O Celica que foi para a universidade

16/04/2024

POR ANTÓNIO ALMEIDA

Existe sempre aquela conversa de café que vai parar aos automóveis. Todas as vezes que alguém afirma que gostaria de comprar um automóvel clássico e usá-lo frequentemente, ouve-se do outro lado da mesa: “Ah isso só dá para usar ao fim-de-semana, gasta muito, só avaria, não é uma boa ideia tê-lo como o único automóvel!” – a meu ver é uma opinião parcialmente errada e desinformada.

A maioria das pessoas esquece o facto que os automóveis clássicos já foram novos. Se naquela época eles eram adequados para usar todos os dias, qual é o problema em fazê-lo agora?

Sim, não são tão seguros ou eficientes. No entanto, alguns condutores preferem ignorar essas falhas. Na minha modesta opinião, existem clássicos razoavelmente potentes para acompanhar o ritmo de circulação actual e fiáveis o suficiente para serem usados ​​diariamente.

É por essa razão que hoje trago esta história. Era habitual encontrar diariamente um Citroën DSuper na minha universidade. Nunca soube quem era o dono até que um dia um amigo comentou que o dono era um estudante do nosso curso. Passados alguns meses o DSuper desapareceu, na mesma altura que um Toyota Celica ST começou a aparecer no campus, não era coincidência, pertenciam à mesma pessoa.

Segundo o Miguel, conduzir o Celica é como um ritual diário. Uma maneira de tornar a rotina um pouco mais especial. Chegar à garagem e admirar as linhas do automóvel todas as manhãs, esperar uns minutos para que atinja a temperatura operacional, os sons, os cheiros, o que cria uma experiência única impossível de encontrar num automóvel “normal” e recente.

O apetite por esse ritual surgiu na altura em que vendeu a moto. Viu-se obrigado a partilhar um automóvel moderno e tedioso com a sua mãe. O ódio em relação a esse automóvel era universal, ninguém na família gostava dele.

Como herdou o interesse por automóveis do seu pai, juntos conceberam um plano para substituir o automóvel odiado por algo mais interessante. A primeira geração do Celica era um dos modelos favoritos do pai, posto isso, procurar um era a opção mais natural.

No início foi difícil encontrar um, visto que existiam muito poucos à venda nessa altura. Após alguma procura e muita paciência conseguiram encontrar este exemplar. Restaurado pelo seu proprietário anterior, tem algumas modificações que se usavam na época. No início, estava bonito, mas tinha algumas falhas, depois de alguns ajustes e pequenos arranjos nas mãos de um mecânico especialista, tornou-se magnífico.

Desde então, tem sido apreciado diariamente, sobretudo nos dias chuvosos, quando traseira quer deslizar mais facilmente.

Desde a intervenção feita logo a seguir à compra, tem sido perfeitamente fiável, incrivelmente divertido, acima de tudo, faz sentido a cada vez que se senta ao volante.

No final das contas, os benefícios de utilizar um automóvel como este todos os dias superam as desvantagens. É divertido, cada pessoa que o encontra no caminho acha interessante. Segundo o Miguel, a única desvantagem é beber mais um pouco de gasolina do que um automóvel contemporâneo. Ainda assim, o facto de não existir desvalorização é mais que suficiente para cobrir a diferença dos custos de combustível.

É uma atitude louvável utilizar um automóvel destes diariamente, muitas pessoas não se atrevem a fazê-lo, é algo que apenas um verdadeiro entusiasta se dá ao trabalho de tentar. Quanto ao publico geral, agradeçam a pessoas assim, sem elas nunca teriam o prazer de ver um automóvel como este no quotidiano, a circular como se ainda estivéssemos em 1973, fora dos museus, colecções e encontros. Em cerca de 50 minutos sentados numa esplanada, a conversar sobre a história do automóvel, observei mais de dez pessoas a pararem para admirar o Celica e tirar fotos. Ninguém fica indiferente a um automóvel assim…

Um enorme obrigado ao Miguel Cancela por permitir fotografar o Celica e partilhar esta história. Mantêm-o impecável como está e continua a usá-lo como é suposto!

Conduz ou gostava de conduzir um automóvel clássico todos os dias?