Emissões de CO2 de Portugal caem 9,5% em 2020

18/04/2022

Emissões de CO2 de Portugal apresentaram uma redução de 9,5% em 2020, situando-se, pela primeira vez, abaixo dos valores de 1990.

A Associação Zero refere que, de acordo com os dados mais recentes, publicados esta semana pela Agência Portuguesa do Ambiente, no ano de 2020, as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE), causadoras do aquecimento global e consequentes alterações climáticas, sem se considerar as alterações de uso do solo e floresta, totalizaram 58 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), o que representa uma redução de 9,5% face ao ano anterior, uma redução de 32,9% face a 2005 e uma redução de 1,6% face a 1990 (o ano base do Protocolo de Quioto e do Acordo de Paris).

Já o valor total das emissões considerando a componente florestas totalizou 51 milhões de toneladas de CO2 equivalente (CO2e), o que traduz uma redução de 8,9% face a 2019, uma redução de 32,9% face a 2005 e uma diminuição de 15% face a 1990, sendo o valor mais baixo de emissões líquidas de Portugal desde aí.

Confinamento devido à pandemia deu ajuda

A Zero através do projeto UNIFY, apoiado pela Comissão Europeia, efetua um acompanhamento detalhado das emissões poluentes de Portugal com impacto no clima, referindo que a pandemia foi decisiva para Portugal em 2020 estar alinhado com a trajetória relativamente às emissões totais de gases com efeito de estufa para atingir as metas definidas no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030) e que estão em linha com a neutralidade climática a atingir em 2050.

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“Relativamente às emissões setoriais, em 2020, a evolução também é muito positiva registando-se valores sempre mais baixos que em 2019 com exceção da agricultura (mais 0,8%)”, conclui a Zero.

“O setor dos transportes, apesar de uma redução considerável entre 2019 e 2020 na ordem dos 16%, voltando a representar cerca de 25% do total das emissões em 2020, é o setor que mais contrasta em termos de evolução desde 1990 com a produção de eletricidade e calor. Enquanto as emissões do transporte rodoviário aumentaram 42% entre 1990 e 2020, as emissões da produção de eletricidade reduziram 43%”, elucidam os ecologistas.

A componente associada à energia como um todo contabiliza um total de 39 milhões de toneladas, abaixo de 1990 (-5,2%), de 2019 (-13,2%) e muito abaixo de 2017 (-25,6%), ano pautado pelos incêndios e a seca.

Florestas como sumidouro

“O setor das florestas tem apresentado uma grande variabilidade em Portugal. As florestas atuam habitualmente como sumidouro, retirando carbono da atmosfera como aconteceu em 2020, num valor de quase 7 milhões de toneladas de CO2e, por contraste com o ano de 2017, onde os incêndios conduziram a floresta a atuar de forma substancial como emissor líquido. Porém, estamos ainda longe do objetivo de sequestro de carbono entre 11 e 13 milhões de toneladas por ano a atingir num cenário de neutralidade climática”, refere a Zero.

“É evidente que esta enorme redução dos níveis de emissão foi um reflexo da significativa diminuição de atividade induzida pelas medidas de prevenção e emergência no âmbito da resposta nacional à pandemia COVID-19. No entanto, a tendência de redução desde 2017, incluindo a retirada de produção das centrais térmicas a carvão fortemente poluidoras que começou a ter lugar no ano de 2020 e os investimentos em renováveis podem assegurar uma tendência de redução ao longo dos próximos anos”, comentam os ambientalistas.

Para a Zero, as medidas no setor dos transportes e a necessidade de aumentarmos a eficiência dos edifícios vão ser absolutamente decisivas para Portugal conseguir antecipar a neutralidade climática e assegurar uma maior independência energética em linha com a resposta à crise pandémica e às consequências da guerra na Ucrânia.