Yamaha Ténéré 700: O chamamento do deserto

04/04/2020

Yamaha Ténéré 700
As primeiras Yamaha Ténéré foram criadas na década de 80 do século XX com um objetivo muito claro: participar na recém-criada prova de rali Paris-Dakar e, se possível, ganhá-la. Conquistaram muitas provas, sobretudo, já nos anos 90 pelas mãos de um piloto em particular: o “Sr. Dakar”, Stéphane Peterhansel, hoje com 54 anos, que venceu a mítica prova por seis vezes. A par com o sucesso dos modelos de competição nas pistas africanas, também os modelos comerciais foram, igualmente, fazendo furor junto do público, com as vendas a refletirem o fenómeno.

 

Entretanto, entre os anos 2000 e 2010, o segmento trail foi subindo de cilindrada, afastando-se da média dos 700 cc. Remodelada em 2008, a XTZ 660Z Ténéré continuava a fazer parte do catálogo de vendas da Yamaha, mas nessa altura a preferência recaía, sobretudo, na “irmã” Super Ténéré 1200, sendo aliás uma tendência generalizada que se verificou até ao lançamento da nova e muito antecipada Ténéré 700. Anunciada em 2017 com uma campanha mediática, em que se viam pilotos profissionais a pilotá-la nos quatro continentes (sendo um deles o próprio Stéphane Peterhansel), foi gradualmente aguçando o apetite do público, que teve de esperar até meados do ano passado para receber as primeiras unidades encomendadas online.

Contrariando a tendência até então, a Yamaha teve a “ousadia” de relançar uma moto no segmento trail/aventura de média cilindrada, completamente nova, à exceção do pequeno bicilindrico paralelo com 698 cc, que já era partilhado com outros modelos da marca. Felizmente o atrevimento não ficou por aí e a T7 diferencia-se da concorrência por vários motivos: a simplicidade de funcionamento (tem muito pouca eletrónica) e um design arrebatador, muito influenciado pela estética das motos de rali atuais – aliás, acaba de ganhar um prémio Red Dot Award 2020 na categoria de design de produto. Nada disto seria relevante se o seu comportamento dinâmico não estivesse à altura das expetativas. Então e como é andar nela? Já lá vamos. Não tivemos oportunidade de a testar no deserto (com muita pena nossa), no entanto, andámos com a T7 onde muitos dos seus potenciais compradores a vão utilizar: diariamente, em trajeto urbano e em algumas incursões em fora-de-estrada, essencialmente, ao fim de semana – numa proporção que andará à volta dos 80%-20%.

Yamaha Ténéré 700

Ao colocar a Ténéré 700 a trabalhar temos uma boa surpresa: o escape de origem produz um agradável som grave, com personalidade, apesar de cumprir as exigentes normas Euro4, no que à poluição sonora e atmosférica dizem respeito. Todos os receios se desfazem assim que andamos os primeiros metros na T7. Rapidamente ganhamos confiança e facilmente ficamos desconcertados com a desenvoltura que uma moto com um centro de gravidade relativamente elevado, rodas de 18” atrás e 21” à frente, se comporta em estrada – não é suposto uma moto com estas características ter tanta estabilidade e curvar tão bem no alcatrão.

Yamaha Ténéré 700

A posição de condução é boa, apesar de ser alta, com uma boa proteção aerodinâmica e livre de turbulências. Mesmo em ritmos de andamento rápidos, o seu comportamento é muito previsível e é possível perceber, perfeitamente, toda a informação transmitida pelas rodas, graças à firmeza das suspensões e um chassis muito equilibrado, aqui travar não é um problema, com os Brembo a responderem a solicitações prolongadas sem revelarem fadiga.
Yamaha Ténéré 700

Por muito bom que seja o seu desempenho em estrada, nesta moto importa saber como se porta fora dela. Paradoxal é a palavra que nos ocorre, pois em 2020 a Ténéré 700 representa um regresso à origem das motos trail dos anos 1980/90. Não tem um ecrã TFT colorido, acelerador eletrónico, controlo de tração, nem mapas de motor, o ABS desliga nas duas rodas para off-road e até a potência se fica nuns modestos 73 cv. No entanto, vamos com ela para fora de estrada e, em pouco menos de uma hora, já pensamos que podemos participar no próximo Dakar, tal é a facilidade com que progredimos nos estradões e trilhos.

Yamaha Ténéré 700

A posição de condução é encontrada naturalmente e revela-se excelente, tanto em pé, como sentado para alguém com 1,70 m de altura. O ritmo de andamento, rápido ou de mera contemplação da paisagem, é facilmente definido por nós, com a entrega de potência sempre muito suave e fácil de dosear, através do acelerador que ainda é de cabo. Tudo acontece sem sustos nem surpresas, mas na eminência de algum percalço basta um esforço mínimo da nossa parte para controlar a situação: slides de traseira, subidas e descidas íngremes e até alguns saltos são feitos naturalmente e sem dificuldade, o que nos leva a pensar, “esta moto faz tudo sozinha…”. Na verdade, fora de estrada é muito fácil perdermos a noção da velocidade, mas podemos travar com confiança pois os travões Brembo têm um ótimo tato e são muito progressivos.

A suspensão e o amortecedor reguláveis fazem um ótimo trabalho e nem parece que estamos a rolar com uma moto que, juntamente, com o condutor passa dos 200 quilos. Só o notamos quando tentamos fazer com ela aquilo para o qual não foi feita: trilhos apertados e curvas em gancho lentas. Nestas condições notamos que a Ténéré 700 acusa o peso que realmente tem. A escolha dos pneus Pirelli Scorpion Rally STR, com os seus tacos largos e borracha macia, revelaram-se um compromisso acertado, sobretudo em estrada, onde têm um comportamento irrepreensível mesmo à chuva; já em todo-o-terreno funcionam bem, desde que não haja lama e areia solta. É aqui que entram os Michelin Anakee Wild, que a Yamaha recomenda oficialmente para quem queira fazer fora de estrada mais a sério, e de facto estes pneus conseguem dar a dose extra de confiança, precisamente, nessas situações. O chamamento do deserto fica assim mais intenso e é bom saber que temos a companhia certa para fazer a viagem.

Veja Stéphane Peterhansel a testar a Ténéré 700 nas pistas do Dakar, no vídeo em baixo.

Preço: a partir de 9.850 euros

Ficha técnica

Tipo de motor: 2 cilindros, 4 tempos, refrigeração líquida, DOHC, 4 válvulas

Cilindrada: 689 cm³

Potência máxima: 55.0kW (74.8CV) @ 9,000 rpm

Sistema de suspensão dianteira: Forquilha telescópica invertida, Curso dianteiro 210 mm

Sistema de suspensão traseira: Braço oscilante, Tipo Link, Curso traseiro 200 mm

ABS: desligável em modo off-road

Travão dianteiro: Disco duplo hidráulico, Ø282 mm

Travão traseiro: Monodisco hidráulico, Ø245 mm

Pneu dianteiro: 90/90 R 21

Pneu traseiro: 150/70 R 18

Altura do assento: 875 mm

Peso: (incluindo óleo e gasolina) 204 kg

Capacidade depósito combustível: 16L