Os históricos Grupo B voltaram a animar as estradas nacionais

11/11/2019

Assumindo-se cada vez mais como uma prova apelativa no panorama dos grandes Rally-Legends europeus, ou seja, eventos que colocam os carros e pilotos de outros tempos em foco, o RallySpirit Altronix, já na sua quinta edição, ofereceu três dias de emoções fortes aos aficionados dos ralis, atraindo mais de 100 participantes, dentre os quais cerca de 30% oriundos de outros países e muitas máquinas potentes do Grupo B.

Com o destaque a recair nos espetaculares Grupo B, modelos de ralis que debitavam enormes quantidades de potência em meados da década de 1980, coube ao ex-campeão do Mundo de Ralis, Stig Blomqvist, uma grande fatia de protagonismo, não obstante os seus 73 anos de idade, ao pilotar novamente o Audi Sport Quattro S1, apenas um dos muitos carros históricos que ‘visitaram’ o Porto. Outros também brilharam, como o MG Metro 6R4, o Peugeot 205 Turbo 16 E2, os Lancia Stratos e 037, o Alpine A110 e o Renault 5 Turbo.. No plano desportivo, destaque para as vitórias de Pedro Leal/Isabel Ramalho (Mitsubishi Lancer Evo) na Categoria “Spirit” e Rui Salgado/Luís Godinho (Volkswagen Golf GTI) entre os “Históricos”.

Passados 35 anos do seu título mundial de ralis, Blomqvist voltou a estar aos comandos de um carro de ralis, com o sueco, no final do RallySpirit Altronix, a admitir que “foi muito bom regressar a Portugal e ver que nada mudou… só eu é que estou mais velho! A paixão pelos ralis mantém-se e os espectadores continuam a vibrar com este desporto, mas felizmente agora estão muito melhor comportados. Aliás, a organização está de parabéns pelo excelente trabalho realizado e pela escolha que fez do percurso, muito interessante e seletivo”.

O piloto não esconde que “voltar a guiar este Audi Sport Quattro S1 também é sempre um prazer. Noutros tempos, correr com ele contra o cronómetro era um enorme desafio e, hoje, mais de 30 anos depois, também continua a ser, mesmo que o ritmo seja, claro, mais lento. O gozo de guiá-lo num ambiente descontraído como o do RallySpirit, que tão bem se enquadra no espírito dos Rally-Legends atuais, só posso dizer que ainda é imenso!”.

Para Stig Blomqvist, esta curta viagem no tempo de três dias, em Portugal, também permitiu algumas reflexões relativamente à evolução dos ralis. Comparando os pilotos do seu tempo com os da atualidade, o sueco com 55 anos de carreira, refere que “os pilotos de hoje são também muito rápidos, mas têm muito melhores condições do que aquelas que tínhamos na década de 80. Penso que nunca saberão quais as dificuldades do que era fazer um troço como Arganil à noite, com nevoeiro e chuva, ou um rali com 700 quilómetros de troços cronometrados e com poucas horas de sono, com carros que não curvavam como os atuais e que tinham acelerações brutais. Mas é a normal curva do tempo e da evolução”.

A competição teve dez provas especiais que constituíram o esquema competitivo da prova da X-Racing, operacionalizada na estrada, pelo Clube Automóvel de Santo Tirso. Entre a dezena de classificativas disputadas, destacou-se a especial “Boucles Barcelos”, corrida de forma inédita em Portugal, e que, sem tempos cronometrados, permitiu espetáculo acrescido para o público entusiasta, que vibrou com as animadas perseguições entre os diversos concorrentes, numa aposta claramente ganha.

Competição até ao fim!

No capítulo desportivo, a prova reservou algumas surpresas para o último dia principalmente na Categoria “Spirit”. Depois de liderar na primeira etapa, a dupla espanhola Emilio Vazquez/Hector Rodriguez cedeu o comando a duas classificativas do final do rali, após problemas mecânicos no Citroën ZX Kit Car, que permitiu à dupla Pedro Leal/Isabel Ramalho, com o Mitsubishi Lancer Evo, herdarem uma vitória que, com enorme desportivismo, o piloto português fez questão de referir “pertencer à equipa espanhola no plano moral, embora já se saiba que os ralis estão sempre cheios de imponderáveis”.

Mesmo fora dos planos iniciais, até porque tinha apenas um único jogo de pneus disponível para toda a prova, Leal firmou o segundo triunfo na prova, (repetindo o êxito de 2017). Atrás da dupla do Mitsubishi, não faltou animação, com Gonçalo Figueiroa/José Janela, no Ford Escort MK II, a repetirem também o segundo lugar do ano passado e Armando Costa/Rui Raimundo, em Mitsubishi Lancer Evo, a terminarem no derradeiro lugar do pódio, depois de um toque e furo do também Mitsubishi Lancer Evo ter feito a dupla Jorge Marques/Ricardo Cunha cair da segunda para a quarta posição. No entanto, já depois de terminado o rally, a classificação final viria a ser alterada, com o derradeiro lugar do pódio a ser ‘devolvido’ à dupla Jorge Marques/Ricardo Cunha devido à penalização imposta à equipa Armando Costa/Rui Raimundo que, assim, desceu para a quarta posição.

Na Categoria “Históricos”, Rui Salgado e Luís Godinho não deixaram escapar a vitória no último dia, com o Volkswagen Golf GTI. Naquele que poderá ter sido o seu último rali, o piloto nortenho confessou que o segredo da vitória “esteve no andamento da primeira classificativa onde, com muita chuva, os adversários jogaram à defesa e eu arrisquei tudo, ganhando uma vantagem que consegui aumentar ainda até ao final do primeiro dia, para depois gerir no último”, acrescentando que se tratou “de um triunfo particularmente emocional pois ganhar um rali já é especial, fazê-lo frente a um plantel de luxo e num ambiente fantástico como o do RallySpirit torna tudo mais especial”. O pódio acabou preenchido por Rui Ribeiro/Pedro Fernandes, que levaram o Ford Escort MK I até ao segundo lugar, à frente dos espanhóis Julio Borja Saura/Juan Costas, cuja beleza do Porsche 911 SC também encantou o público.

No final do evento, a organização da X-Racing demonstrou-se bastante satisfeita. À chegada a Vila Nova de Gaia, Pedro Ortigão, da X Racing, referiu que “estamos muito satisfeitos com o assinalável crescimento face às edições anteriores, o que é extremamente positivo para evolução do RallySpirit. A presença dos míticos carros de Grupo B foi naturalmente a ‘cereja no topo de bolo’, mas estamos igualmente contentes por perceber que alguns dos principais animadores dos mais importantes Rally Legend europeus nos deram um feedback muito positivo relativo ao RallySpirit. É igualmente gratificante perceber na estrada que estamos a conseguir corresponder às expectativas do público, que muito nos acarinhou ao longo dos dias de prova e que é um dos pilares de sucesso deste rali. No fundo, tivemos o cenário perfeito para nos enquadrarmos nos melhores Rally-Legends europeus, mesmo sabendo que ainda temos um grande potencial de evolução e é nisso que vamos trabalhar já em 2019”.

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.