Quem segue a maior maratona de Todo-o-Terreno do mundo de perto, o Dakar, tem o desenho de um dia poder chegar à sua garagem e estar lá à sua espera uma moto de rally. Até agora, poucas marcas, como a KTM, por exemplo, disponibilizava uma versão exclusiva rally, que nos remetia para o universo Dakar, mas cujos cerca de 35 000€ a tornavam proibitiva. Havia formas de contornar a questão, adaptando as tradicionais motos de enduro, com a aplicação de torres e outros acessórios, para que estas nos remetessem para o espírito rally raid. Mas de raiz, e com base no Dakar, pouco mais opções havia. Até que uma ousada e desconhecida para muitos de nós, europeus, “chocou” o mundo com a apresentação da sua 450 Rally e passados poucos dias dessa apresentação no Salão de Milão, estavam a competir no Dakar, com uma equipa composta, integralmente por pilotos chineses. E espantem-se os mais cépticos, foram a única equipa oficial, nas motos, a terminar com todos os pilotos em prova! Se desconfianças haviam, caíram por terra e serviu ainda mais para aguçar a curiosidade a nível planetário sobre este modelo. Um par de anos depois, eis que nos encontramos em Espanha, em Les Comes a testar a Rally do momento, que chega ao nosso mercado com um preço absolutamente arrasador de 10 000€! Se não têm acompanhado a história do fabricante chinês Kove Moto (pronuncia-se koh-vey) e a rápida ascensão do seu CEO à ribalta, explicamos tudo!
Breve introdução
Com apenas 5 anos de atividade, a Kove Moto, com o seu carismático CEO Zhang Xue, antigo piloto semi-profissional de MX, já alcançou alguns marcos notáveis como empresa e com o seu programa de corridas – que inclui a competição no Campeonato Mundial de Supersport 300 da FIM. Mas os objectivos não param de aumentar e a Kove decidiu colocar a fasquia mais alta e participar no rally Dakar. Este ano alinhou com seis motos e ainda surpreendeu com a participação do piloto Mason Kleim (ex. piloto KTM) que ajudou a projectar ainda mais esta jovem marca, alcançando posições de destaque chegando mesmo a atingir, num dos dias de prova, um brilhante quinto lugar. Atendendo à juventude da marca, é um facto assinalável e demonstra bem a vontade da marca em chegar mais alto, dentro do todo o terreno internacional.
Olhando para o design da Kove 450 Rally, notamos claramente que a inspiração foi a KTM 450 Rally Replica. O quadro, duplo berço em tubos de aço, com um peso anunciado de 9.8 kg foi projectado de raiz para este modelo em específico. À sua volta temos três depósitos de combustível (dois à frente e um atrás), que dotam esta Rally com uma capacidade total para 28 litros de combustível, deixando antever uma enorme autonomia. O assento é plano e estende-se sobre os dois depósitos dianteiros. A distância entre eixos mantém os padrões do que é comum encontrarmos nestes modelos, com 137 0mm. Não é uma moto baixa, como indicam os 910 mm com assento baixo e 960 mm com assento alto, mas quem está habituado ao off road, sabe que acaba por ser uma mais valia. O critério da qualidade não foi deixado de parte e no capítulo das suspensões temos um conjunto que demorou três anos a ser desenvolvido pela maior fábrica de suspensões da China a Yu An Absorver. Na frente temos instalada uma forquilha invertida de 49 mm, totalmente ajustável, sendo o amortecedor traseiro do mesmo fabricante e também totalmente ajustável. Como boa moto de rally que é, conta com jante de 21” na frente e 18” atrás, com câmaras de ar. De série a Kove 450 Rally inclui um ecrã TFT 5” a cores (na versão Pro temos instalada uma torre de navegação em carbono) e ABS que se pode desligar totalmente, apenas na roda da frente ou apenas na roda de trás. O peso total do conjunto anunciado é de 155 kg com 90% do combustível, o que é bastante aceitável.
Outra caraterística de destaque na 450R Rally é a carenagem que está fixa com apenas seis parafusos de desaperto rápido, para facilitar a desmontagem, além de que dá aquele aspecto exclusivo de competição. Também temos acesso rápido ao filtro de ar e à bateria, colocados por baixo do assento. Por baixo do motor, na frente da placa de proteção em Carbono encontramos o kit de ferramentas. Esta placa de proteção em fibra de carbono é robusta e larga na base e nos lados, conferindo uma sempre útil proteção contra os elementos. O modelo que testámos, estava equipado com pneus de perfil misto fabricados pela CST. A forquilha e o amortecedor foram configurados para um condutor de 65 /75 kg, na gama média das definições de compressão e recuperação.
No que diz respeito aos comandos, o conjunto do acelerador, travões, manetes e pedal de mudança de velocidades, todos são de qualidade acompanhando assim a qualidade geral dos restantes acabamentos. Os apoios para os pés são volumosos e garantem boa estabilidade da bota em qualquer situação. O descanso lateral da Kove é simples com um design robusto e uma base grande, especialmente quando comparado com os apoios frágeis e demasiado articulados encontrados nas motos de enduro europeias.
O motor monocilíndrico Twin-Cam de 449 cc refrigerado a água da Kove 450R Rally debita 41,5 cv (31 kW) de potência – um pouco menos quando comparamos com a versão Pro (esta mais vocacionada para a competição e que debita uma potência de 53,6 cv (40 kW). O nosso primeiro contacto com a Kove 450 Rally, teve lugar perto de Barcelona, no centro de testes de Pepe Villa (antigo piloto auto do Dakar), local perfeito para testarmos todas as valências da versão base da Rally, a 450R Rally standard, versão que será a que vai ser comercializada em Portugal, uma vez que a versão Rally Pro não terá homologação para Portugal. No entanto, todos os extras que a Rally Pro traz instalados podem ser adquiridos como opcionais pelo que, facilmente, podemos tornar a versão base numa Rally Pro.
O perfil superior da Kove, tem a forma de ampulheta, estreita no centro e alargada à frente e atrás, pelos depósitos de combustível. O assento plano é comprido e relativamente estreito em ambas as extremidades, permitindo-nos sentar mais à frente, quando é necessário colocar aqui todo o nosso peso. Por outro lado, a forma plana e consistente do assento proporciona o espaço necessário para recuar totalmente, para uma condução mais descontraída ou para nos esticarmos por completo quando necessitamos de travar forte.
De pé, posição onde passámos a maior parte do tempo com a Kove, o perfil de ampulheta do conjunto, mostra-se o ideal para uma maior variedade de posições de inclinação para a frente das ancas, bem como para a centralização dos joelhos. Tendo em conta os dois depósitos de combustível frontais, isto é único quando comparamos com o efeito de abertura dos joelhos dos típicos depósitos de maior capacidade. O guiador está apoiado nos triângulos de suspensão em dois “sinoblocos” que garantem alguma absorção de vibrações. Tudo o resto na visão do piloto no cockpit é semelhante a uma moto de enduro de 450/500 cc, exceto a ausência notória das proteções de mãos. No que diz respeito à potência de travagem, os travões fizeram com que a Kove reduzisse facilmente a velocidade sem apresentar fadiga mesmo depois de bem solicitados ao longo do exigente traçado que nos esperava. Notámos os efeitos positivos da manobrabilidade do “centro de gravidade” mais baixo, que distribui o peso do combustível na parte inferior e central da moto. Em todos os ambientes de condução, foi fácil de manobrar e previsível, sem grandes surpresas e com bom feedback para o condutor. As suspensões totalmente ajustáveis requerem sempre um trabalho extra de ajuste, mas superaram as expectativas. No primeiro arranque, o motor de um cilindro com duas árvores de cames à cabeça Zongshen de 449 cc soa exatamente como os rivais japoneses e austríaco e se estivéssemos de olhos fechados, não conseguiríamos descobrir de qual moto se trata, nas primeiras rotações do acelerador. Em termos de prestações, o que mais se destacou nesta versão base, foi a pouca vivacidade do motor a baixos e médios regimes. Nas rotações mais altas já notamos maior alegria e mais “alma” neste monocilíndrico… a culpa é das restrições Euro5+… Mas há sempre uma solução, que neste caso, pode passar pela aquisição dos extras que permitem incrementar as prestações do bloco, como uma linha de escape diferente ou uma centralina diferente. O valor para estes dois componentes ronda os 1000€, mas é um investimento que vale a pena, pois ganhamos uma moto nova!
Como pontos fortes temos uma plataforma testada e aprimorada em ambientes extremos como no Dakar; acabamentos de alta qualidade; facilidade da desmontagem da carenagem; placa de proteção do cárter em fibra de carbono; grande capacidade de combustível para aventuras de longas distâncias e garantia de três anos, como é comum.
A nova Kove 450 Rally já se encontra em comercialização em Portugal, nas cores azul e vermelho.
POR: Fernando Pereira
FOTOS: Kove Ibérica
FICHA TÉCNICA
KOVE 450 RALLY
- Motor: Monocilindro, refrigerado por líquido
- Distribuição: DOHC, 4 válvulas por cilindro
- Cilindrada: 449 cc
- Potência máx.: 41,5 cv (53,6 cv versão Pro) às 9 500 rpm
- Binário máx. : 40 Nm às 7000 rpm
- Limitável a A2: –
- Velocidade máx. –
- Embraiagem: Multi-disco em banho de óleo
- Caixa: 6 velocidades
- Final: Por corrente
- Quadro: Duplo berço em tubos de alumínio
- Suspensão Dianteira: Forquilha invertida Yu An 49 mm, totalmente ajustável
- Suspensão Traseira: Amortecedor Yu An, totalmente ajustável
- Travão Dianteiro: Disco, ABS desconectável
- Travão Traseiro: Disco, ABS desconectável
- Pneu Dianteiro: 90/90-21”
- Pneu Traseiro: 140/80-18”
- Altura do Assento: 910 mm (low seat) / 960 mm (high seat)
- Distância entre Eixos: 1475 mm
- Depósito : 28 litros
- Peso (a seco): 145 kg
- Cores: Vermelho ou azul
- Garantia: 3 anos
- Importador: Kove Portugal
- Preço: 10 000€