Nunca a Mercedes-Benz inverteu, desta forma, a ordem natural do tempo na sua mais do centenária história. Aconteceu no II Passeio de Clássicos Soc. Com. C. Santos, que conseguiu a proeza de colocar 40 modelos clássicos da marca a seguir uma “estrela elétrica” pelas estradas secundárias do Porto.
Ao volante da “estrela elétrica”, um Mercedes EQE 50+ (disponibilizado pela Soc. Com. C. Santos), seguia o Motor 24, juntamente com Luís Lousada, um dos organizadores do evento, de roadbook na mão, outro “clássico eterno” deste tipo de iniciativas.
O passeio arrancou na manhã do passado sábado (23 de setembro). O grupo reuniu-se nas instalações do concessionário na Maia, junto ao aeroporto do Porto, e, depois do briefing inicial no novo showroom, a cargo de Ana Bolina, diretora de Marketing e de Aquiles Pinto, Relações Públicas (e da tradicional fotografia de grupo), era altura de colocar a “história em movimento”, expressão com todo o sentido, da organização.
Passado e presente
O percurso passou por várias estradas municipais da Área Metropolitana do Porto e da região do Tâmega e Sousa com destino ao Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins. Uma oportunidade única para ver o espólio das escavações do povoado fortificado dos séculos V a.C. e o IV d.C.
Das 39 viaturas presentes havia históricos dignos de registo, como um SL de 1957 ou, entre outros, um 230 E (C123) de 1981. Mas, entre estes, havia um que se destacava entre todos: um Mercedes-Benz 170 (W138) de 1938. Bruno Soares, que, trajado com um colete a recordar outras épocas, muito a propósito, conduziu o automóvel.
A caravana oscilou sempre entre o devagar e o devagarinho, obrigando a muita contenção no pedal do EQE 350+, sempre com muita potência logo disponível à menor solicitação do pé direito. Até porque, de início, imediatamente atrás do Check-up, seguia o referido 170. E a um veterano de 85 anos não se podem altas velocidades.
Ao fim de alguns quilómetros, a ordem da fila seria alterada, para ganhar algum tempo ao tempo – mas nunca passando dos 40 ou 50 km/h para não “ferir” ninguém – mas, ainda assim, a calma nunca será garantia de perfeição e, a dada altura, numa curva à esquerda mais apertada, o “desmembramento” da caravana acontece. Ainda que tenhamos parado, de imediato, para esperar pelas quatro dezenas de clássicos, o facto é que seguiriam todos em frente. Esta era a imagem que se via pelo retrovisor do EQE 350+ – um longo cortejo de antiguidades a seguir rumo ao desconhecido, ignorando o roadbook a bordo.
Apaixonados pela Mercedes-Benz
Todos os participantes no evento são apaixonados pela marca há muito tempo. Mas ninguém foi ao extremo de Jorge Pinho que… nasceu a bordo de um Mercedes-Benz.
“Sou fanático pela Mercedes. Para que se saiba, nasci dentro de um Mercedes. Num Rabo de Peixe, em África, a parteira, tirou-me de dentro da minha falecida mãe dentro de um Mercedes, não cheguei à maternidade. Portanto, fiquei com o cheiro dos Mercedes. Tenho um stand que, por norma, tem em montra dezenas de Mercedes. Na minha zona, São João da Madeira e Vale de Cambra, sou conhecido como o homem dos Mercedes. Sou cliente da Soc. Com. C. Santos há muitos anos. O meu falecido pai também era cliente, porque teve uma empresa de táxis, e dizia que só havia duas marcas de carros: Mercedes novos e Mercedes velhos”, recorda Jorge Pinho, que conduziu um W123 versão longa (tipo limousine), construído em 1982 e está nas mãos do atual proprietário há quase 30 anos. A primeira utilização foi de Estado. “O W123 longo comprei-o ao Parlamento Europeu, tinha o carro na altura 50 mil km e poucos anos. Hoje [com 41 anos] tem 90 mil km. O carro está novo. O ilustre Mário Soares andou neste carro”.
Criar uma tradição
A reta final do passeio não foi isenta de peripécias. Que o diga Bruno Soares, que, a dada altura, numa subida mais íngreme, constatou que só conseguia meter a primeira mudança. As outras recusavam-se a trabalhar mais. Um susto que não impediu o Mercedes-Benz 170 (W138) de 1938 de terminar o percurso e de pousar, em grande estilo ao lado do EQE 350+, na entrada da unidade hoteleira vinícola, para um almoço com todos os participantes. Um momento que contou ainda com a atuação do humorista Nilton, embaixador da Soc. Com. C. Santos, que num palco improvisado, e dada o tema de fundo, levou todos às gargalhadas com alguns dos seus “clássicos humorísticos”.
No rescaldo do passeio, a organização estava feliz com o resultado. “O sucesso da primeira edição elevou as expectativas dos inscritos para esta segunda edição, da qual fazemos um balanço positivo, a julgar pelo feedback que obtivemos no fim do evento. É para nós um privilégio receber tantos automóveis clássicos Mercedes-Benz e tanto apaixonados, de várias idades, entre os quais senhoras. Podermos dar um contributo para que a história automóvel seja preservada é para nós muito interessante”, sise o Relações Públicas da empresa, Aquiles Pinto.
Segundo o mesmo responsável, este evento deverá tornar-se uma “tradição”. E explicou porquê. “Aprendemos com os erros do ano passado. Há sempre muito a melhorar, mas a ideia é fazer algo que seja repetível. Não tanto pela área de negócio ser importante para a empresa. Em termos comerciais, o automóvel clássico não é importante, nem em matéria de assistência e pós-venda”, explicou. “No entanto, qualquer concessionário – e o nosso foi fundado em 1946 – tem também uma responsabilidade de projeção da imagem da marca. As marcas são o presente e o futuro, mas não podem esquecer o passado. E se há uma marca que se pode orgulhar do passado (além da Soc. Com. C. Santos) é a Mercedes-Benz. Temos um papel a cumprir com o seu legado”, sublinhou Aquiles Pinto ao Motor 24.
O balanço do passeio só podia ser positivo. “As pessoas estão satisfeitas. Claro que, com veículos antigos e roadbooks há sempre quem se perca. E existe sempre alguma preocupação – apesar do apoio 24h da Mercedes-Benz – de que haja algum problema pelo caminho. Mas chegaram todos ao fim. Mesmo o 170 de 1938 – de antes da Segunda Grande Guerra Mundial”, recordou o responsável da empresa, que não tem dúvidas de que haverá uma próxima edição. “O objetivo é esse. Criar uma tradição, Juntar apaixonados pela marca e por veículos antigos. Queremos muito estar na eletrificação – e estamos –, nas viaturas desportivas – e também estamos – , mas não podemos esquecer o nosso passado”, rematou.