Clientes dos segmentos de superluxo são cada vez menos adeptos dos programas especiais de personalização das marcas, que demoram muitos meses para satisfazer os pedidos mais requintados.
A pandemia da Covid-19 mudou o mundo e os hábitos de consumo. E não apenas na franja da população mais exposta ao fantasma de uma crise com consequências tão devastadoras como imprevisíveis. Também os muitos ricos estão a mudar o seu comportamento na hora de adquirir carro, preferindo comprar usado de luxo… em vez de esperar meses por automóvel novinho em folha.
De acordo com a plataforma online Edmunds, especializada no setor automóvel, no mês de junho os preços dos usados premium dispararam 30% comparativamente a igual período de 2020. Mais: no mercado de segunda mão, um carro tão exclusivo como o McLaren 765LT, produzido em edição limitada, já viu a sua cotação aumentar 40% face o preço de venda novo, culpa do aumento exponencial da procura. Os clientes não estão dispostos a esperar.
Segundo dados do Automotive News Europe, a lista de espera da Rolls-Royce arrasta-se pelos próximos seis meses – mesmo quando a companhia britânica já revelou que a crise dos semicondutores não afetou a produção em Goodwood. De tal forma que as infindáveis possibilidades de personalização que permitem configurar cada carro da marca de acordo com o gosto mais requintado parece não ter o valor de outros tempos, com cada vez mais clientes a optarem por veículos usados.
Gerry Spahn, chefe do departamento de comunicação da Rolls-Royce nos Estados Unidos da América, admitiu que cerca as vendas do programa especial Provenance, de usados certificados da marca, praticamente triplicou e representa já 75% do total do volume do construtor naquela região. Sendo que, ao comprarem modelos da Rolls-Royce em segunda mão, os clientes também estão a evitar a depreciação – um Wraith perde 20% do seu valor no momento que sai do concessionário e 40% nos primeiros cinco anos de vida.E esta não é uma realidade exclusiva da Rolls-Royce. Entre 2016 e 2021, os rivais da Bentley observaram um aumento de 53% nas vendas de usados, enquanto as vendas de carros aceleraram 34% no mesmo período.
Os programas de usados como o “Ferrari Approved” inclui a inspeção rigorosa que certifica os critérios elevadíssimos de qualidade de fábrica, garantia e assistência. E de acordo com os especialistas estes programas alternativos também beneficiam as marcas, na medida em que ampliam muito o seu raio de ação. Para fabricantes de luxo como a Bentley, os usados certificados são essenciais para a conquista de clientes mais jovens.