneus de tacos a lembrar-nos qual é o habitat natural desta “dual-sport”.

Por muito aceitável que seja o seu desempenho em estrada é no mato que a CRF 450 L se sente em casa

Por muito aceitável que seja o seu desempenho em estrada (chegamos aos 120 km/h em sexta velocidade sem problemas) é no mato que a CRF 450 L se sente em casa. A diversão vem depois de algum tempo de habituação à embraiagem que tem um acionamento muito curto – deixámos a moto ir a baixo algumas vezes até encontrarmos o ponto certo.

Existem muitos locais onde é possível ter formação para usufruir das motos “dual-sport” fora de estrada, e até já temos algumas noções, mas como experiência e conhecimento não ocupam lugar, fomos ter com o Kyrylo Lyutov, que dá formação “off-road” e tem o projeto The Iron Butt Rider, um canal no YouTube para fazer o registo da viagem de moto à volta do mundo que pretende fazer com o pai. Mais português do que russo, Kyrylo veio com oito anos para Portugal e sempre gostou de andar de moto, mas também de as desmontar sempre que é preciso arranjá-las. Toda a experiência adquirida já deu jeito nas viagens de moto que fez por Marrocos, Espanha e Itália. Chegados a Torre Vedras, dirigimo-nos ao “polígono”: o terreno com obstáculos com diversos graus de dificuldade, onde Kyrylo dá a formação. Devidamente equipados, é altura de ouvir atentamente as noções básicas de postura em cima de uma moto de todo-o-terreno, tentando, pelo meio, esquecer velhos hábitos e memorizar os novos.

a CRF 450 L ajuda e muito a “brincar” fora de estrada, sem que corra mal

Nunca é fácil pôr em prática conhecimentos recém-adquiridos logo de imediato, mas a verdade é que a CRF 450 L ajuda e muito a “brincar” fora de estrada, sem que corra mal. O peso, ou neste caso a falta dele comparado com uma “big-trail”, faz mesmo muita diferença. Já o tínhamos sentido no “track” que fizemos até Torres Vedras, que por comparação com a nossa “big-trail”, a 450 L foi transpondo os obstáculos com uma facilidade desconcertante, a uma velocidade muito superior.

Por muito tentador que seja imitar o que vemos nos vídeos das campanhas publicitárias, a maioria de nós não tem a experiência, nem o conhecimento necessário para o fazer em segurança

De volta à formação reconhecemos que é fundamental para tirarmos partido de todas as motos “dual-sport”, seja qual for a cilindrada. Por muito tentador que seja imitar o que vemos nos vídeos das campanhas publicitárias, a maioria de nós não tem a experiência, nem o conhecimento necessário para o fazer em segurança.

Preço: a partir de 9.850€

Ficha técnica
Motor: Monocilíndrico, 449 cm³, Unicam, 4 tempos, refrigeração por líquido
Suspensão frente: Forquilha dianteira Showa de 49 mm,
Suspensão trás: Mono-amortecedor Showa, com sistema Honda Pro-Link
Pneu dianteiro: 80/100-21
Pneu traseiro: 120/80-18
Depósito de combustível: 7,6 litros
Altura do banco: 940 mm
Peso em ordem de marcha: 130,8 kg