A integração das tecnologias de mapas em alta definição é cada vez mais importante para incrementar a segurança na indústria automóvel, com a TomTom a assumir-se como uma das companhias de proa neste âmbito. Os seus mapas e serviços estão hoje em mais de três milhões de veículos em todo mundo, num número que deverá crescer exponencialmente ao longo dos próximos anos.

Conhecida inicialmente pelos seus dispositivos portáteis de navegação por GPS – segmento que ainda hoje tem resultados que surpreendem a companhia –, a TomTom tem vindo a orientar a sua área de negócios para uma vertente mais industrializada de fornecedora de tecnologias de mapas de última geração, a par de informações em tempo real do estado do trânsito e das condições da estrada. Ou seja, uma área de negócios de tipologia B2B (business to business), fornecendo ainda sistemas de localização para parceiros como a Uber ou a Microsoft usarem nos seus próprios serviços.

Num seminário digital exclusivo no qual o Motor24 participou, a TomTom revelou como está a orientar os seus esforços para uma nova fase da indústria automóvel, sendo parceira na procura de uma maior segurança graças à disseminação de sistemas e assistentes tecnológicos a que se deu o acrónimo de ‘ADAS’, isto é, ‘Advanced Driver-Assistance Systems no original (sistemas avançados de assistência ao condutor em português). Neste sentido, torna-se fundamental o apoio de parceiros como a Bosch na área da parametrização do software dos veículos ou de construtores automóveis, como é o caso do Grupo PSA, que tem recorrido exclusivamente aos sistemas da TomTom desde 2016 (o mais recente será o Citroën C4).

Naturalmente, trata-se de área em franco crescimento, já que desde 2016 já foram vendidos quase 40 milhões de automóveis com sistemas ADAS. A tendência é que continue a crescer – em 2020, era apontado um valor de negócio do setor na ordem dos 84 milhões de euros, esperando-se um crescimento gradual até aos 875 milhões de euros estimados para 2030.

Isto explica-se com a quantidade de sistemas que começa a ser aplicado nos automóveis e que em 2021 conhece uma nova evolução na TomTom, ao ser lançada uma evolução em parceria com a Bosch. Face a isto, a TomTom clama ser, hoje, líder do mercado.

Porque importam os mapas?

A questão dos mapas nos automóveis serve múltiplos propósitos além dos meramente funcionais para guiar o condutor num caminho. Estes mapas de alta definição para os ADAS permitem controlar a velocidade, o posicionamento longitudinal do veículo, assumindo algumas responsabilidades do condutor, mas também permite antecipar o que se aproxima no caminho, pr exemplo, em termos de perigosidade do traçado. A companhia aponta dois benefícios claros, um em termos de segurança rodoviária e, outro, em termos de incremento de eficiência, valorizada na área dos transportes de mercadorias em veículos pesados (como é o exemplo da cooperação entre a TomTom e a Daimler para o desenvolvimento do sistema ‘Predictive Powertrain Control’ utilizado na divisão Mercedes-Benz Trucks).

A qualidade dos mapas pode chegar ao detalhe de apresentar o gradiente das estradas, os limites de velocidade, o raio das curvas ou o número de vias em cada estrada, podendo até fornecer sugestões em casos específicos, como numa saída de autoestrada.

Segurança como objetivo

A segurança rodoviária é uma área prioritária a nível global, com as Nações Unidas a terem um grande papel na missão para baixar o numero de mortes na estrada. Em 2020, iniciou-se uma ação chamada ‘Década de Ação’, que pretende reduzir para metade o número de mortes nas estradas até 2030. Segundo dados das ONU, há anualmente 1.3 milhões de mortes a nível global, com 20 a 50 milhões de feridos graves globalmente. Mas, também há diferenças importantes entre continentes – na Ásia e no Pacífico o cenário é mais preocupante, enquanto na Europa, que é o continente mais regulado em termos de segurança rodoviária, o número de mortes nas estradas é o mais baixo a nível global.

É aqui que entra em ação o ISA, ou Assistente Inteligente de Velocidade, que alerta o condutor de que excedeu o limite de velocidade permitida para uma determinada estrada. O ISA pode servir de alerta ou de controlo automático, sendo que, neste momento, apenas atua a nível informativo. Aqui se percebe também a importância dos mapas em complemento aos sistemas de câmara que ‘leem’ os sinais de trânsito. O sistema de localização do veículo deve poder ter uma enorme precisão do local para assim saber o limite de velocidade naquela estrada, o que pode ser importante para aquilo a que os responsáveis da TomTom chamam de ‘modelo de confiança’: caso a câmara não consiga ler um sinal, o mapa deverá ‘saber’ qual a velocidade. Sem serem rivais, os dois sistemas atuam em consonância.

A TomTom explica que nalguns casos as câmaras não conseguem reconhecer todos os tipos de sinais, como, por exemplo, os sinais de entrada em localidade, com o mapa a servir de verificação dupla, tendo ainda a vantagem de não estarem ‘ameaçados’ por questões de visibilidade por causa do tempo ou do estado da sinalização.

O sistema ISA assume cada vez mais relevância na tabela de avaliações da Euro NCAP, entidade que avalia a segurança dos veículos novos colocados à venda na Europa, onde todos os carros novos terão de ter este sistema em 2022, enquanto em 2024 esse mesmo sistema será aplicado a todos os carros vendidos. Nos EUA e no Japão não existe qualquer regulação quanto à instituição do ISA, dependendo dos próprios construtores.

Nuvem fundamental

Numa visão conectada para que a segurança seja expansível a todos os veículos e aos seus utilizadores, as parcerias assumem cada vez maior preponderância, pelo que a TomTom e a Bosch encetaram uma cooperação para que os dados recolhidos nos mapas, como o tráfego em tempo real, desvios ou situações de perigo (obras, gelo, etc.) possam ser recolhidos e tratados pela nuvem. Existe aqui uma troca de dados, com a nuvem a receber dados e a emiti-los para os veículos, informando o condutor de perigos, auxiliando na gestão da energia dos seus veículos (no caso dos mapas preditivos), abrindo-se ainda caminho para a condução autónoma no futuro.

A colaboração entre a Bosch e a TomTom procurou trazer a experiência de cada um para a equação. Segundo Alexander Lawrence, diretor geral de software da Bosch, “a TomTom conhece as estradas com mapas em alta definição, ao mesmo tempo com informações em tempo real de tráfego ou de perigo. Aqui, a Bosch entra em ação. Os veículos apenas podem assumir uma pequena parte de dados, pelo que o seu sistema tem de desconstruir todos esses dados e dar prioridade aos que vai apresentar em primeiro lugar ao condutor para a sua segurança. Depois, do lado dos construtores, importa escolher como apresentar essa informação ao condutor”.

A interação entre segurança e eficiência fica exposta nos sistemas de informação proativa, ajudando a baixar consumos e emissões através da antecipação de perigos ou das características da via, sendo dado uma vez mais o exemplo do sistema de assistência concebido com a Daimler.

Por fim, no último ponto desta cadeia, os construtores assumem um papel importante, como explicou Vincent Descahmps, engenheiro do Grupo PSA, que destacou a importância do mapa para aumentar a segurança de condução. Dando o exemplo da falibilidade da câmara na leitura de todos os sinais de trânsito (por exemplo, numa ultrapassagem ou se esse estiver tapado por vegetação), a navegação permite recolher o dado da velocidade limite para cada local. Atualmente, a PSA tem uma função de informação de velocidade com base na câmara dianteira, mas caso passe muito tempo sem um novo sinal, o mesmo deixa de ser apresentado no painel de instrumentos, assumindo a marca o receio de que esteja descontextualizado. É precisamente essa circunstância que os mapas pretendem contornar.

Para o futuro, na condução grandemente automatizada, o veículo pode ter um sistema avançado de cruise control avançado com velocidade máxima por antecipação, mudança de via semiautomática ou antecipação de ações a tomar com base na via de circulação (exemplo, numa via de saída de autoestrada). Esta será a fórmula do Predictive-Adaptive Cruise Control, um gestor de condução e assistente de condução para dentro e fora da cidade, podendo intervir na velocidade máxima, na informação e adaptação da velocidade consoante a geometria das estrada, antecipando rotundas, curvas perigosas ou sinais de trânsito e semáforos. Tal permitirá desacelerar antecipadamente.

No futuro, poderá permitir à PSA oferecer condução autónoma premium de nível 2 nos seus automóveis.