Existe sempre aquela conversa de café que vai parar aos automóveis. Todas as vezes que alguém afirma que gostaria de comprar um automóvel clássico e usá-lo frequentemente, ouve-se do outro lado da mesa: “Ah isso só dá para usar ao fim-de-semana, gasta muito, só avaria, não é uma boa ideia tê-lo como o único automóvel!” – a meu ver é uma opinião parcialmente errada e desinformada.
A maioria das pessoas esquece o facto que os automóveis clássicos já foram novos. Se naquela época eles eram adequados para usar todos os dias, qual é o problema em fazê-lo agora?
Sim, não são tão seguros ou eficientes. No entanto, alguns condutores preferem ignorar essas falhas. Na minha modesta opinião, existem clássicos razoavelmente potentes para acompanhar o ritmo de circulação actual e fiáveis o suficiente para serem usados diariamente.
É por essa razão que hoje trago esta história. Era habitual encontrar diariamente um Citroën DSuper na minha universidade. Nunca soube quem era o dono até que um dia um amigo comentou que o dono era um estudante do nosso curso. Passados alguns meses o DSuper desapareceu, na mesma altura que um Toyota Celica ST começou a aparecer no campus, não era coincidência, pertenciam à mesma pessoa.
Segundo o Miguel, conduzir o Celica é como um ritual diário. Uma maneira de tornar a rotina um pouco mais especial. Chegar à garagem e admirar as linhas do automóvel todas as manhãs, esperar uns minutos para que atinja a temperatura operacional, os sons, os cheiros, o que cria uma experiência única impossível de encontrar num automóvel “normal” e recente.
O apetite por esse ritual surgiu na altura em que vendeu a moto. Viu-se obrigado a partilhar um automóvel moderno e tedioso com a sua mãe. O ódio em relação a esse automóvel era universal, ninguém na família gostava dele.
Como herdou o interesse por automóveis do seu pai, juntos conceberam um plano para substituir o automóvel odiado por algo mais interessante. A primeira geração do Celica era um dos modelos favoritos do pai, posto isso, procurar um era a opção mais natural.
Desde então, tem sido apreciado diariamente, sobretudo nos dias chuvosos, quando traseira quer deslizar mais facilmente.
Desde a intervenção feita logo a seguir à compra, tem sido perfeitamente fiável, incrivelmente divertido, acima de tudo, faz sentido a cada vez que se senta ao volante.
No final das contas, os benefícios de utilizar um automóvel como este todos os dias superam as desvantagens. É divertido, cada pessoa que o encontra no caminho acha interessante. Segundo o Miguel, a única desvantagem é beber mais um pouco de gasolina do que um automóvel contemporâneo. Ainda assim, o facto de não existir desvalorização é mais que suficiente para cobrir a diferença dos custos de combustível.
É uma atitude louvável utilizar um automóvel destes diariamente, muitas pessoas não se atrevem a fazê-lo, é algo que apenas um verdadeiro entusiasta se dá ao trabalho de tentar. Quanto ao publico geral, agradeçam a pessoas assim, sem elas nunca teriam o prazer de ver um automóvel como este no quotidiano, a circular como se ainda estivéssemos em 1973, fora dos museus, colecções e encontros. Em cerca de 50 minutos sentados numa esplanada, a conversar sobre a história do automóvel, observei mais de dez pessoas a pararem para admirar o Celica e tirar fotos. Ninguém fica indiferente a um automóvel assim…
Conduz ou gostava de conduzir um automóvel clássico todos os dias?